segunda-feira, 9 de março de 2020

UMA PREVISÃO DE POE?


 Carlos Éden Meira

Dentre suas magistrais obras, o poeta, criminologista e escritor norte-americano, Edgar Allan Poe escreveu o conto “A Máscara da Morte Escarlate”, onde citava o horror de uma epidemia medieval que vinha matando milhares de pessoas na Europa. Neste conto, o autor relata a história de um nobre que estava promovendo um baile de máscaras em seu castelo, ordenando que todos os portões fossem fechados, e só fossem permitidas as presenças de seus nobres súditos, acreditando que assim, evitaria a entrada de alguns pobres doentes contaminados pela peste, que morriam às centenas do lado de fora das muralhas do castelo. À meia noite, um estranho mascarado usando um capuz foi descoberto dançando no meio dos convidados, que repentinamente começavam a passar mal, e acabavam morrendo fulminados, por uma insólita e fantasmagórica virulência da peste, ali representada. De nada adiantaram os rígidos sistemas de segurança impostos pelo nobre senhor, e a peste matou a todos.
Não é nada difícil comparar o desespero dos personagens de Poe e das modernas organizações mundiais de saúde de primeiro mundo, com a proliferação do coronavírus. Durante anos, já se sabia da virulência das epidemias na Ásia e no continente africano, como no caso do Ebola, mas ainda pouco se sabe qual o meio eficaz para combatê-las. A África tem sido há séculos, um dos continentes mais explorados e maltratados do planeta, seu povo escravizado, e seus descendentes discriminados pelo mundo afora. Guerras internas, fome e miséria absoluta obrigam povos de vários países a emigrarem em busca de salvação em outras terras, legal ou ilegalmente. Raramente as portas do Primeiro Mundo lhes são abertas. Agora, com o coronavirus vindo da China a se espalhar, ameaçando todo o planeta, é que muitos países ricos sentindo-se vulneráveis, podem querer intensificar ainda mais, sua discriminação aos refugiados.
No entanto, cientistas do mundo inteiro trabalham desesperadamente, em busca de uma vacina ou medicamento para combater o perigoso vírus, tentando inclusive, mantê-lo fora dos “portais dos seus castelos”, mas o “encapuzado de máscara”, assim como no clássico conto de Edgar Allan Poe, acabou entrando na “fortaleza dos nobres”. Talvez ainda haja tempo para evitar que a epidemia chinesa se espalhe em maior escala por outros países, se houver uma união entre as nações que gastam milhões em suas caríssimas armas de guerra, convertendo o uso dessas fortunas em despesas para ajudar maciçamente os povos, em pesquisas científicas. Não somente na luta contra o coronavirus, mas, em campanhas sociais, educativas e desenvolvimentistas, que possam modificar radicalmente a triste realidade dos países mais atrasados, salvando assim, milhões de vidas.

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