sábado, 22 de fevereiro de 2020

O Sargento

   Charles Meira

            Depois de saírem de uma festa às duas horas da manhã no clube Euterpe, em Feira de Santana, Osmar e mais dois amigos entraram num restaurante em frente do local. Como estava com muita fome, sentaram a uma mesa e pediram uma galinha ao molho pardo. O Garçom solicitado respondeu que não tinha aquela especialidade. Então perguntaram o que era servido. Depois de analisarem as opções, pediram bife. Antes de o garçom trazer o bife, sentou-se à mesa vizinha, um senhor vestido de paletó branco e gravata. O Mesmo garçom atendeu ao homem, que pediu também uma galinha ao molho pardo. Osmar ouviu o pedido do vizinho, comentou com os colegas e falou para ficarem calados, aguardando o que aconteceria. Primeiro o garçom serviu o bife que eles pediram.  Não demorou, trouxe a galinha pedida pelo homem. Osmar chamou o garçom com toda “delicadeza” e perguntou: seu filho da puta, o dinheiro deste cavalheiro é melhor do que o meu? Osmar nem esperou a resposta do garçom. Tirou o punhal que estava na cintura e fincou no bife servido. O prato quebrou, o bife voou longe e o punhal ficou fincado na mesa. O homem que estava sentado à mesa levantou e aproximando-se falou: O cavaleiro faça o favor de guardar este punhal. Osmar falou para o homem que queria saber com quem estava falando. O homem tirou do bolso uma carteira e mostrou para Osmar. Ele leu atentamente e certificou-se de que o homem identificado chamava-se Dival, sargento do destacamento de Feira de Santana. Então Osmar respondeu: sargento, o senhor é muito educado, por isso vou guardar o punhal. Ao mesmo tempo em que falava, retirou o punhal que estava fincado na mesa, porém continuou com ele na mão. O sargento chegou perto dele e falou baixinho: guarda logo o punhal ou então vou tomá-lo. Ironizando a atitude da autoridade voltou a responder: sargento, o senhor está criando muito caso, por isso não vou guardar o punhal, e tem mais, consiga mais uns quatro meganhas, porque sozinho o senhor não toma. Cumprindo o que havia falado, o sargento segurou na mão de Osmar na tentativa de retirar a arma. Rapidamente Osmar levantou e virou a mesa, derrubando tudo em cima do policial. Seus amigos, o garçom, o dono do restaurante e presentes intervieram e conseguiram separar os brigões. Quando tudo estava aparentemente calmo, falaram para o sargento que Osmar era uma pessoa direita, não gostava de brigas, arruaças e nem de desrespeitar as autoridades. Depois os amigos levaram Osmar para a república onde morava. Como precaução o deixou trancado, com a promessa de soltá-lo no outro dia. Depois que os amigos saíram, Osmar consegui abrir uma janela do quarto que os amigos não viram e retornou para o restaurante, deixando o punhal e levando um revólver Colt “Cavalinho”, calibre 38. Chegando ao recinto, sentou-se à uma mesa que ficava próxima a do sargento. Pediu uma cerveja e depois se dirigiu para o policial e falou: sargento, quando eu falei que o senhor não tomava o punhal estava com os colegas, agora eu estou só, não mais com o punhal e sim com um revólver. Se o senhor não foi homem para tomar o punhal, não será também para tomar o revólver. Osmar ainda propôs ao sargento que fossem resolver a questão fora do recinto, mas não teve resposta.  A nova discussão foi ficando muito acirrada com ofensas dos dois lados. Naquele instante houve uma nova intervenção dos presentes e depois de muita conversa os ânimos foram acalmados e conseguiram novamente levar Osmar para a república. Desta vez ele deu-se por vencido e foi dormir.

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