quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A interação homem-animal: o que dizer?

Oscar Vitorino Moreira Mendes
Resultado de imagem para Oscar Vitorino Moreira Mendes Méd. Vet. e Prof. Aposentado da UESB

Ao longo de sua história civilizatória, o homem travou uma constante luta com a natureza, em busca de sobrevivência da espécie, resistindo a toda forma de hostilidade que o espaço oferecia, como secas, temporais, ventanias, etc. Dessa forma, para sobreviver, a espécie humana necessitou de uma imperiosa ajuda, que foi a prestada pelos animais. Sua domesticação pelo homem há seis mil anos, foi um processo muito sofrido, em que os animais, ao oferecer alimento, vestuário, proteção e transporte, eram tratados como meros objetos de apropriação, inclusive considerados como moedas de troca e bens de consumo nas civilizações da Antiguidade, como Roma, enquanto em outras eram os animais idolatrados como se fossem deuses, possuíam uma força simbólica grandiosa e eram considerados divinos, como acontece em alguns países ainda nos dias de hoje a exemplo da Índia, local em que a vaca é considerada um animal sagrado.
No começo, a relação animal x humano era apenas por necessidade: os cães vigiavam aldeias, ajudavam a caçar e pastorear; gatos eram bem-vindos por exterminar ratos e outras pragas; os pássaros alegravam as casas; os bovinos serviam como meio de locomoção e os demais animais eram para consumo alimentar ou contribuíam para a produção de outros alimentos. Com o tempo, cães, gatos e aves passaram a se aproximar dos homens, que tinham comida em abundância e a ofereciam aos animais, desencadeando na domesticação destes, que deixavam de ser selvagens. Essa aproximação proporcionou conforto e segurança aos animais, porém, acarretou na perda de espaço para atividades físicas e comprometimento da convivência em grupo, o que, segundo especialistas, tornam os animais cada vez mais diferentes de seus ancestrais selvagens.
Há séculos que os animais vêm servindo aos mais diversificados interesses humanos, sobretudo naquelas atividades tidas como lúdicas ou culturais. Tal fato é uma das conseqüências da lei do mais forte. Com o passar do tempo alguns bichos começaram a ser domesticados, e hoje, alguns deles, por incrível que pareça, já são
até considerados membros da família. Comprovadamente, os animais humanos e não-humanos possuem características em comum, ainda que desenvolvidas em diferentes graus e de acordo com cada espécie. Mas todos são portadores de instintos e de certas finalidades como a sobrevivência e a procriação; possuem noção de autoridade, bem como interação e comunicação.
O lado positivo desta relação baseia-se na companhia, na diversão, na redução de tensão e também o animal atua como facilitador social, agregando pessoas, diminuindo assim o isolamento de indivíduos, especialmente nas grandes cidades, em que as relações sociais encontram-se cada vez menos favoráveis entre os humanos. Os animais são como nós, mas, ao mesmo tempo, muito diferentes. Atualmente, eles passaram a ser considerados pelas famílias que os adotam como um “integrante” do grupo e, segundo a etologia (estudo do comportamento animal), é assim mesmo que eles se sentem. Com isso, é notório como aumenta o número de lares que incorporam como co-habitantes seres de outras espécies que não a humana: cães, gatos, iguanas, hamstes, pássaros, peixes, serpentes, entre outros. Mas ao mesmo tempo, não podemos deixar de mencionar alguns aspectos do comportamento animal, importantes para a sua existência: os animais precisam gastar suas energias, correr e brincar, uns mais que os outros, mas quando os donos não passeiam com seus animais e também não oferecem um espaço adequado, os bichinhos ficam tristes, não querem mais comer, e até chegam a ficar doentes, e seus donos não entendem o porquê.
Em contrapartida, mesmo no atual século XXI, quando se pressupõe uma maior coerência e sensatez nas atitudes do homem, o que se vê ainda é uma realidade às vezes cruel traduzida em uma crise constatação, a exemplo dos massacres das capivaras, dos bebês-focas, as rinhas de galo e de canário, as touradas, a farra do boi, tráfico de animais, e tantos outros episódios repudiáveis. Ressalta-se, contudo, que a relação homem-animal não deve substituir a relação homem-homem. O cão não pode substituir um filho ou marido, mas segundo os especialistas, pode ensinar como agir em nossos relacionamentos. Por outro lado, os animais, devido ao
processo de domesticação deixam de viver sua verdadeira biologia, alterando hábitos de convívio com outros indivíduos da mesma espécie: caçar para comer, atividades reprodutivas, etc.
Agora, com essa relação tão especial fica fácil cometer exageros de mimos e desejar que seu bichinho seja como você, um humano! Muitos são os acessórios disponíveis no mercado para animais: roupinhas de todos os modelos, brinquedos como pelúcias, lacinhos, gravatinhas e por aí vai, numa demonstração de que os animais estão cada vez mais “humanizados”. Mas todo animal tem sua personalidade, que é caracterizada pela sua raça, por isso existem diferenças de comportamento que devem ser respeitadas. “Não podemos criar um cão da raça Poodle como se fosse um Pitbull, e vice-versa, pois estaríamos renegando sua personalidade e impondo outra a eles. Não cabe ao homem, querer alterar a personalidade dos bichos, tratá-los como humanos e transformá-los conforme a sua vontade, pois podem acabar com os seus instintos, e isso não é bom.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, o Brasil é o quarto país com a maior população de animais do mundo - cerca de 106 milhões, ficando atrás da China, Estados Unidos e Reino Unido (Abinpet, 2014), e é o segundo maior país no mercado de pets, perdendo somente para Estados Unidos (Walsh, 2009). Enfim, a aproximação no relacionamento homem e animal está resultando em mudanças diretas na vida de ambas as partes, mas isso não significa que a convivência harmônica não é possível. Se os animais dependem dos humanos hoje, é devido à necessidade que os humanos têm de conviver com esses seres capazes de amar e sofrer e que trazem benefícios à vida de muitos, proporcionando grande vínculo afetivo.
“A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem”. Arthur Schopenhauer
Oscar Vitorino Moreira Mendes
Méd. Vet. e Prof. Aposentado da UESB E-mail: oscarvitorino@yahoo.com.br
Ao longo de sua história civilizatória, o homem travou uma constante luta com a natureza, em busca de sobrevivência da espécie, resistindo a toda forma de hostilidade que o espaço oferecia, como secas, temporais, ventanias, etc. Dessa forma, para sobreviver, a espécie humana necessitou de uma imperiosa ajuda, que foi a prestada pelos animais. Sua domesticação pelo homem há seis mil anos, foi um processo muito sofrido, em que os animais, ao oferecer alimento, vestuário, proteção e transporte, eram tratados como meros objetos de apropriação, inclusive considerados como moedas de troca e bens de consumo nas civilizações da Antiguidade, como Roma, enquanto em outras eram os animais idolatrados como se fossem deuses, possuíam uma força simbólica grandiosa e eram considerados divinos, como acontece em alguns países ainda nos dias de hoje a exemplo da Índia, local em que a vaca é considerada um animal sagrado.
No começo, a relação animal x humano era apenas por necessidade: os cães vigiavam aldeias, ajudavam a caçar e pastorear; gatos eram bem-vindos por exterminar ratos e outras pragas; os pássaros alegravam as casas; os bovinos serviam como meio de locomoção e os demais animais eram para consumo alimentar ou contribuíam para a produção de outros alimentos. Com o tempo, cães, gatos e aves passaram a se aproximar dos homens, que tinham comida em abundância e a ofereciam aos animais, desencadeando na domesticação destes, que deixavam de ser selvagens. Essa aproximação proporcionou conforto e segurança aos animais, porém, acarretou na perda de espaço para atividades físicas e comprometimento da convivência em grupo, o que, segundo especialistas, tornam os animais cada vez mais diferentes de seus ancestrais selvagens.
Há séculos que os animais vêm servindo aos mais diversificados interesses humanos, sobretudo naquelas atividades tidas como lúdicas ou culturais. Tal fato é uma das conseqüências da lei do mais forte. Com o passar do tempo alguns bichos começaram a ser domesticados, e hoje, alguns deles, por incrível que pareça, já são
até considerados membros da família. Comprovadamente, os animais humanos e não-humanos possuem características em comum, ainda que desenvolvidas em diferentes graus e de acordo com cada espécie. Mas todos são portadores de instintos e de certas finalidades como a sobrevivência e a procriação; possuem noção de autoridade, bem como interação e comunicação.
O lado positivo desta relação baseia-se na companhia, na diversão, na redução de tensão e também o animal atua como facilitador social, agregando pessoas, diminuindo assim o isolamento de indivíduos, especialmente nas grandes cidades, em que as relações sociais encontram-se cada vez menos favoráveis entre os humanos. Os animais são como nós, mas, ao mesmo tempo, muito diferentes. Atualmente, eles passaram a ser considerados pelas famílias que os adotam como um “integrante” do grupo e, segundo a etologia (estudo do comportamento animal), é assim mesmo que eles se sentem. Com isso, é notório como aumenta o número de lares que incorporam como co-habitantes seres de outras espécies que não a humana: cães, gatos, iguanas, hamstes, pássaros, peixes, serpentes, entre outros. Mas ao mesmo tempo, não podemos deixar de mencionar alguns aspectos do comportamento animal, importantes para a sua existência: os animais precisam gastar suas energias, correr e brincar, uns mais que os outros, mas quando os donos não passeiam com seus animais e também não oferecem um espaço adequado, os bichinhos ficam tristes, não querem mais comer, e até chegam a ficar doentes, e seus donos não entendem o porquê.
Em contrapartida, mesmo no atual século XXI, quando se pressupõe uma maior coerência e sensatez nas atitudes do homem, o que se vê ainda é uma realidade às vezes cruel traduzida em uma crise constatação, a exemplo dos massacres das capivaras, dos bebês-focas, as rinhas de galo e de canário, as touradas, a farra do boi, tráfico de animais, e tantos outros episódios repudiáveis. Ressalta-se, contudo, que a relação homem-animal não deve substituir a relação homem-homem. O cão não pode substituir um filho ou marido, mas segundo os especialistas, pode ensinar como agir em nossos relacionamentos. Por outro lado, os animais, devido ao
processo de domesticação deixam de viver sua verdadeira biologia, alterando hábitos de convívio com outros indivíduos da mesma espécie: caçar para comer, atividades reprodutivas, etc.
Agora, com essa relação tão especial fica fácil cometer exageros de mimos e desejar que seu bichinho seja como você, um humano! Muitos são os acessórios disponíveis no mercado para animais: roupinhas de todos os modelos, brinquedos como pelúcias, lacinhos, gravatinhas e por aí vai, numa demonstração de que os animais estão cada vez mais “humanizados”. Mas todo animal tem sua personalidade, que é caracterizada pela sua raça, por isso existem diferenças de comportamento que devem ser respeitadas. “Não podemos criar um cão da raça Poodle como se fosse um Pitbull, e vice-versa, pois estaríamos renegando sua personalidade e impondo outra a eles. Não cabe ao homem, querer alterar a personalidade dos bichos, tratá-los como humanos e transformá-los conforme a sua vontade, pois podem acabar com os seus instintos, e isso não é bom.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, o Brasil é o quarto país com a maior população de animais do mundo - cerca de 106 milhões, ficando atrás da China, Estados Unidos e Reino Unido (Abinpet, 2014), e é o segundo maior país no mercado de pets, perdendo somente para Estados Unidos (Walsh, 2009). Enfim, a aproximação no relacionamento homem e animal está resultando em mudanças diretas na vida de ambas as partes, mas isso não significa que a convivência harmônica não é possível. Se os animais dependem dos humanos hoje, é devido à necessidade que os humanos têm de conviver com esses seres capazes de amar e sofrer e que trazem benefícios à vida de muitos, proporcionando grande vínculo afetivo.
“A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem”. (Arthur Schopenhauer) 
(Oscar Vitorino Moreira Mendes - Méd. Vet. e Prof. Aposentado da UESB - E-mail: oscarvitorino@yahoo.com.br)

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