terça-feira, 17 de setembro de 2019

“Guris e Gibis” - João Batista Pessoa.


PREFÁCIO
Carlos Eden Meira

A princípio, pode-se deduzir pelo título “Guris e Gibis”, que o tema aqui se refere às histórias em quadrinhos. Entretanto, trata-se de um trabalho voltado para reminiscências de João Batista Pessoa, em sua infância passada na Jequié dos anos 50. Conforme ele mesmo diz, o ano de 1954 foi o que ele achou melhor para ambientar o cenário de suas lembranças, numa mistura de fatos históricos ou não, com casos fictícios.
Muitos dos assuntos não históricos aqui narrados podem ter acontecido em anos posteriores a 1954, mas o autor os incluiu neste citado ano, como numa “máquina do tempo” em que o tempo vai e volta, sem que a cronologia alterada interfira na narrativa, já que muitos dos personagens, nesses casos, têm seus nomes mudados, sendo usados pseudônimos. Inclusive o nome do personagem principal, Johnny the Kid, que representa o autor, o qual diz não se tratar de um tema autobiográfico, ainda que este elemento seja percebido ao longo da narrativa.
É uma obra infanto-juvenil contando casos vividos pelo autor durante sua infância e pré-adolescência, brincadeiras, festas populares, brigas de rua e namoros, onde a presença das garotas, coleguinhas de escola, povoa as páginas em momentos repletos de romantismo juvenil. Alguns personagens citados têm seus nomes verdadeiros preservados, sendo eles: professores, políticos ou profissionais conhecidos na cidade e que eram simpáticos ao autor. Enfim, trata-se de uma obra que, conforme o autor, não tem nenhuma pretensão que não seja apenas de relembrar uma época por ele considerada como a mais feliz de sua vida.

INTRODUÇÃO
João Batista Pessoa.

Guris e Gibis é o título de um livro, o qual retrata um período especial em nossa cidade. Foi idealizado como uma história de amor entre dois pré-adolescentes, numa época em que os costumes sofriam a lenta evolução provinciana dos acontecimentos globais. É um romance linear, que procurou captar a essência etérea de tempos idos. Foi escrito sem pretensões acadêmicas, dentro de uma narrativa realista, condizendo com o linguajar popular de então, cujo estilo se aproxima a dos contadores de estórias.
Alguns dos personagens aparecem com seus nomes verdadeiros. São homenagens do autor a pessoas queridas, muitas das quais esquecidas pelo tempo. Contudo, essas pessoas notáveis aparecem de forma narrativa, salvo em algumas exceções. Os diálogos foram restritos à meninada, cujas idades variam dos nove aos dezoito anos. Foram inspirados em jovens inteligentes, cujas precocidades podem parecer estranhas nos tempos atuais.
A época em que são retratados os acontecimentos, os quais formam o enredo desse romance, é considerada por muitos, como o ano que marca de maneira definida, as duas metades do século XX. 1954 foi um ano de acontecimentos singulares na história política e social brasileira. Embora a televisão já tivesse sido inaugurada no Brasil (1950), foi dar o ar de sua graça no território baiano no final de 1960. Nos anos 50 predominava, ainda, a Era do Rádio e aqui em Jequié, foi inaugurada uma emissora de ondas médias, a “Radio Bahiana de Jequié”, a qual foi bastante produtiva, abrangendo os interesses de todo o município.
As palavras guris e gibis significavam dentro do linguajar clássico do idioma português, garotos brancos e negros. Não havia, ainda, entre nós, o famigerado politicamente correto. Tanto assim que, duas das principais revistas de histórias em quadrinhos brasileiras eram nomeadas de “O Guri”, a qual foi lançada nos anos 40 pela Editora O Cruzeiro e o “Gibi Mensal”, editada pela Rio Gráfica Editora. Esta revista tinha como logotipo, um gibizinho de calças curtas, sorrindo e apresentando, em desenho caricatural, a revista. As palavras Guris e Gibis acabaram tornando-se sinônimas das histórias em quadrinhos, na maior parte do território nacional.
Os principais personagens do romance foram inspirados em amigos e companheiros do autor. Muitos deles eram crianças no ano em que se passam os acontecimentos, sendo que alguns, sequer haviam nascido. Eram garotos e garotas de precocidades admiráveis, os quais abordavam temas, que se tornaram comuns em décadas posteriores.
A “estrela” principal do livro é a própria época! Um tempo em que Jequié tinha um status mais importante do que hoje entre as cidades baianas. Cortava a cidade a Rodovia Rio - Bahia, mais tarde denominada de BR-116; a Estrada de Ferro Nazaré, com serviço de carga e passageiros; além de dois voos diários, pelas empresas aéreas, a Real e a Nacional. Um período em que as festas cívicas, religiosas e populares imperavam, trazendo lazer e satisfações à população Jequieense. Era a época das grandes soirées, matinês e matinais nos cinemas da cidade, onde a meninada se encantava com os filmes de “mocinhos & bandidos” e seus famosos seriados, além das famosas tertúlias dominicais no Teatro da casa Paroquial.
Boa leitura a todos, e perdoem a nossa pretensão!

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