quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O Teatro da Casa Paroquial.

                             J. B. Pessoa.

As gerações do passado relembram com saudades os tempos das famosas tertúlias, que o Teatro da Casa Paroquial apresentava aos domingos à sociedade Jequieense. Destruído na década de 80, para abrigar um salão de festas, essa magnífica sala de espetáculos foi o palco de belíssimas apresentações, as quais marcaram época e ficaram na memória dos amantes das artes cênicas em nossa cidade. Construído no início da segunda metade do século XX, tinha as características naturais de um pequeno teatro e foi arquitetado em toda a parte térrea da casa paroquial da igreja matriz. Possuía uma ampla sala, com vários ventiladores e era dotada de poltronas aconchegantes, que abrigavam seus espectadores com segurança e conforto. Com janelas e saídas nas partes laterais, possuía um espaçoso pátio em sua entrada, onde as pessoas se reuniam para os comentários de praxe, depois uma matinê ou uma soirée nas suas famosas apresentações.
Após a inauguração do Teatro da Casa Paroquial pelo Padre Climério de Andrade, as tardes de domingo foram enriquecidas com as representações de peças teatrais, declames de poesias e concertos de piano, violões, acordeons, entre outras atividades artísticas; como também apresentações de cantores infantis e juvenis e, às vezes, até adultos famosos na sessão dos “valores da terra”. Eram as famosas tertúlias dominicais, as quais começavam após as sessões das matinês dos cinemas da cidade. Com o aparecimento dessa magnífica sala de espetáculo surgiu o teatro infantil, que contou com as participações de diversas escolas primárias. Uma das educadoras que mais incentivaram as crianças nessa época, foi à professora Helenita Costa Brito, criadora do “Circo Infantil” no ano de 1958. Nas dependências do teatro eram realizadas as convenções religiosas, como também as formaturas das escolas primárias e diversos eventos escolares.
Quando, no princípio do ano de 1964, a famosa Caravana da Cultura do Governo João Goulart esteve em nossa cidade, foi bem recebida pela população jequieense, a qual assistiu com exultação, os seus eventos e manifestações culturais. Houve conferências e exposições de artes plásticas nos principais locais públicos da cidade, mostras das artes rítmicas e cênicas no Cine Teatro Jequié, tendo as suas peças infantis encenadas no Teatro da Casa Paroquial, o qual teve as suas dependências elogiadas pelos artistas profissionais do Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente pelo famoso ator Sergio Cardoso
A vinda da Caravana da Cultura em Jequié influenciou uma geração de jovens que, partindo de suas ideias, movimentou a cidade, despertando-a para uma vida cultural mais dinâmica. O jovem Robinson Roberto em contato com intelectuais e artistas do Sul do País criou um grupo de teatro com os alunos dos colégios da cidade e, juntamente com alguns cidadãos jequieenses, fundou o Clube de Cinema de Jequié no ano de 1964, o qual funcionou no Teatro da Casa Paroquial até 1972. Outros jovens, também influenciados pela Caravana da
Cultura, criaram grupos teatrais, tendo o Teatro da Casa Paroquial como o principal palco de suas montagens.
O Teatro da Casa Paroquial não mais existe devido os descasos ou a falta de visão de religiosos, os quais, vindos de outras paragens, atuam obedecendo a regras paradoxais e não nutrem o mesmo amor dos nativos pelos patrimônios locais.

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