domingo, 11 de agosto de 2019

DIVAGANDO DEVAGAR NO DIVÃ

                            Carlos Eden Meira

(Conforme anotações encontradas no diário do analista Dr. Segismundo “Fróide”, sobre a narrativa de um cliente, durante exame.)

“A cabeceira da cama saiu pela vidraça cor de morango, levando no bolso do pijama uma mandrágora deprimida. Uma bruxuleante alvorada octogonal azul-laranja escorria pelas paredes do quarto - minguante, com um aroma de marshmallow anêmico, enquanto pernilongos de papel crepom chupavam mangas rosa - choque torturadas, quando a madrugada chegou e o sereno caiu, ferindo o joelho esquerdo. Vomitando verbos e engolindo verbas, os macacos-prego no quintal se exibiam, martelando-se mutuamente. Empoleirados em Avignon, aviões, aves raras, rarefeitas e desfeitas inutiplicaram-se em bilhões de partículas e jujubas coloridas. Em Madagascar, jumentos vítreos madagascavam fumo de corda de violoncelos paranoicos da Orquestra Sinfônica de Yabba Dabba Dubai, executando a tiros de garruchas hipertrofiadas, a Nonagésima Sanfonia dos Beatlehovens.
Tropecei no fio de um microfone afônico, sem fio, e me deixei levar pela visão voluptuosa das Naftalinas e Bromélias que passeavam nuas nas bordas das taças pintadas e bordadas a mão e contramão, com motivos corporais desmotivados. Um cheiro forte e ácido de campainhas azuis desbotadas pairava num insólito ar marinho, vindo do baú do dono do armarinho de quinquilharias que subia apressado a Ladeira da Balança, balançando a pança, sonhando torrentes de camarões suburbanos, elevadas à quinta potessência. No umbigo da razão flatulenta, kamikazes do sexo abraçavam-se em becos e vielas de diversas racionalidades, pondo logaritmos em folia na crista da onda, ao longo de um rio de lamacentas e malcheirosas contas. Assim e assado (e talvez cozido), dezenas de centauros e cabras-da-peste, brutos que também mamam, confraternizaram-se mergulhados em banheiras olímpicas, comendo paçoca de tanajuras torradas ao som do bar e à luz do sol confuso.
Manadas de escrivaninhas esquizofrênicas regurgitavam tamborins de pele de gatos de madame, iluminados ao som de um novo bumbo. Eis que surge um Solesmãe gentil, tanto quanto a Terra Margarida, cantando pororocas e piracemas em sol menor do que tamborete de botequim, enquanto esmagava percevejos de luz em azulejos de sombra. Saiu assim, cuspindo papiros e pergaminhos, subindo a Rua do Maracujá, montado num dromedário elegante, cantando blues em javanês. Um bom samaritano e um bom disco de Noel conversavam na Praça da Bandeira, observando cavalos de Troia que pastavam alucinadamente, deglutindo celulares com gergelim e pimenta-de-cheiro. Calcanhares de Judas e de Aquiles munidos de saboneteiras vitorianas soltavam retumbantes mandrakes ao vento, espantando os maus espinafres e almas depenadas que sobrevoavam, sombreavam e assombravam o campo de adivinhação. Uma frota de Alexandre, ‘O Grande Cacetóide’ zurrava poluições energumenáuticas, pobrescurecendo as ondas curtas, médias, longas, compridas e comprimidas da Terra Marear Azul, aborrecendo o Heroicubrado e emburrecendo jumentóides voluntatrelados às Antas Antagônicas.”

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