quarta-feira, 17 de julho de 2019

Morre Vaqueiro, torcedor símbolo da ADJ.

Registramos com pesar o falecimento nesta quarta-feira (17), do funcionário público estadual e desportista Argeu Porto Magalhães “Vaqueiro”, torcedor símbolo da Associação Desportiva Jequié-ADJ. Torcedor apaixonado do Vasco da Gama, era empunhando a bandeira da ADJ ou comandando o espocar dos fogos de artifício na entrada da equipe em campo que “Vaqueiro” dava demonstrações do seu amor com a equipe de futebol profissional de Jequié. Na temporada de 2017, com o retorno da ADJ à Primeira Divisão do Campeonato Baiano, ele disse estar também “aposentando-se” por questões de saúde de acompanhar a equipe. O corpo do desportista está sendo velado na Pax Internacional, para sepultamento na quinta (18) em horário e cemitério ainda a serem confirmados por familiares. (Jequié Repórter)


“Vaqueiro”, o Torcedor Símbolo da Associação Desportiva Jequié.


                                                                                                       Charles Meira 

Argeo Magalhães (Vaqueiro) e Charles Meira
Homenagem da A. D. Jequié a Argeo Magalhães (Vaqueiro).
No dia 26 de fevereiro, Waldemir Vidal, Edísio Santana, Marli Silva e Charles Meira, fizeram uma visita a Argeo Magalhães (Vaqueiro) na sua residência para falar sobre a Associação Desportiva Jequié.  Depois de um longo bate-papo, foi marcada outra visita para o dia 01/03 ás 9h, devido ser necessário um período maior de tempo para entrevistá-lo. No dia e horário marcado, somente Charles Meira compareceu para fazer a matéria desejada.

Waldemir Vidal, Argeo (Vaqueiro), Edísio Santana e Marli Silva.
Argeo Porto Magalhães nasceu na cidade de Jequié – BA em 06/10 /1940. Filho do Caminhoneiro Almerindo Dantas Magalhães e Maura Porto Magalhães, que nasceram em Jequié e morreram em Salvador - BA. Casou-se com Dayse Santos Magalhães em setembro de 1965 no município de Jequié, com quem teve 03 filhos, que lhe deram 06 netos. O seu primeiro emprego foi na Rodoviária Estrela do Norte no Rio de Janeiro – RJ, exercendo o cargo de técnico Administrativo e aposentou-se na mesma função na Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (DIRES) em Jequié – BA no ano de 2002.

O Vascaino Argeo Magalhães (Vaqueiro).
No início da entrevista Argeo confidenciou que no dia que ele nasceu sua mãe disse: “amor o menino tem o saco preto e vai torcer pelo Vasco da Gama”. Cumpriram-se as palavras de Dona Maura e durante a idade de criança e de adolescente, Argeo foi somente torcedor deste time de futebol.

Argeo em pé e seu irmão sentado.
Em pé: Idael Quadros, Regina Maria (Madrinha) e Luiz. Agachados: Argeo, Ubirajara e Carlos no Colégio 2 de Julho em Salvador – BA.
Em 1969, com vinte e nove anos de idade, quando da realização de um jogo do Campeonato Intermunicipal de Futebol no Estádio Aníbal Brito entre a Seleção de Jequié 1 X 0 Seleção de Cachoeira, Argeo começou a torcer também pela seleção da sua cidade. Nesta época Argeo criou um instrumento para torcer chamado de “Matraca”, porém como não pode levar para torcer em Salvador, deixou de utilizá-lo. No dia 20 de outubro de 1969 Argeo estava na inauguração do estádio Waldomiro Borges, quando no jogo preliminar a Seleção de Jequié venceu por 3 X 0 a Seleção de Vitória da Conquista e o atacante Dilermando marcou o primeiro gol do estádio. No jogo principal o resultado foi Fluminense de Feira 0 X 0 Bangu do Rio de Janeiro.
Também contagiado com a vitória da nossa seleção, participou no dia 20 novembro de 1969 da reunião no Rotary de Jequié, junto com diversos abnegados do nosso futebol amador, que fundou o time de Jequié com o nome de Associação Desportiva Jequié e escolheu também as cores: Azul, Amarelo e Branco da sua camisa. “Argeo relatou que dos participantes da reunião somente ele e Evandro Lopes estão vivos.
 Com a profissionalização do time e a participação no Campeonato Baiano de Futebol no ano de 1970, Argeo passou a torcer pelo Jequié. Como torcedor, acompanhou o time em todos os jogos realizados no campeonato.

Fotografo Aroldo no Estádio Aníbal Brito lotado, jogo Seleção de Jequié 1 X 0 Seleção de Cachoeira em 1969. 
 Fez questão de contar primeiramente um episódio que ocorreu quando da realização de um destes jogos, que marcaria a vida dele como torcedor do Jequié. O fato aconteceu em uma partida na cidade de Jacobina. A torcida local começou a ofender a cidade de Jequié, chamando de terra de Bode, Boi, Vaca, onde somente tinha vaqueiro. Como na ocasião Argeo era o único torcedor do Jequié na arquibancada, inclusive com a sua inseparável bandeira, direcionaram para ele em coro as ofensas dizendo: “olha lá o vaqueiro, olha lá o vaqueiro”. Quando da viagem de retorno para Jequié os jogadores do Jequié: Maneca, Maíca, Zé Augusto, Dilermando e Tufu, que ouviram os xingamentos da torcida de Jacobina, começaram também a chamá-lo de “Vaqueiro”. Devido o fato corrido na cidade de Jacobina-BA, Argeo é conhecido hoje em Jequié, na Bahia, no Brasil e no mundo como “Vaqueiro de Jequié”.

Cada dia mais envolvido com o Jequié, “Vaqueiro” aprendeu também com um torcedor do Galícia no estádio da Fonte Nova em Salvador a colocar fogos de artifício. Com a colaboração de amigos, conseguia arrecadar o dinheiro para comprar os fogos. Quando não arrumava comprava com seu dinheiro, mas não faltava nos jogos realizados em Jequié, a tradicional rajada de fogos, quando o Jequié entrava em campo. E relacionado a este assunto contou que em um jogo contra o Bahia em Jequié, colocou fogos de uma bandeira de escanteio até a outra. No momento que tocou fogo, o gramado que estava seco também foi atingido e somente com a ajuda dos jogadores as chamas foram apagadas. 

Osvaldo Batista e Argeo Magalhães (Vaqueiro).
Sempre sorridente e bem humorado “Vaqueiro” falou de outro caso inusitado que sucedeu em um jogo entre Jequié 2 x 1 Bahia no Waldomirão. Na oportunidade, o juiz ficou preso em uma das dependências do estádio até depois da meia-noite, protegido pela Polícia Militar, porque a torcida do Jequié queria pegá-lo, devido o longo desconto concedido no final do jogo e como o campo não tinha iluminação, tudo estava escuro, não dava nem para enxergar a bola. O que levou torcida do Jequié pensar que o juiz queria que o Bahia empatasse o jogo.

Caricatura de Ageo Magalhães (Vaqueiro)
“Vaqueiro”, torcedor apaixonado, pensava em tudo para animar os torcedores e o time do Jequié. Com esse intuito, fundou a T.O.J (Torcida Organizada do Jequié), que tinha uma charanga e era comandada por Calango, com os instrumentos comprados pelo seu fundador. Outra estratégia utilizada pelo torcedor símbolo do Jequié era carregar e correr de um lado para o outro da arquibancada com sua bandeira que sempre teve o mesmo padrão, contendo nela um bode, um sol, o nome Jequié e as letras A.D.J, animando a torcida. Para enfeitar o estádio nos dias dos jogos do Jequié, em 2015 mandou fazer com seu dinheiro uma faixa medindo trinta metros de comprimento, contendo o nome da torcida organizada T.O.J. Para não ficar faltando nada em um time de futebol, “Vaqueiro” idealizou também um concurso para escolher o hino oficial do time do Jequié em parceria com o programa “Falando de Esportes” da FM Cidade Sol 94,9. Foi sugerido aos participantes que a letra teria que falar especialmente do Rio de Contas, do bairro e da pedra do Curral Novo, Barragem de Pedras e do Jequié. Na divulgação do resultado foi acordado pela comissão julgadora em fazer uma junção de frases das letras apresentadas pelos torcedores: Argeo, Grande e João Mendes. A melodia e o arranjo da música foram feitos por Rose & Banda e na gravação cantaram Wando Pereira e Rose & Banda. O hino oficial do Jequié foi aceito e aprovado em reunião de diretoria.

Paramos a entrevista por alguns minutos para atender a esposa de “Vaqueiro”, avisando que o café estava na mesa. Deixando o café para o final da conversa, o torcedor símbolo do Jequié prosseguiu citando o nome de alguns presidentes da Associação Desportiva Jequié como: Dr. Milton de Almeida Rabelo, Dr. Gerson Pelegrini, Juarez (Índio), Maneca Mesquita, Humberto Biondi, Gilson Fonseca, Maneca Sampaio, Jonas Almeida, Fernando Almeida, Olivaldo Ribeiro, Ewerton Almeida, Carlos Nascimento, Getúlio Ferreira da Luz, Marialvo Alves Meira, Jorge Amado, Vanderly Andrade, Francisco Carlos Almeida, José Fernandes (Zé Biu), Juarez Andrade (Bolinha) e em seguida muito tristonho contou que todo acervo que possuía do Jequié, foi queimado, quando aconteceu um incêndio na sua residência. 


Demonstrativos de despesas efetuadas na casa dos atletas do Jequié, pagas por Argeo “Vaqueiro”, sem ônus para a Associação Desportiva Jequié nos anos de 2013, 2014 e 2015.

“Vaqueiro” hoje possui apenas um caderno constando vários demonstrativos das despesas efetuadas na casa dos atletas do Jequié, pagas por ele, sem ônus para a Associação Desportiva Jequié nos anos de 2013, 2014 e 2015. Consta também nele classificação do time no Campeonato Baiano da segunda divisão, resultados de jogos, relação de nomes de Jogadores, relação de cartões amarelos e vermelhos recebidos pelos atletas nos jogos e um relato de uma emoção passada em 2015, quando do jogo Jequié 4 X 3 Fluminense de Feira, realizado em 17/05/2015 em Jequié ás 10h. Relata “Vaqueiro que o fluminense de Feira abriu o placar, o Jequié empatou, o fluminense virou o jogo, o Jequié empatou, o fluminense virou o jogo. Faltando cinco minutos para terminar o jogo, quando muitos torcedores estavam saindo do estádio, porém a charanga de Nengo e centenas de torcedores ficaram e alegraram-se na grande virada do Jequié, que gritavam “eu acredito, eu acredito”, iniciados por “Vaqueiro. Em seguida veio à resposta dos atletas do Jequié que conseguiram virar o jogo, fazendo dois gols em menos de cinco minutos, vitória maiúscula de Jequié 4 X 3 Fluminense. O deputado Leur Lomanto Junior premiou os Jogadores com um almoço no restaurante “Espeto de Ouro”.  Consta também no caderno, que no ano de 2015, como voluntário aceitou e foi nomeado pelo presidente da Associação Desportiva Jequié Juarez Almeida (Bolinha), como gerente da sede do Jequié.

Estádio Waldomiro Borges, jogo Jequié 0 X 3 Juazeiro, despedida de Argeo Magalhães “Vaqueiro” em 07/06/2015.
O último relato do livro é focalizado o motivo do afastamento de “Vaqueiro” de torcer pelo Jequié. No dia 25/05/2015, após consulta médica com o médico Dr. João Lantyer, deu a ele duas escolhas: ter uma vida mais longa ou antecipar um possível A.V. C, continuando suas atividades no envolvimento com o time do Jequié. “Vaqueiro” optou em ter mais tempo de vida. Na ocasião também foi impedido pelo médico de viajar para assistir os jogos do time do coração. No dia 27/05/2015, “Vaqueiro” tomou a determinação de deixar futebol. Manteve contato com “Cabeça” radialista da Radio Povo e contou a sua decisão. Falou para o profissional que se o Jequié vencer o jogo contra o time do Grapiuna em Itabuna - BA no dia 31/05/2015 ou até mesmo o Jequié seja campeão do acesso não mudaria sua decisão. No dia 02/06/2015 comunicou ao presidente Juarez Almeida (Bolinha) de uma cirurgia que tinha que fazer e a data de sua despedida que ocorreu no dia 07/06/2015. No término da entrevista, “Vaqueiro” disse que foi uma grande alegria e um imenso prazer ter sido um atuante torcedor do time do Jequié durante 45 anos.

Matéria editada na Revista Cotóxó.

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