J.B.Pessoa
É impossível indicar com precisão, a data do aparecimento das histórias
em quadrinhos, tendo em vista que as opiniões dos estudiosos dessa
encantadora arte, não são consistentes. Definida por muitos como o tipo
de história que se situa na categoria da narração figurada, ou seja:
aquela que pode ser pintada, esculpida, gravada, desenhada, bem como:
fotografada e impressa. Essa arte teria como precursores os desenhos
feitos há mais de quinze milênios, encontrados em cavernas
pré-históricas. Insistindo ainda nessa teoria, as cenas históricas ou
imaginárias descritas em forma de desenho, encontradas em murais da
antiguidade, nos estandartes chineses e nas tapeçarias medievais, como
também em pinturas narrando a Via Sacra, seriam precursores das
histórias em quadrinhos.
Com o aperfeiçoamento das técnicas de
imprimir em plena época da industrialização, começaram a surgir de 1820 a
1895, a fase que é denominada de pré-história dos quadrinhos. Em 1820
Jean Charles Péllerin publica na França as “Estampas de Epinal”. Em
1846, também na França, Rodolf Topffer publica as “Histoires en
estampes”, contendo as aventuras de Monsieur Vieux de Bois, Monsieur
Cryptogame e Monsieur Jabot. Em 1865, na Alemanha, Wilhelm Bruch cria
Max und Moritz, que no Brasil ficou sendo conhecido como Juca e Chico.
Na Inglaterra em 1884, F. Thomas cria Ally Sloper e em 1895 na França,
A. Bonne Presse edita Lê Noel. Essa época é marcada pelo aparecimento da
moderna sociedade de massas, fruto do capitalismo industrial, e a
população dos grandes centros passam a consumir produtos fabricados em
grande escala. Nessa ocasião os jornais diários já são constantes e,
através deles, as histórias em quadrinhos são produzidas e divulgadas.
Nos Estados Unidos os quadrinhos tomaram grande impulso e começaram a
ter suas próprias revistas. Em 1846 é publicado na cidade americana de
Boston um almanaque que incluía história em quadrinhos, e no final do
século XIX os quadrinhos alcançam grande sucesso com os desenhos de
Richard Felton Outcault e Rudolph Dirks, publicado em jornais. Em 1895
surge o primeiro personagem de grande repercussão mundial: “O Yellow
Kid”, desenhado por Outcault e, pela primeira vez, as falas dos
personagens eram descritas em pequenos “balões”.
Em 1896 começa a
ser publicado “Os Sobrinhos do Capitão”(Katzenjammer Kids) de Rudolph
Dirks, que narra a traquinagens de dois meninos e sua família. Esses
dois personagens fizeram grande sucesso e, ainda hoje, são vendidos nas
bancas de jornal em muitos países do mundo.
No início do
século XX começa o período de ouro dos quadrinhos, com o surgimento de
personagens que fizeram a alegria de muitas gerações. Em 1912 aparecem
“Pafúncio e Marocas” de George MacManus, que faz sucesso até hoje. Em
1924 surgiu um personagem que se tornou muito popular. Trata-se do “Gato
Felix” de Pat Sulilivan, que continua agradando os leitores do novo
milênio. Cinco anos mais tarde aparece, em virtude de uma propaganda de
enlatados de espinafre, o inesquecível “Popeye” de Elzie Segar.
Em
1912 acontece a primeira briga entre editores e criadores. Em
conseqüência disso surge o primeiro sindicato distribuidor das histórias
em quadrinhos. O Internacional News Service, que em 1914 tornaria o
famoso King Features Syndicate.
Os quadrinhos americanos atingem a
maioria dos países do mundo e seus sindicatos dominam os mercados
internacionais. Na década de 30 entram numa fase de intensa produção,
com o surgimento de novos e marcantes personagens. Um ano antes aparece
“Tarzan”, criação de Edgar Rice Burroughs, que foi adaptado para os
quadrinhos por Red Mason e Harold Foster e nesse mesmo ano surge o
primeiro herói de ficção cientista nos quadrinhos: “Buck Rogers”. Em
1931 aparece o camundongo “Mickey”, o primeiro de uma série de
personagens idealizados pelo produtor cinematográfico Walt Disney. Nesse
mesmo ano Chester Gould cria “Dick Tracy” e aparece o “Agente Secreto
X-9”, “Jim das Selvas” e “Flash Gordon”, idealizados por Alexander
Raymond.
Em 1934 surgem “O Reizinho” de Otto Soglow e “Pinduca”
de Carl Anderson e logo depois aparece o “Fantasma” de Ray Moore e
“Mandrake” de Lee Falk. Em 1937 aparece, com desenhos de grande
qualidade artística, o “Príncipe Valente”, uma criação de Harold Foster,
que influenciou muitos desenhistas posteriores.
O primeiro herói
com grandes poderes apareceu em 1938, o “Super-Homem”, uma criação de
Jerry Siegel e Joe Shuster e com ele uma proliferação de super heróis
surgiria: Capitão Marvel, Batman e Robin, Homem Borracha, Príncipe
Submarino, etc. Que faziam apologias ao modo de vida norte americano.
De
uma maneira geral, as histórias em quadrinhos norte americanas
contribuíram para o domínio cultural e econômico dos Estados Unidos no
mundo inteiro. Com o tempo começaram a surgir os protestos contra a
falta de visão crítica de seus personagens, os quais defendem a
sociedade em que vivem, sem questionar seus problemas mais sérios. A
primeira reação contra esses heróis bem comportados surgiram na própria
America, quando na década de 40, Al Capp lançou “Li’l Abner, que no
Brasil ficou conhecido como “Família Buscapé”, Era a história de
personagens que viviam com problema de adaptação a uma sociedade que não
compreendia”. Esses quadrinhos fizeram muito sucesso em todo o mundo,
pois se tratava de uma crítica ao sistema político e ao modo de vida dos
Estados Unidos. As histórias em quadrinhos influenciavam tanto a
sociedade estadunidense, que serviam de propaganda para sistema
capitalista. Durante a II Guerra Mundial (1939-1945), a maioria dos
heróis das histórias em quadrinhos americana atendeu aos pedidos do Tio
Sam e se alistou na guerra, para lutar contra o Eixo.
Os
quadrinhos começaram a interessar a um público mais exigente, quando
explanaram temas existenciais e políticos, principalmente em países que
se limitavam a traduzir, adaptar ou imitar os quadrinhos americanos.
Nesses países surgiram quadrinhos revelando problemáticas e ideologias
diferentes das americanas. Na Bélgica surgiu a série “Tim-Tam”, que
muitos consideram a mais crítica de todas. Também na Bélgica surgiram
“Luckey Luke” (1946), de Maurice de Bévère, uma sátira ao faroeste e
“Asterix” (1959) de René Goscinny e Albert Uderzo, cujas histórias
acontecem na época de Júlio Cesar e sua conquista da Gália, fazendo uma
analogia ao sistema estadunidense e uma autêntica crítica ao
imperialismo americano.
Nos anos 60 surgem “Valentina” (Itália)
de Guido Crepax , mulher que desafia os padrões morais de sua época e
“Barbarella” de Jean-Claude Forest, famosa por sua sensualidade. Na
America Latina sugiram “Malfada” (Argentina) de Quino, altamente
politizada; “Pererê”(Brasil) , de Ziraldo Alves Pinto, uma autêntica
crítica à americanização dos costumes; e os “Fradinhos” (Brasil) de
Henfil, com histórias que satirizam a vida política e social brasileira.
Talvez por influência da televisão ou do pouco caso das
editoras, as histórias em quadrinhos que encantaram várias gerações
desapareceram completamente das bancas brasileiras de jornais e
revistas. Só aparecem as dos super heróis, desenhadas por computadores,
totalmente frias e desprovidas de glamour, que só interessam aos
futurólogos e aos amantes da ficção científica.
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