segunda-feira, 29 de julho de 2019

Histórias em Quadrinhos.

J.B.Pessoa
É impossível indicar com precisão, a data do aparecimento das histórias em quadrinhos, tendo em vista que as opiniões dos estudiosos dessa encantadora arte, não são consistentes. Definida por muitos como o tipo de história que se situa na categoria da narração figurada, ou seja: aquela que pode ser pintada, esculpida, gravada, desenhada, bem como: fotografada e impressa. Essa arte teria como precursores os desenhos feitos há mais de quinze milênios, encontrados em cavernas pré-históricas. Insistindo ainda nessa teoria, as cenas históricas ou imaginárias descritas em forma de desenho, encontradas em murais da antiguidade, nos estandartes chineses e nas tapeçarias medievais, como também em pinturas narrando a Via Sacra, seriam precursores das histórias em quadrinhos.
Com o aperfeiçoamento das técnicas de imprimir em plena época da industrialização, começaram a surgir de 1820 a 1895, a fase que é denominada de pré-história dos quadrinhos. Em 1820 Jean Charles Péllerin publica na França as “Estampas de Epinal”. Em 1846, também na França, Rodolf Topffer publica as “Histoires en estampes”, contendo as aventuras de Monsieur Vieux de Bois, Monsieur Cryptogame e Monsieur Jabot. Em 1865, na Alemanha, Wilhelm Bruch cria Max und Moritz, que no Brasil ficou sendo conhecido como Juca e Chico. Na Inglaterra em 1884, F. Thomas cria Ally Sloper e em 1895 na França, A. Bonne Presse edita Lê Noel. Essa época é marcada pelo aparecimento da moderna sociedade de massas, fruto do capitalismo industrial, e a população dos grandes centros passam a consumir produtos fabricados em grande escala. Nessa ocasião os jornais diários já são constantes e, através deles, as histórias em quadrinhos são produzidas e divulgadas.
Nos Estados Unidos os quadrinhos tomaram grande impulso e começaram a ter suas próprias revistas. Em 1846 é publicado na cidade americana de Boston um almanaque que incluía história em quadrinhos, e no final do século XIX os quadrinhos alcançam grande sucesso com os desenhos de Richard Felton Outcault e Rudolph Dirks, publicado em jornais. Em 1895 surge o primeiro personagem de grande repercussão mundial: “O Yellow Kid”, desenhado por Outcault e, pela primeira vez, as falas dos personagens eram descritas em pequenos “balões”.
Em 1896 começa a ser publicado “Os Sobrinhos do Capitão”(Katzenjammer Kids) de Rudolph Dirks, que narra a traquinagens de dois meninos e sua família. Esses dois personagens fizeram grande sucesso e, ainda hoje, são vendidos nas bancas de jornal em muitos países do mundo.
No início do século XX começa o período de ouro dos quadrinhos, com o surgimento de personagens que fizeram a alegria de muitas gerações. Em 1912 aparecem “Pafúncio e Marocas” de George MacManus, que faz sucesso até hoje. Em 1924 surgiu um personagem que se tornou muito popular. Trata-se do “Gato Felix” de Pat Sulilivan, que continua agradando os leitores do novo milênio. Cinco anos mais tarde aparece, em virtude de uma propaganda de enlatados de espinafre, o inesquecível “Popeye” de Elzie Segar.
Em 1912 acontece a primeira briga entre editores e criadores. Em conseqüência disso surge o primeiro sindicato distribuidor das histórias em quadrinhos. O Internacional News Service, que em 1914 tornaria o famoso King Features Syndicate.
Os quadrinhos americanos atingem a maioria dos países do mundo e seus sindicatos dominam os mercados internacionais. Na década de 30 entram numa fase de intensa produção, com o surgimento de novos e marcantes personagens. Um ano antes aparece “Tarzan”, criação de Edgar Rice Burroughs, que foi adaptado para os quadrinhos por Red Mason e Harold Foster e nesse mesmo ano surge o primeiro herói de ficção cientista nos quadrinhos: “Buck Rogers”. Em 1931 aparece o camundongo “Mickey”, o primeiro de uma série de personagens idealizados pelo produtor cinematográfico Walt Disney. Nesse mesmo ano Chester Gould cria “Dick Tracy” e aparece o “Agente Secreto X-9”, “Jim das Selvas” e “Flash Gordon”, idealizados por Alexander Raymond.
Em 1934 surgem “O Reizinho” de Otto Soglow e “Pinduca” de Carl Anderson e logo depois aparece o “Fantasma” de Ray Moore e “Mandrake” de Lee Falk. Em 1937 aparece, com desenhos de grande qualidade artística, o “Príncipe Valente”, uma criação de Harold Foster, que influenciou muitos desenhistas posteriores.
O primeiro herói com grandes poderes apareceu em 1938, o “Super-Homem”, uma criação de Jerry Siegel e Joe Shuster e com ele uma proliferação de super heróis surgiria: Capitão Marvel, Batman e Robin, Homem Borracha, Príncipe Submarino, etc. Que faziam apologias ao modo de vida norte americano.
De uma maneira geral, as histórias em quadrinhos norte americanas contribuíram para o domínio cultural e econômico dos Estados Unidos no mundo inteiro. Com o tempo começaram a surgir os protestos contra a falta de visão crítica de seus personagens, os quais defendem a sociedade em que vivem, sem questionar seus problemas mais sérios. A primeira reação contra esses heróis bem comportados surgiram na própria America, quando na década de 40, Al Capp lançou “Li’l Abner, que no Brasil ficou conhecido como “Família Buscapé”, Era a história de personagens que viviam com problema de adaptação a uma sociedade que não compreendia”. Esses quadrinhos fizeram muito sucesso em todo o mundo, pois se tratava de uma crítica ao sistema político e ao modo de vida dos Estados Unidos. As histórias em quadrinhos influenciavam tanto a sociedade estadunidense, que serviam de propaganda para sistema capitalista. Durante a II Guerra Mundial (1939-1945), a maioria dos heróis das histórias em quadrinhos americana atendeu aos pedidos do Tio Sam e se alistou na guerra, para lutar contra o Eixo.
Os quadrinhos começaram a interessar a um público mais exigente, quando explanaram temas existenciais e políticos, principalmente em países que se limitavam a traduzir, adaptar ou imitar os quadrinhos americanos. Nesses países surgiram quadrinhos revelando problemáticas e ideologias diferentes das americanas. Na Bélgica surgiu a série “Tim-Tam”, que muitos consideram a mais crítica de todas. Também na Bélgica surgiram “Luckey Luke” (1946), de Maurice de Bévère, uma sátira ao faroeste e “Asterix” (1959) de René Goscinny e Albert Uderzo, cujas histórias acontecem na época de Júlio Cesar e sua conquista da Gália, fazendo uma analogia ao sistema estadunidense e uma autêntica crítica ao imperialismo americano.
Nos anos 60 surgem “Valentina” (Itália) de Guido Crepax , mulher que desafia os padrões morais de sua época e “Barbarella” de Jean-Claude Forest, famosa por sua sensualidade. Na America Latina sugiram “Malfada” (Argentina) de Quino, altamente politizada; “Pererê”(Brasil) , de Ziraldo Alves Pinto, uma autêntica crítica à americanização dos costumes; e os “Fradinhos” (Brasil) de Henfil, com histórias que satirizam a vida política e social brasileira.
Talvez por influência da televisão ou do pouco caso das editoras, as histórias em quadrinhos que encantaram várias gerações desapareceram completamente das bancas brasileiras de jornais e revistas. Só aparecem as dos super heróis, desenhadas por computadores, totalmente frias e desprovidas de glamour, que só interessam aos futurólogos e aos amantes da ficção científica.

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