domingo, 7 de julho de 2019

ANDREA PÉ DE ANJO



                                                                   Carlos Eden Meira

Nordestina, bonita e corajosa, Andrea Pé de Anjo cresceu no sul do país levada pelos pais retirantes. Ali viveu toda a miséria de uma pobre família desprezada pelos poderes públicos, como é comum acontecer neste país. Viu toda espécie de injustiça, perdeu os pais muito cedo levados por doenças, devidas à total falta de assistência médica. Assim, sem um lar, viveu nas ruas entre toda espécie de gente, fazendo horrores para sobreviver. Se tivesse oportunidade, talvez viesse a ser uma pessoa melhor. Inteligente e perspicaz, Andrea logo assumiu liderança no meio em que viveu, ganhando o apelido devido à violência com que atingia seus desafetos com um tremendo ponta-pé, passando a ser chefe de uma quadrilha de assaltantes, e, em pouco tempo, ela estava envolvida com o crime organizado.
Sua imagem marcante impressionava os repórteres, e passou a ser vista pela mídia como uma polêmica figura cinematográfica, uma “Bonnie” sem o “Clyde”, que agia com enorme habilidade no manejo de armas e nas fugas espetaculares, pilotando uma moto. Suas fotos na TV, com cara de bonita atriz de novela, criaram uma onda de acessos de caráter polêmico nas redes sociais da internet, já que nesses casos vem sempre o questionamento ideológico, no qual se discute se ela era simplesmente uma bandida. Entretanto, em diversas ocasiões conforme a imprensa, suas atividades estavam frequentemente ligadas a tiroteios, que resultavam na morte brutal de policiais ou inocentes reféns durante os assaltos, o que justificava sua fama de assassina cruel. Incentivada pela opinião pública, a imprensa cobrava das autoridades, providências imediatas para a prisão de Andrea, vista como um perigo social, uma homicida psicopata, “persona non grata” para a sociedade, e, obviamente, uma ameaça à segurança das pessoas. Sua figura era associada a grandes chefes de facções criminosas, conforme investigações policiais no episódio de sua morte violenta, num tiroteio entre facínoras do crime organizado.
Foi considerada por alguns sociólogos, como uma “vítima traumatizada pelo sistema cruel, vivendo à margem de uma sociedade hipócrita e insensível aos males do povo”. Mas, seria considerada uma heroína? Em épocas passadas, no Nordeste, ela seria tachada de cangaceira, chefe de jagunços, teria um cavalo em vez de uma moto, e uma espingarda de cartucho, no lugar de um AR-15. Cordelistas escreveriam mais tarde, versos e histórias sobre sua vida, mas será que teria um monumento em praça pública? Conforme os conceitos ideológicos atuais, as opiniões estariam opostas e criariam acirradas polêmicas na internet. Dentro do seu próprio tempo, seria apenas mais uma bandida que pagou pelos seus crimes, e não iria faltar quem dissesse - “Bandido bom é bandido morto. Sua morte foi um grande alívio para a segurança dos cidadãos de bem”. – Porém, a História é quem julga. Somente com o passar do tempo, e com as inexoráveis mudanças de conceitos é que as futuras gerações julgarão quem foi herói e quem foi bandido. Entretanto, o senso comum deduz que herói é quem se sacrifica para salvar vidas, e não quem destrói vidas por vingança ou por motivações ideológicas, julgando de maneira radical, que “os fins justificam os meios”.

Este texto é fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com figuras históricas, ou pessoas vivas ou mortas, é mera coincidência.

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