terça-feira, 25 de junho de 2019

VALORES INVERTIDOS.

                        Carlos Eden Meira
Desde que comecei a me entender por gente, sempre ouvia dos meus pais, dos padres e dos professores, que para ser alguém na vida, deveria procurar ser um homem de bem, honesto, leal, cordial, honrado e patriota. Enquanto crescia, notava que a realidade ao meu redor não era compatível com tais conselhos, mesmo na convivência com outras crianças da minha idade. Percebia decepcionado, que qualquer garoto ao tentar ser cordial e sincero com os colegas, era tido como trouxa, bobo, fresco e outras denominações ainda mais depreciativas, perdendo seu conceito até entre as garotas. Para ser respeitado na turma, era preciso vencer qualquer um na “porrada”, ser “esperto”, saber “levar alguém na conversa”, para obter alguma vantagem. Um aluno estudioso e aplicado era criticado por isso, e era logo batizado de CDF (“c” de ferro). Alguns garotos eram admirados até por roubar dinheiro dos pais, sendo considerados corajosos, pois, sempre tinham dinheiro para as matinês, para os gibis ou lanches, mesmo que levassem uma tremenda surra ao serem descobertos. No entanto, havia como sempre, as raríssimas exceções que não pensavam nem agiam assim, sem que ninguém precisasse ser nenhum “santinho”. Compreende-se que os jovens tendem a admirar quem tem coragem para desafiar a lei, num ato de rebeldia. Quando este desafio resulta em revolução e evolução dos costumes, torna-se fator positivo para a mudança de muitos conceitos conservadores religiosos, científicos ou políticos. Entretanto, quando se desobedece à lei roubando, corrompendo, visando interesses pessoais, resultando em prejuízo para a maioria, aí a história é outra.
É claro, que muitos dos alunos estudiosos e aplicados se formaram, são hoje bons profissionais, ganham a vida honestamente graças a sua inteligência e capacidade profissional. Nota-se, porém, que no Brasil, muitos crescem influenciados pela mentalidade cujo conceito de “levar vantagem em tudo” é que prevalece. Estarrecidos, vemos hoje que os ladrões, os crápulas cruéis, os corruptos e hipócritas, têm sido respeitados temidos e até admirados por muita gente, pois, têm bastante dinheiro e poder à sua disposição, influenciam na política, têm acesso a bons hospitais e planos de saúde, colocam seus filhos em boas escolas e universidades, muitas vezes no exterior; moram em grandes mansões ou condomínios fechados, em áreas nobres das cidades. Quando são denunciados, subornam e corrompem a mídia para inverter os papéis, caluniando para prejudicar perante a lei, aqueles que os contestam. Será que era para ser mesmo assim?
Enquanto isso, pobres cidadãos que por falta de sorte ou por imposição do sistema, vivem de um salário miserável, mas, passaram a vida trabalhando honestamente, pagando impostos, respeitando normas, leis e regras diversas, morrem a míngua nos hospitais públicos, ou têm que sofrer a dor insuportável de ver um ente querido sucumbir ante o descaso dos órgãos responsáveis pela sua segurança ou pela sua saúde. É duro, é cruel, ver um pai sofrendo, vendo seu filho definhar num hospital público, porque não tem dinheiro para pagar um bom plano de saúde para sua família, como vem ocorrendo constantemente neste país. Aí vêm as comparações e o questionamento: “Fulano pode ser desonesto, mas é um bom pai, pois, soube como conseguir dinheiro bastante, para cuidar bem de sua família”. Quando a dor de um pai chega a este ponto crucial, pode infelizmente, obrigá-lo a questionar seus conceitos, forçando-o equivocadamente, a se sentir enganado por ter seguido como muitos, os bons conselhos que ouvia na infância. Lembramos aí, da polêmica última frase “... ter vergonha de ser honesto”, da famosa citação de Ruy Barbosa. Surge então, a terrível pergunta: “será que eu errei”? Obviamente não, pois apesar de tudo, ninguém deve em hipótese nenhuma, ter vergonha de ser honesto!

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