Carlos Eden Meira |
Ainda que tenham
crescido as manifestações de pessoas, principalmente através das redes
sociais, expondo suas preferências ideológicas (políticas ou
religiosas), nota-se que, apesar do direito de expressão que todos
usufruem nas sociedades ditas democráticas, alguns se acham os
“conhecedores da verdade”, e querem impor seus valores a ferro e fogo,
gerando conflitos sociais. Em alguns países, há séculos, tais conflitos
geram guerras sangrentas, cujas conseqüências perduram até hoje.
Paralelamente a isso, há um incipiente movimento mundial tentando
mostrar os grandes prejuízos sociais, econômicos e humanos, resultantes
da intolerância. Hoje, a dinâmica das mídias de última geração abre
novos portais de conhecimento de alcance mundial, o que ainda impede o
controle absoluto dos poderosos sobre seus opositores, pelo menos nos
países ocidentais.
Nos tempos atuais, já não seria possível numa
sala de aula de curso primário (fundamental), ocorrer um fato que aos
dez anos de idade, presenciei na escola pública em que estudava. Era uma
época, em que os professores eram respeitados, os alunos disciplinados,
o sentimento cívico e a as idéias de patriotismo e nacionalismo eram
saudáveis, sem fanatismos nem radicalismos. Entretanto, sendo o Brasil
um país de maioria católica, as práticas católicas eram hegemônicas nos
estabelecimentos de ensino público. Rezávamos nas filas aglomeradas nos
pátios, antes de sermos conduzidos às salas de aula, onde, antes de
começarmos as funções do dia, rezávamos novamente. Mas havia educadores
excessivamente autoritários, que pareciam não entender os direitos
democráticos da liberdade de expressão e de opção religiosa.
Num
primeiro dia de aula de um dos nossos cursos, a professora antes de
conhecer cada aluno da classe, pediu que todos se levantassem para rezar
o Pai Nosso e a Ave Maria. Após o ato, a professora visivelmente
irritada perguntou a um dos alunos, por que ele não rezou a Ave Maria. O
menino constrangido respondeu que a família dele era da Igreja Batista,
e que aquela oração não era prática da sua fé. A professora, de forma
agressiva e assustadora, gritou com o aluno que, de cabeça baixa,
parecia chorar. Ela demonstrava não admitir que aquela criança não
rezasse como os demais alunos. Demonstrou intolerância com a fé do
aluno, que também, era um cristão. Eu, apesar da pouca idade para
compreender tais coisas, me coloquei no lugar do colega e fiquei
indignado.
Não tinha como aceitar aquela atitude da professora,
que deu espaço para que muitos colegas insensíveis passassem a zombar do
garoto, rindo e chamando-o de nomes ofensivos à sua fé. É claro que
alguns outros poucos colegas, mais compreensivos, não participavam desse
“bullying”, e mesmo sendo também católicos, tentamos ser solidários com
o garoto; no entanto, ele, em sua timidez e sentindo-se discriminado
naquele ambiente, mantinha-se arredio. O erro já tinha causado seus
efeitos negativos. Aquele garoto educado, gentil e tímido foi alvo das
zombarias de muitos de seus colegas, simplesmente porque era de outra
religião. Tal fato se ocorresse nos dias atuais, seria intensamente
divulgado e repudiado, nas redes sociais da Internet.
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