sexta-feira, 24 de maio de 2019

INTOLERÂNCIA

Carlos Eden Meira

Ainda que tenham crescido as manifestações de pessoas, principalmente através das redes sociais, expondo suas preferências ideológicas (políticas ou religiosas), nota-se que, apesar do direito de expressão que todos usufruem nas sociedades ditas democráticas, alguns se acham os “conhecedores da verdade”, e querem impor seus valores a ferro e fogo, gerando conflitos sociais. Em alguns países, há séculos, tais conflitos geram guerras sangrentas, cujas conseqüências perduram até hoje. Paralelamente a isso, há um incipiente movimento mundial tentando mostrar os grandes prejuízos sociais, econômicos e humanos, resultantes da intolerância. Hoje, a dinâmica das mídias de última geração abre novos portais de conhecimento de alcance mundial, o que ainda impede o controle absoluto dos poderosos sobre seus opositores, pelo menos nos países ocidentais.
Nos tempos atuais, já não seria possível numa sala de aula de curso primário (fundamental), ocorrer um fato que aos dez anos de idade, presenciei na escola pública em que estudava. Era uma época, em que os professores eram respeitados, os alunos disciplinados, o sentimento cívico e a as idéias de patriotismo e nacionalismo eram saudáveis, sem fanatismos nem radicalismos. Entretanto, sendo o Brasil um país de maioria católica, as práticas católicas eram hegemônicas nos estabelecimentos de ensino público. Rezávamos nas filas aglomeradas nos pátios, antes de sermos conduzidos às salas de aula, onde, antes de começarmos as funções do dia, rezávamos novamente. Mas havia educadores excessivamente autoritários, que pareciam não entender os direitos democráticos da liberdade de expressão e de opção religiosa.
Num primeiro dia de aula de um dos nossos cursos, a professora antes de conhecer cada aluno da classe, pediu que todos se levantassem para rezar o Pai Nosso e a Ave Maria. Após o ato, a professora visivelmente irritada perguntou a um dos alunos, por que ele não rezou a Ave Maria. O menino constrangido respondeu que a família dele era da Igreja Batista, e que aquela oração não era prática da sua fé. A professora, de forma agressiva e assustadora, gritou com o aluno que, de cabeça baixa, parecia chorar. Ela demonstrava não admitir que aquela criança não rezasse como os demais alunos. Demonstrou intolerância com a fé do aluno, que também, era um cristão. Eu, apesar da pouca idade para compreender tais coisas, me coloquei no lugar do colega e fiquei indignado.
Não tinha como aceitar aquela atitude da professora, que deu espaço para que muitos colegas insensíveis passassem a zombar do garoto, rindo e chamando-o de nomes ofensivos à sua fé. É claro que alguns outros poucos colegas, mais compreensivos, não participavam desse “bullying”, e mesmo sendo também católicos, tentamos ser solidários com o garoto; no entanto, ele, em sua timidez e sentindo-se discriminado naquele ambiente, mantinha-se arredio. O erro já tinha causado seus efeitos negativos. Aquele garoto educado, gentil e tímido foi alvo das zombarias de muitos de seus colegas, simplesmente porque era de outra religião. Tal fato se ocorresse nos dias atuais, seria intensamente divulgado e repudiado, nas redes sociais da Internet.

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