domingo, 28 de abril de 2019

“Um Passo” Além...

                                                           Carlos Eden Meira

Dificilmente consigo tranquilidade e paz de espírito para redigir um texto, fazer um cartum ou até mesmo ouvir músicas, quando sou invadido pela tristeza. É uma dor surreal, que trava todas as minhas capacidades de realizar coisas que normalmente gosto de fazer. No entanto, forçando a natureza, não poderia deixar de homenagear à minha maneira, o amigo, poeta e jornalista Climério Keller, diretor do jornalzinho “Um Passo”, que ajudei a criar e colaborei desde o primeiro até o último número, apesar de não termos as mesmas afinidades ideológicas. Conheci Climério no princípio dos anos setenta, ajudando a turma de um grupo teatral dirigido por nosso amigo Washington Rosa. Climério devia ter uns dezessete anos de idade na época. Sempre gostou de estar no meio de pessoas ligadas às letras, optando assim, mais tarde, pela poesia e o jornalismo.

Climério Keller
O “Cidadão Keller” - como o nomeou o também jornalista e poeta Val Rodrigues, num texto que foi publicado no “Um Passo”, onde Val faz um ótimo relato biográfico de Climério - foi uma pessoa que teve poucos amigos que o compreendiam, devido às suas atitudes que de certa forma, incomodavam pessoas impacientes com seu modo de ser. Entretanto, sua personalidade forte e força de vontade eram o escudo que o protegia das agressividades no meio em que atuava. Tinha também, grande consideração por meu pai, Henrique Meira e pelo meu irmão, Raymundo Meira, devido ao apoio que lhe davam através da Associação Jequieense de Imprensa, da qual ambos foram presidentes.
A noite de 19 de abril de 2019, uma Sexta-Feira Santa, ficará indelevelmente marcada em minha mente. Naquela noite, estando eu no passeio da minha casa, conversando com o amigo João Batista Pessoa e algumas pessoas da minha família, eis que surge Climério Keller, vindo da procissão, todo de terno preto, engravatado e sorridente. Uma imensa lua surgia, fazendo-nos lembrar os velhos tempos das serestas. Começamos, eu e João, a cantar canções dos seresteiros famosos da “época de ouro do rádio”, Orlando Silva, ou Vicente Celestino, como costumávamos fazer no “Bar de Tõe” na companhia de Soares Neto, Wilson Novais e Euzínio Soares. Climério, entusiasmado com aquilo, começou a recitar seus poemas, acompanhando nossa cantoria. Extremamente eufórico, disse em voz alta: “Esta é uma das noites mais felizes da minha vida, na companhia dos meus amigos”!

Climério Keller, Carlos Éden e João Pessoa.
Na terça-feira da semana seguinte, ouvi no rádio a notícia da partida de Climério. Sozinho em sua casa, ele deu “Um Passo” além... O grande passo além dos “Portais Climerianos” que ele tanto gostava de citar. Este passo que todos nós haveremos de dar a qualquer momento. Apesar da minha tristeza por não ter tido nenhuma informação referente à hora do seu sepultamento, ao qual, assim como muitos outros amigos, acabei não comparecendo, sinto-me em paz de certa forma, por ter a certeza de que na última noite em que estivemos juntos, naquela Sexta-Feira Santa, num momento de música e poesia, Climério Keller estava feliz...

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