terça-feira, 9 de abril de 2019

O LIVRO E A LIBERDADE

                        Carlos Eden Meira

Principal veículo a transportar conhecimentos aos mais longínquos recantos da Terra, a levar em prosa ou verso a genialidade criativa de grandes autores, a transmitir idéias transformadoras despertando mentes adormecidas, sacudindo-as e levando-as a perceber novos valores e conceitos, o livro foi, é, e sempre será, o verdadeiro portal do conhecimento. Foi graças ao livro que nos libertamos do obscurantismo provocado pelo retrocesso oriundo do choque cultural entre bárbaros invasores e a civilização ocidental da Idade Média. Preservados sigilosamente em mosteiros medievais graças aos cuidados de monges de mente aberta, que corajosamente contestavam o controle absoluto da Igreja sobre quaisquer textos que não fossem de restrito acordo com as Escrituras Sagradas, fato que serviu de tema para o escritor italiano Umberto Eco, em seu brilhante livro “O Nome da Rosa”; manuscritos contendo textos de grandes filósofos e pensadores da Antiguidade Clássica eram copiados pelos monges, e muitos permaneceram durante séculos, a salvo da sanha devastadora de fanatismos religiosos ou de interesses político-culturais, conforme a época.
Com a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, esses textos passaram a ser publicados em forma de livros impressos, e, em que pesem as destruidoras ações das mentalidades retrógradas que queimavam montes de livros em praça pública, pelo simples fato de não aceitarem um novo conceito científico ou filosófico que colocasse “em risco” antigos valores; a nova dinâmica alcançada pelo conhecimento através da escrita impressa seria irreversível. Inclusive, tendo sido a Bíblia, o primeiro livro impresso por Gutenberg. Com o advento da Reforma de Martinho Lutero surgiram dissidências dentro da Igreja, que resultariam em alterações do texto bíblico de acordo com os interesses das facções conservadoras ou dissidentes, que publicavam cada uma a sua Bíblia, conforme a interpretação de seus teólogos e a conveniência das suas lideranças, no momento. Surgia daí, ainda que ameaçada pelo fanatismo religioso, uma das formas da liberdade de pensamento, através do livro.
A publicação de textos de Platão, Aristóteles ou Sócrates, e, mais tarde, de pensadores como Kant, Spinoza, Descartes ou Voltaire, impulsionaria a civilização ocidental a um sentimento renovador que levaria grandes movimentos em busca de reformas políticas e sociais, resultando na separação entre o Clero e o Estado, surgindo assim, uma maior liberdade de pensamento e expressão, a que humanamente temos direito. Ainda que em momentos historicamente infelizes, livros como o “Mein Kampf” de Adolf Hitler tenham levado um povo como o alemão, a se envolver no horror que foram as práticas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de outros livros foram escritos combatendo tiranias e absolutismos, como o nazismo alemão e o stalinismo russo. Através do esclarecimento de autores de mente evoluída e seus livros, somos alertados sobre pretensas “filosofias” que de tempos em tempos, ressurgem das cinzas do obscurantismo e buscam, através do uso da palavra, hoje não só publicada em livros, mas, em todos os modernos meios de comunicação, distorcer ideias e valores, confundindo a mente dos incautos, mormente daqueles que não buscam conhecimento através do seu mais antigo e verdadeiro portal: o livro.

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