segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O Paquerador.

            Carlos Eden Meira

Arquimedes Lucyval era um cidadão desses que trabalham nas campanhas eleitorais com vontade, sendo um cabo eleitoral simpático e eficiente. Assim, conseguiu emprego público por nomeação. Bonachão, piadista e mulherengo de carteirinha costumava dizer que seu maior vício era mulher. Tocava violão e era presença constante nas serenatas, quando literalmente “cantava” suas inúmeras namoradas. Nas farras com os amigos, cantava e tocava nas mesas dos bares onde, naquele tempo, ainda não eram apresentados músicos profissionais remunerados, em palcos. Era casado, mas, havia tempos que não morava mais com a esposa, ainda que já tivesse filhos com ela. Tendo amantes aos montes, dormia cada noite com uma delas, das quais tinha também seus rebentos, e, assim sendo, era pai de um batalhão de filhos e filhas, muitos dos quais, só via de vez em quando.
Paquerador inveterado obviamente, contava um caso do qual ninguém em sã consciência poderia duvidar: certo dia, conforme dizia sorridente, ele andava pelas ruas da cidade, quando viu a alguns passos à sua frente, uma garota jovem que caminhava provocante, com um shortinho daqueles de “acordar estátua de bronze’. Arquimedes Lucyval que não podia deixar passar uma oportunidade daquelas, começou seu “repertório de cantadas” conforme sua narrativa:
- Ei, gostosa! Quer companhia? Onde você Mora? Você é muito bonita, sabia? - A garota continuou andando, sem dar atenção à conversa manjada de “véi tarado”, como ela imaginava. Apressou o passo e começou a correr um pouco, tentando fugir do abusado. Arquimedes parou e gritou:
- Ei, garota! Olhe para mim, pelo menos!
A menina parou de correr, virou-se, e com as mãos na cintura, demonstrando um ar de surpresa e revolta, gritou:
- Pô, pai! Não tá respeitando nem as filhas?
Arquimedes Lucyval, perplexo, desconcertado e gaguejando, com dificuldade reconheceu:
- Vixe! É- é tu, minha “fia”? P-pensei que era uma amiga minha. Eu costumo b-brincar com ela assim. N- não vi que era tu!
- Toma vergonha, pai! – disse a garota – Já tá pra ter neto e ainda fica paquerando mulher na rua? E nem reconhece mais as próprias filhas?

Outra das histórias do Arquimedes Lucyval da qual ninguém também duvidava, é a da vez em que ele quando ainda morava com a esposa, nos começos das obrigações de homem casado, saiu de casa para passar a noite no “bem bom” com uma das amantes, tendo antes inventado para a esposa, uma enxurrada de desculpas para tal empreitada, quando acordou quase ao raiar do dia, ainda na cama da “outra”. Apressado para chegar em casa com mais uma desculpa qualquer, apanhou suas roupas no escuro do quarto, vestindo-as às cegas. Em casa, ainda muito cedo, depois de apresentar as mais estapafúrdias lorotas para convencer a esposa, começou a se despir para cumprir seus “deveres de esposo”, quando notou o olhar perplexo da mulher que começou a xingá-lo aos berros, nomeando-o de todos os merecedores “títulos” dos quais, ela conhecia uma enorme e assustadora lista, apontando para ele já quase sem roupa. Foi aí que Arquimedes Lucyval percebeu que em vez de cueca, ele estava vestido com uma calcinha rosa de bolinhas brancas. De quem seria?

(Os nomes e fatos aqui narrados são fictícios. Qualquer semelhança com fatos e pessoas vivas ou mortas é mera coincidência).

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