Charles Meira
Charge de Carlos Éden Meira |
Quando Brown
completou sete anos, morava no centro de Jequié, no bairro do Campo do América,
próximo ao Hospital Prado Valadares. As avenidas e ruas eram quase todas ainda
sem calçamento. A casa era de esquina, bastante espaçosa e perto do que era
necessário para atender às necessidades.
Novas famílias passaram a fazer parte do nosso convívio. Os Barros do lado
direito, em frente aos Cajaíbas. Na avenida residiam os Mouras, os Lobos, os
Sampaios, os Alves e a família Brito. De cada residência os novos amigos:
Reinaldo (Gazo), Bartolomeu (Bartó), Zeinho, Jaime (Motorzinho), Antônio (Tõe),
Valmor, Netinho, Marinho, Elcir, Roberto, Matraca, Pedro (Belas Coxas) e Júnior
Sampaio. Depois de um entrosamento maior foram surgindo as brincadeiras entre
amigos. Amarelinha, boca-de-forno, a-palavra-é, esconde-esconde e outras
tantas.
Como quase a totalidade eram meninos, a principal brincadeira era jogar bola.
As primeiras peladas foram na Avenida Rio Branco com jogadores do local. Com o
passar do tempo outros meninos das ruas vizinhas juntaram-se a nosso grupo
atraídos pelo poder da redondinha, a rainha dos babas. O número dos atletas foi
aumentando demais e foi necessário dividir o grupo em vários times. Por alguns
meses, permaneceu esta organização, mas outras idéias surgiram e entre elas a
realização de um campeonato entre os times existentes. A Maioria aceitou a
proposta, nomes diversos fizeram parte da lista dos inscritos.
As meninas e vários amigos vieram para torcerem por aqueles que mais lhes
agradavam. Nas mãos um galho de árvore e na boca um grito de animação para o
seu time preferido. Os apelidos bizarros dos jogadores levavam os torcedores a
darem risadas quando eram pronunciados: Mortozinho, Gazo, Matraca, Belas Coxas,
etc. A maioria dos jogadores tinha habilidades, e sempre eram escalados para
jogar no time titular.
Brown
esforçava-se ao máximo para agradar ao seu treinador, mas não levava jeito.
Mesmo assim não desistia de conseguir o seu lugar. Nove dos times haviam
comprado os uniformes, apenas o de Brown faltava adquiri-los. Como possuía um
jogo de camisa, Brown fez uma proposta no sentido de doá-lo, só que a partir
daquela data o dono do time seria ele e ainda teria lugar garantido de titular
para jogar as partidas. Foi uma vitória para Brown, pois só assim conseguiu ser
escalado.
De perna de pau a dono do time, uma mudança radical na trajetória de um jogador
de várzea e um calo no sapato do treinador, que não aguentava mais de tanto
perder e ter que escalar o dono do time.
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