sábado, 2 de fevereiro de 2019

O Dono do Time.

                                                                     Charles Meira


Charge de Carlos Éden Meira
Quando Brown completou sete anos, morava no centro de Jequié, no bairro do Campo do América, próximo ao Hospital Prado Valadares. As avenidas e ruas eram quase todas ainda sem calçamento. A casa era de esquina, bastante espaçosa e perto do que era necessário para atender às necessidades.
Novas famílias passaram a fazer parte do nosso convívio. Os Barros do lado direito, em frente aos Cajaíbas. Na avenida residiam os Mouras, os Lobos, os Sampaios, os Alves e a família Brito. De cada residência os novos amigos: Reinaldo (Gazo), Bartolomeu (Bartó), Zeinho, Jaime (Motorzinho), Antônio (Tõe), Valmor, Netinho, Marinho, Elcir, Roberto, Matraca, Pedro (Belas Coxas) e Júnior Sampaio. Depois de um entrosamento maior foram surgindo as brincadeiras entre amigos. Amarelinha, boca-de-forno, a-palavra-é, esconde-esconde e outras tantas.
Como quase a totalidade eram meninos, a principal brincadeira era jogar bola. As primeiras peladas foram na Avenida Rio Branco com jogadores do local. Com o passar do tempo outros meninos das ruas vizinhas juntaram-se a nosso grupo atraídos pelo poder da redondinha, a rainha dos babas. O número dos atletas foi aumentando demais e foi necessário dividir o grupo em vários times. Por alguns meses, permaneceu esta organização, mas outras idéias surgiram e entre elas a realização de um campeonato entre os times existentes. A Maioria aceitou a proposta, nomes diversos fizeram parte da lista dos inscritos.
As meninas e vários amigos vieram para torcerem por aqueles que mais lhes agradavam. Nas mãos um galho de árvore e na boca um grito de animação para o seu time preferido. Os apelidos bizarros dos jogadores levavam os torcedores a darem risadas quando eram pronunciados: Mortozinho, Gazo, Matraca, Belas Coxas, etc. A maioria dos jogadores tinha habilidades, e sempre eram escalados para jogar no time titular.
Brown esforçava-se ao máximo para agradar ao seu treinador, mas não levava jeito. Mesmo assim não desistia de conseguir o seu lugar. Nove dos times haviam comprado os uniformes, apenas o de Brown faltava adquiri-los. Como possuía um jogo de camisa, Brown fez uma proposta no sentido de doá-lo, só que a partir daquela data o dono do time seria ele e ainda teria lugar garantido de titular para jogar as partidas. Foi uma vitória para Brown, pois só assim conseguiu ser escalado.
De perna de pau a dono do time, uma mudança radical na trajetória de um jogador de várzea e um calo no sapato do treinador, que não aguentava mais de tanto perder e ter que escalar o dono do time.

Nenhum comentário:

Postar um comentário