segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Carlos Eden Meira, o Artista Polivalente.

                                                   Charles Meira
Mônica (filha), Carlos Eden, Carlos Elias (filho) e Maria de Lourdes (esposa).  
Estava saindo de Edísio Sports, loja localizada na Rua Félix Gaspar, quando encontrei meu parente e amigo Carlos Eden Meira. Em pouco tempo atualizamos as notícias familiares e aproveitei, além disso, a oportunidade para marcar uma entrevista com o polivalente artista Jequieense, visando concretizar um antigo desejo de fazer esta matéria para a Revista Cotoxó.
Na manhã de segunda feira nove de abril, depois de visitar a minha mãe Maria Letícia fui à residência de Eden e realizei a entrevista.
Carlos Eden Meira nasceu em Jequié – BA, casado com Maria de Lourdes Pereira Magalhães e tem 02 filhos e 05 netas. Filho do Jornalista Henrique Meira Magalhães, natural de Boa Nova – BA e Iracema Dantas Moreira Magalhães, nascida em de Vitória da Conquista – BA, família composta de 08 filhos.
A infância dele foi normal. Na rua onde morava brincava com a turminha de empinar pipa, jogava gude, entretanto ele era ruim nelas todas, principalmente jogando bola. Mais tarde, um Oftalmologista descobriu que Eden tinha Estrabismo, doença péssima para quem pratica esporte e também encontrou Hipermetropia e Astigmatismo, enfermidades que o prejudicou nos estudos, sobretudo em matemática, por não enxergar bem os exercícios no quadro - negro, e tinha vergonha de falar.
Os estudos foram iniciados em 1957 no Grupo Escolar Castro Alves fazendo o curso infantil e o primário até o terceiro ano. O quarto ano estudou em 1960 com a professora Maria Angélica Ribeiro Oliveira, irmã de Leonel Ribeiro, numa escolinha na Rua Laudelino Barreto. Em 1961 retornou para o Castro Alves, onde fez o quinto ano primário e em seguida foi estudar no IERP (Instituto de Educação Régis Pacheco) em 1962, local onde fez o curso ginasial e o científico. Devido a problemas financeiros, vontade própria, incentivo e um empurrão da família, Eden não foi para Salvador fazer o vestibular.

Conjunto "The Byrds", acompanhando Wanderley Cardoso, no estádio Lomanto Jr. em V. da Conquista - 1967. Na foto: Carlos Eden, Kátia Morbeck, Cesar Almeida, Odenir, Paulo Krupa, Ivan Dias, Wanderley e Getúlio Jucá. 

A música entrou na vida dele porque tinha um bom ouvido. Na década de 50 quando criança foi ao Circo Nerino, viu e ouviu um homem tocando um instrumento parecido com uma marimba feito com garrafas. De acordo a quantidade de água contida nas garrafas o som ficava mais ou menos agudo e grave, formando a escala musical completa. O menino que tinha na época, aproximadamente 08 anos de idade não sabia música, porém chegando à sua casa escutou e decorou a música que sua irmã, Maria Auxiliadora sabia solfejar chamada “O Cravo Brigou com a Rosa”, canção que ela aprendeu no curso de canto orfeônico que estava fazendo no antigo Ginásio de Jequié (do Padre Spínola), e como Eden tinha visto o homem tocar a tal marimba no circo, ele colocou garrafas de acordo o som da música solfejada, conseguindo tocar a melodia. Entretanto, somente com os tons naturais da escala musical. Henrique Meira achou tão interessante o talento musical e o instrumento feito pelo seu filho Carlos Eden, que contou para o seu amigo e jornalista Dr. Jovino Astrê. O jornalista tinha um acordeon Hering de 4 baixos, a famosa “pé de bode” e presenteou o instrumento ao filho do seu amigo. Eden gostou muito do presente e do jeito que fazia nas garrafas, tocava agora no “pé de bode”.  No ano de 1961, quando tinha 13 anos de idade ganhou do seu pai um acordeon Hering de 24 baixos. Como não sabia música, teve muitas dificuldades e “na raça”, aprendeu a “tocar de ouvido” o novo e bem melhor instrumento musical, lembrando de Luiz Gonzaga falar em uma de suas músicas: “pra que tanto baixo? Arreparando bem, ele só toca mesmo em dois”.
Mais tarde, com o surgimento dos Beatles, da Jovem Guarda a turma tentava tirar da cabeça de Carlos Eden de continuar tocando acordeon dizendo: “acordeon é coisa de velho, qual é, nada, o negócio é violão”. Eden protestava falando que não sabia pra onde ia tocar violão, e a turma insistia: “nada a gente aprende”. Resultado, a turma terminou vencendo e Eden vendeu a acordeon, para comprar um violão. Na época, o dinheiro da venda deu para comprar um violão Giannini e  outras coisas mais. Em 1964 com 16 anos de idade, ainda não tocava em conjunto, conhecia a turma que tocava, porém não tinha amizade. Conhecia Delson Macedo e Odelival Santana, que ouviam o pessoal do “Atalaia” ensaiar, conjunto que tinha músicos como Marinho, Bené e Jaime Luna.  Um colega de sala no IERP, Corbulon Rocha tocava músicas de Dilermando Reis, entretanto, a turma dizia que ele também, deveria era aprender a tocar Rock e as músicas da “Jovem Guarda”, e passavam para o amigo dele as harmonias básicas do violão, que Eden também foi aprendendo.
Nesta época, Carlos Eden trabalhou pela primeira vez durante o período de um ano como funcionário da Rádio Bahiana de Jequié, fazendo experimentalmente sem carteira assinada, locução no “Vitrine Musical”, programa que ia ao ar todos os dias das 16 às 17h. No curto tempo que passou na empresa, o locutor teve o prazer de conhecer o colega Humberto Roosevelt, locutor que segundo Carlos Eden é pouco lembrado pelos companheiros que atuam nas rádios de Jequié. Humberto foi o criador do famoso “Ritmos da Juventude”, programa musical apresentado todos os dias das 17 às 18h de 1964 até 1967 e também apresentador do programa de auditório “Os Brotos Comandam” realizado nas manhãs de domingo no Cine Jequié de 1965 até 1967, o primeiro no estilo “música jovem”, com conjuntos modernos para a época. O “Bossa Seis” foi um dos conjuntos que tocaram e acompanharam os calouros no programa. Carlos Eden chegou a cantar e tocar Escaleta, depois de ser apresentado pelos amigos Delson e Corbulon para a turma que tocava no conjunto criado por influencia de Humberto Roosevelt, chamado “Os Morcegos”, composto também pelos músicos José Pinheiro, Reinaldo Falcão, Corbulon e Binho, e que fazia apresentações no programa.
Depois, a banda passou a tocar em festas nos clubes da cidade e devido a um desentendimento do proprietário Rubens Almeida e o empresário Humberto Roosevelt, foram substituídos o baterista por Getúlio Jucá e o baixista por César Almeida, entrou Paulo Krupa na guitarra base, Ivan Dias no saxofone e Carlos Eden na guitarra solo, mudando o nome do grupo para “The Byrds, talvez porque o nome era um pouco parecido com Beatles. Esta banda tocou em festas na região e acompanhou o cantor Wanderley Cardoso numa turnê em Itapetinga, Conquista e Jequié. O grupo terminou em dezembro de 1967, tendo Carlos Eden parado de tocar, voltando a estudar em 1968 no IERP, para concluir o ginasial e o curso científico. Em seguida o conjunto “Bossa Seis”, que estava acabando, se juntou com alguns componentes do “Byrds” e, inspirados pelo tropicalismo, formaram o “American Hippies”, conjunto que existiu por pouco tempo. Um pouco mais tarde, Eden se juntou a esses mesmos músicos para formar a “Banda do Leste”, que juntamente com o criativo grupo “Arpão” (Tomaz Meira, Luiz Meira e Rafael Vieira) fizeram uma apresentação no palco do Cine Auditorium. A “Banda do Leste”, também, não durou muito tempo.

Jornalistas de Jequié. Em cima: Adauto Cidreira, Wilson Novais e Henrique Meira. Embaixo: Luiz Cotrim, Eusínio Soares e Eunísio Bomfim. Cartun de C. Eden. 
O cartun, outra arte, mais um presente de Deus dado e usado com perfeição por Carlos Eden. Na mesma fase infantil que a música adentrou na sua vida, o nosso artista, além disso, andava rabiscando no caderno e no quadro - negro na sala de aula, onde era repreendido pelo professor, porquanto sujava os objetos utilizados na educação dele e dos colegas. Em 1964, outro aprendizado determinante nesta arte ocorreu na exposição realizada durante a festa de Santo Antônio pelo seu irmão Anatólio Meira Magalhães, ótimo pintor e caricaturista, oportunidade que o menino curioso observava e copiava as caricaturas expostas na barraca. Nesta fase inicial de aprendizagem, Eden copiou desenhos contidos nas capas de revistas em quadrinhos, principalmente os personagens cômicos da Revista “O Cruzeiro”.
Começou realmente a fazer Cartun, influenciado por Ziraldo, Henfil e Jaguar no início da década de 70 no IERP (Instituto de Educação Régis Pacheco), onde estava fazendo o curso científico, época em que desenhou junto com Severio Giudice para os jornaizinhos “O Antena” e o “O Radar”.

                             Charge de Carlos Eden. 
Extremamente alegre Carlos Eden contou que de 1969 até aproximadamente 1973, realizou na companhia do artista plástico João Batista Pessoa, pintando e Anatólio Meira fazendo as caricaturas, várias ornamentações carnavalescas na ACJ (Associação Cultural Jequieense), utilizando Cartuns e Charges. Os artistas Jequieenses eram pagos pelos trabalhos, remuneração que alguns gastavam com bebidas nas próprias festividades. A primeira ornamentação, para Eden foi a mais interessante, pois estava no auge do tropicalismo e nela usaram figuras caricaturais de pessoas famosas como os Beatles, e outros personagens conhecidos. Fizeram uma mistura com personagens de Jequié, como Balbino comandando uma parada com um tanque de guerra soltando bananas e Caetano Veloso com um cacho das frutas na mão, dizendo: “yes, nós temos banana”.  Balbino vestido de general ia gritando: “fogo, fogo!”.
Depois deste período, Carlos Eden trabalhou no ano de 1975 com carteira assinada na Prefeitura Municipal de Jequié na administração de Landulfo Caribé e posteriormente foi trabalhar em 1977 na CDL, a convite do irmão, Raymundo Meira.
Após insistir no tema exposição, Eden lembrou que na década de 80 participou de uma mostra com seus trabalhos na Câmara Municipal de Jequié.  Val Rodrigues e Omar Dias realizaram o evento e trouxeram Nildão, cartunista famoso de Salvador e Eden foi convidado igualmente para expor os seus Cartuns.
O jornal A Tarde, ainda naquele período publicou durante uns 10 anos como colaboração, os Cartuns de Carlos Eden na seção criada por Herbert Magalhães, professor de Artes da UFBA chamada Cartunarte, dedicada ao humorismo artístico. Além disso, através do professor os seus trabalhos foram apresentados em sala de aula, tiveram ótima aceitação dos alunos e foram colocados no mural da universidade.
O jornal Jequié começou a ser impresso em offset, novidade implantada pelo Jornalista Wilson Novaes Junior nos anos 80. Para fazer semanalmente as charges políticas, Novaes convidou e remunerou Carlos Eden durante o tempo que contribuiu para o jornal.
Vários outro meios de comunicação publicaram charges, cartuns e textos do nosso conceituado artista como Jornais, revistas e blogs.
Foram feitas ainda por Carlos Eden, ilustrações para diversos livros de escritores Jequiéenses e de outras localidades.

Capa do livro "Fatos Pitorescos da Cidade Sol" de Raymundo Meira, com ilustrações de C. Eden. Criação do arista gráfico Carlos Elias, filho de Eden.
Carlos Eden voltou a participar em outra exposição na década de 90, apresentando seus desenhos a convite de Júlio Lucas na programação cultural realizada na Casa da Cultura Pacífico Ribeiro. No SESC Jequié, a convite da direção expôs suas Charges e Cartuns de 04 a 10 de março de 2012. No Centro de Cultura ACM de Jequié, convidado pelo diretor Alysson Andrade participou da “Semana Multiartística”, expondo suas Charges e Cartuns de 18 a 22 de agosto de 2013.

 “O Professor”. Òleo sobre tela de C. Eden em homenagem ao professor Antonin Brioude. 

Carlos Eden também é artista plástico, e suas poucas pinturas em tela foram expostas em algumas exposições coletivas realizadas. 
Na publicidade trabalhou fazendo cartazes para Prefeitura Municipal de Jequié, CDL, EMATER-BA, entidades; e logomarcas para empresas diversas. Desenhos para outdoor, desenhos para rótulos diversos, trabalhos que foram pagos pelos contratantes.
A entrevista foi interrompida para Charles Meira abraçar outra neta de Carlos Eden que havia chegado para fazer os deveres da escola. Prosseguindo o nosso bate papo, a música voltou a ser mencionada. Meira contou que anos mais tarde, surgiu em Jequié o conjunto Kinta Dimensão, no qual era vocalista. Nessa época houve um festival no IERP e o grupo foi convidado para acompanhar alguns participantes. Lembra que o auditório estava lotado e o grupo usou uma bata de tecido preto, quentíssima no período de pleno verão de Jequié. Neste grupo Eden ficou pouco tempo, entrando Paulo Krupa em seu lugar. Posteriormente, sob a liderança de Marinho o conjunto passou a se chamar "Os Ímpares". Em 1973, Paulo Krupa deixou o conjunto, Eden retornou a convite de Marinho e permaneceu no grupo tocando em boates e clubes de Jequié e região durante dois anos.  Em seguida com a dissolução do grupo, Carlos Eden parou de tocar e os demais componentes foram tocar em outros conjuntos.

Grupo "Coroas de Jequié": Heros Ferreira, Givaldo Barros, Carlos Eden, Zezinho Magalhães. Charge de C Eden.

           Comprovando que a música realmente sempre fez parte da vida de Carlos Eden, em 1980 o músico participou e ganhou o Festival do Trabalhador no Cine Audutírium com a composição de sua autoria chamada “Voz do Sertão”, interpretada pelo “Hora Certa”, grupo formado por Jorge Beck, Billy Lula, Welf, Niene e outros. O evento era realizado por Astro Brainer e Telma Linhares. No mesmo ano e local, a convite da mesma coordenação participou como jurado, junto com Bené Sena, em outro Festival do Trabalhador. Na ocasião a pedido da direção do evento os ex-componestes do conjunto “Bossa Seis” formado por: Nilton Muniz, Bené Sena, Judimar, Eden como convidado, e a participação especial de César Almeida e Helinho, fizeram uma apresentação.
Anos mais tarde, participou do Festival de Música Regional, realizado ao ar livre pela 93FM novamente com “Voz do Sertão”, composição interpretada na ocasião pelo acordeonista Claudinho do acordeon e classificada em segundo lugar no evento.
  Carlos Eden, Aroldo Vieira, Bené Sena, Marcos Sanches e George Lima tocaram juntos num “arguidá”, o que significava “banda sem nome, composta de músicos saídos de outras bandas”.  Aroldo nesse período desistiu de tocar e foi trabalhar em rádio FM. Quando Bené Sena realmente criou o grupo “Arguidá”, a formação era a seguinte: Bené Sena, Maurílio, Alan Borges e Ronaldo. Eden afirmou que em 2007, participou por algum tempo, cantando e tocando um pouco, como convidado nas apresentações do “Arguidá”. Paralelamente surgiu o grupo “ Coroas de Jequié”, formado pelo seu proprietário Heros, Zezinho Magalhães, Eden, Givaldo Barros e Jorge Beck. O conjunto foi formado para tocar no São João de Jequié de preferência o repertório de Luiz Gonzaga, entretanto, a pedidos, tocou também um repertório variado em festas da Maçonaria, Boate Chão de Estrelas, Armazém Mineiro e outros locais.
Depois desta fase, Carlos Eden Meira parou completamente. Hoje o nosso artista está aposentado e ocupa o seu tempo lendo, escrevendo, fazendo cartun, charge, pintando e cuidando das netas.
No final da entrevista, depois de Carlos Eden cantar uma música dos Beatles e Charles Meira uma composição própria, confidenciou que o seu atual e principal intento é editar um livro que está praticamente pronto, obra que contará com textos selecionados misturados com cartuns e poesias.

Um comentário:

  1. Um bom amigo com o qual tive o privilégio de conviver como colegas no científico no IERP e na edição do Radar, ilustrado por esse artista genial. Não nos vemos há muitos anos mas as boas lembranças da Bela Vista não se apagam.

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