quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Mais umas de Dag o caçador

         Carlos Eden Meira
                                                               
Outra das boas histórias e das mais insólitas do caçador Dag, personagem de quem já falei em outra ocasião, é a do “espinheiro mal-assombrado”. O pai do Dag tinha uma antiga vitrola, na qual rodavam de preferência discos de Luiz Gonzaga. O Dag teria contado, que das músicas do Gonzagão, a que ele mais ouvia era “Juazeiro”. Acontece que Dag só ficava satisfeito, após ouvir “Juazeiro” umas duzentas vezes por dia, o que fez com que seu pai já a beira de um colapso nervoso, apanhasse o disco num acesso de ódio, atirando a peça no quintal da casa, onde havia uns arbustos cheios de espinhos, espatifando o disco de encontro ao espinheiro. Numa noite de inverno, o vento uivava no telhado da casa fazendo com que Dag, não conseguindo dormir, passasse a prestar atenção aos ruídos noturnos. Foi então que um som diferente gelou-lhe a espinha. Era um gemido misturado ao uivar do vento: ai, ai, ai...
Aterrorizado, Dag acordou os pais e os irmãos que também assustados, ouviam o gemido: ai, ai, ai... O barulho vinha do quintal, para os lados do espinheiro, mas, não havia ninguém lá. Só os arbustos cheios de espinhos. Era assombração! No dia seguinte, Dag intrigado foi ao quintal observar o local de onde vinham os gemidos, e, após minucioso exame, chegou a uma conclusão a qual comprovaria naquela noite.
Tarde da noite, Dag atento aos ruídos, principalmente do vento que se tornava mais intenso naquele horário, foi ao quintal com uma lanterna, enquanto ouvia novamente os gemidos: ai, ai, ai... Chegando ao espinheiro, Dag decifrou como ele havia deduzido, o estranho caso do “espinheiro mal-assombrado”. Um dos pedaços do disco de Luiz Gonzaga, justamente a parte onde Gonzagão cantava “ai Juazeiro, ai Juazeiro”, ficara preso entre os arbustos. Como era um pedaço muito pequeno, ficara só a parte do “ai” sem o “Juazeiro”. Um espinho encaixado no sulco sonoro do pedaço de disco de vinil, balançado pelo vento, repetia só aquele trecho: ai, ai, ai... E o tal mistério foi, finalmente desvendado! Não sei se tais histórias cretinas têm autoria de algum humorista conhecido, mesmo porque, mais tarde, ouvi versões delas já um pouco modificadas, com outros personagens. Só sei que por aqui, nos velhos tempos, diziam que aconteciam com Dag.
Outra de matar é a do filhote de papagaio. Estando Dag numa de suas “famosas” caçadas, encontrou um filhote de papagaio com a asa quebrada. Utilizando o seu inseparável estojo de pronto-socorro, Dag fez um belo curativo na asa do papagaio, o qual se demonstrou muito agradecido. Só não disse “muito obrigado”, porque, conforme achava ele, sendo o bichinho ainda um filhote, não sabia falar. Colocou-o de volta num ninho que achou ali por perto, e foi-se embora. Muitos anos depois, estando Dag de volta àquele mesmo local, junto com um grupo de amigos caçadores, todos sentados no chão para o almoço, menos Dag que permaneceu de pé, quando ouviram uma algazarra de aves empoleiradas numa árvore, ali por perto. Era um bando de papagaios adultos, cujo líder com um velho esparadrapo sujo na asa, sobrevoou o grupo de caçadores, e disse bem alto:
- Os outros eu não conheço, mas, o que está de pé é Seu Dag!! (Carlos Eden Meira – jornalista e cartunista)

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