quinta-feira, 4 de outubro de 2018

A festa de São João

                           J. B. Pessoa

Considerada durante muito tempo como a segunda maior festança popular do Brasil, a festa de São João perdia apenas para o carnaval, que era festejado, durante três dias, em todo território nacional. Com a elitização do carnaval, que deixou de ser festejada na maioria das cidades brasileiras, a festa de São João é atualmente a que mais cresce no gosto da população. Enquanto o carnaval ia privatizando, gradativamente, o espaço público, impedindo os foliões de brincarem livremente nas principais artérias urbanas, a festa de São João, que era predominantemente rural e de periferia nas cidades, acabou ganhado os grandes centros, com despesas custeadas pelos governos municipais.
De origem européia, a festa de São João faz parte dos festejos juninos (Santo Antonio, São João e São Pedro) e, segundo alguns historiadores, a tradição de festejar o mês de junho vem de tempos anteriores à era cristã. No hemisfério norte é em junho que começa o verão e entre os dias 21 a 24 desse mês, o sol, ao meio dia, atinge seu ponto mais alto no céu. É o tempo solstício de verão, com o dia longo e a noite curta. Época do ano em que diversos povos - celtas, persas, germanos, italiotas e helenos – faziam rituais e invocações aos deuses por melhores colheitas. Alguns estudiosos vão mais além, afirmando que essa comemoração provém de tempos mais longínquos ainda, datando sua origem em terras mesopotâmicas, no período neolítico e, que, desde épocas remotas, a data é comemorada com fogueiras, danças, músicas e muita comida.
Os romanos herdaram as festividades pagãs dos povos primitivos. Com a divulgação da doutrina cristã em todo império romano, os cristãos foram, gradativamente, se tornando a maioria. Na medida em que os pagãos foram se convertendo na nova religião, essas festas foram sendo incorporadas ao mundo católico, pelas necessidades de adaptação da Igreja, aos costumes da população. Como São João Batista, primo de Jesus Cristo, teria nascido em 24 de junho, data em que era comemorada a festa pagã “Solstício do verão”, esta foi incluída e cristianizada pela Igreja, acabando por ser convertida numa festa católica, da mesma maneira que a festa pagã “Natalis solis invicti” foi transformada no Natal.
Foi por volta do século IV que a Igreja incorporou as festas juninas às suas festividades religiosas. Essas adaptações obedeciam aos costumes da população, e a variação existente entre as músicas e comidas típicas refletia o folclore e produção de cada região. Onde se produzia trigo e uva, a festa era comemorada com pão e vinho. A título de comparação, no nordeste brasileiro, onde a produção de cana, mandioca e milho é muito grande, a comemoração é feita na base da cachaça, broas, canjicas e pães de ló entre outras guloseimas.
A tradição brasileira de comemorar o dia de São João veio de Portugal. Como o povo português foi formado por uma mistura de diversos outros, (celtas, fenícios, gregos, romanos, germanos, árabes e judeus) a herança portuguesa desses povos foi transmitida ao brasileiro. A nossa maneira de comemorar estas festas é herdada de Portugal, que chegou ao Brasil, trazida pelos jesuítas, na época da colonização. A primeira festa junina no Brasil aconteceu no ano de 1603, quando o Frade Vicente do Salvador realizou a
primeira comemoração do São João na colônia, com fogueira, fogos de artifícios ao som das modinhas portuguesas. Em pouco tempo esse costume espalhou por todas as capitanias, sendo comemorado até hoje em todo território nacional.
A festa de São João era comemorada de maneira simples. Sendo considerada uma festa de roça, os festeiros vestiam-se à maneira caipira. Isso se devia ao fato da população brasileira ser predominantemente rural. Do ambiente sertanejo, passou para as áreas urbanas, conservando o seu caráter roceiro. Nas cidades era comemorado de acordo com as poses de cada um. O dono da casa fazia sua fogueira e com uma mesa farta de comida e bebidas abria suas portas, na espera dos festeiros. Não havia convites. Era uma festa em que todas as pessoas estavam, automaticamente, convidadas. Os festeiros, fantasiados de caipiras, comiam e bebiam à vontade; soltavam fogos e balões, pulavam e dançavam em volta da fogueira, ao ritmo das músicas tradicionais do cancioneiro brasileiro.
O cardápio da festa ficava por conta dos produtos típicos brasileiros, que no Nordeste era feita á base do milho. Plantado, sistematicamente, no dia de São José, em 19 de março, chegava às mesas em junho na forma de pamonhas, bolos, canjicas, mugunzás ou mesmo cosidos ou assados nas brasas da fogueira.
Atualmente a festa de São João perdeu muito da autenticidade de outrora. Mais concentrada em áreas urbanas, os costumes foram sendo modificados por força das circunstancias, surgidas em um mundo globalizado. Já não se acendem fogueiras como antigamente. O balão foi proibido e o costume de saltar fogos está desaparecendo do gosto das novas gerações. Enquanto no cone sul a festa se resumiu em quermesses de condomínios, no norte e nordeste predominam as grandes megafestas com adaptações ao gosto das ideologias e de uma elite de emergentes.
As celebrações das festas juninas acontecem em vários países do mundo. Na França é chamada de “Fête de Saint-Jean”, na Polônia de “Noc Swietojanska” e na Ucrânia de “Ivana Kapula”. Essas comemorações são muitos importantes nos países nórdicos como a Dinamarca, Noruega e Suécia, porém, as características dessas festas são mais relacionadas com a tradição pagã do solstício, do que com a tradição católica de países como Itália, Espanha, França e Portugal. As festas juninas da Suécia são as mais famosas do mundo. É considerada a mais importante do país, as quais são comemoradas mais do que o Natal. O que é comum nas comemorações juninas em todos os países é o fato deles celebrarem essas festividades com fogueiras, fogos, balões, danças e músicas típicas, além de muita comida e bebidas.  J. B. Pessoa (Publicado no jornal Livre Arbítrio)

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