terça-feira, 25 de setembro de 2018

Maria Zélia

                                       J. B. Pessoa

- “Come on everybody!... Clap your hands!... “Come on lets twist again...” – Clamava o novo ídolo da juventude Chubby Checker na canção “Let´s twist again”, sendo ouvido num pequeno toca disco, convocando uma turma especial do Ginásio de Jequié a cair na folia, naquele saudoso ano de 1962.
A concepção da juventude pelos novos valores começava a romper com os padrões do passado. O envolvimento de uma garotada, ainda na puberdade, naquele ritmo contagiante, aborrecia pais e professores e chocava os “guardiões dos bons costumes”. Essa turminha, para desespero das ascensoras colegiais, cabulava as aulas mais aborrecidas e ia para o bar do Cine Auditorium, torcendo o corpo naquela dança extravagante, denominada twist.
Como todo movimento, ou grupo, tem a sua musa, a nossa era uma encantadora menina de doze anos, chamada Maria Zélia. Achamos desnecessário descrever a sua imagem! Basta imagina-la como se fosse uma Marilyn Monroe no inicio de sua adolescência! Os meninos, com idade entre os doze a dezesseis anos, idolatravam-na e a “Turma do Rock” a considerava como a menina mais “pra frente” da cidade.
Nas tardes de domingo, após as sessões de matinês dos cinemas da cidade, “essa turminha quente” reunia-se numa casa de alguns dos pais benevolentes e, ao som do rock e twist dançavam até o anoitecer, tendo Maria Zélia, entre outras garotas “avançadas”, como a animadora principal do evento.
Naquela época, a postura das meninas condizia com a de suas mães. O modo de vida delas refletia, ainda, o teor da década anterior, pois a explosão da rebeldia juvenil estava ainda por acontecer. Sendo assim, quando Maria Zélia e suas colegas cometeram a ousadia de colocar as saias da farda escolar uns poucos centímetros acima dos joelhos, foi um “deus nos acuda” no puritanismo das beatas da Capela da Imaculada Conceição. A peraltice das meninas foi louvada pelos garotos e a própria direção do colégio não deu muita importância no assunto. Sem querer, aquelas meninas estavam antecipando uma tendência natural, quatro anos antes de a inglesa Mary Quant criar a minissaia.
Quando a “Turma do Rock” surgiu em 1960, compostos por garotos entre onze a dezesseis anos, era, basicamente, um “clube do Bolinha”, pois as meninas temiam participar de algo tão inconveniente na visão dos adultos e da maioria dos jovens acima dos dezoito anos. Com o tempo, algumas garotas mais corajosas apoiaram os garotos, tendo Maria Zélia, como a líder daquelas maravilhosas meninas.
Essa turminha do “Ginásio do Padre” abriu o caminho paras as turmas posteriores e quando a “Jovem Guarda” estourou em 1965, encontrou um palco perfeito em nossa cidade, lotando os teatros com os programas de auditórios, fundados por componentes da “Turma do Rock”.
Maria Zélia saiu de Jequié no início de 1964. Sua família mudou-se para outra cidade em outro estado. Só tivemos noticias dela muito tempo depois. Estava feliz, casada e com filhos. Esperamos que a vida tenha-lhe trazido grandes venturas, pois ela nunca foi esquecida pelos amigos de sua infância e adolescência e hoje a saudamos como a garota mais “papo firme” da nossa época juvenil.  J. B. Pessoa (Publicado pelo Jornal Livre Arbítrio)

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