quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Curto e Grosso


                                                                              J. B. Pessoa
Em um esplendoroso domingo dos velhos tempos, um grupo de rapazes, sentados nas escadarias do Grupo Escolar Castro Alves, após a da última sessão do Cine Bonfim, comentavam com um famoso jornalista e boêmio local, sobre os acontecimentos que ocorreram no ano que terminava. A maioria considerava um ano de funestos episódios. Falava da perda do “pai dos pobres”, e da bela miss que perdeu o concurso, Isso sem contar o tremendo fracasso da seleção brasileira na copa do mundo, quando apareceu para juntar-se a eles, um jovem bêbado queixando-se da violência sofrida pelo irmão na noite anterior, na festa do Jequié Tênis Clube!
- Porra!...Meu irmão não fez nada!... Apanhar assim?
- Realmente!... Não gostei da maneira como o deputado tratou o rapaz! – Disse um estudante do Colégio Estadual, que acrescentou:
– Afinal Luizinho é quase uma criança!
- É isso mesmo! - observou outro rapaz, que também estava indignado com o ocorrido, e o jovem em questão era irmão da garota mais bonita da cidade!
- Também concordo! - Bradou um que há muito tempo queria uma aproximação maior com os irmãos de tão encantadora menina! E mostrando indignação, protestou com veemência:
– Agredi-lo daquela maneira é um ato inconcebível para um cidadão que nos representa politicamente! Afinal o rapaz só fez isso por agradecimento.
No baile do clube, o infeliz rapaz, depois de tomar muito uísque, partiu em direção da senhora do deputado e, querendo agradecê-la por um favor recebido, tentou beijar suas rechonchudas faces. Escorregou e o beijo estalou bem na boca da referida dama. Nesse momento o marido, também bêbado, partiu para pedir satisfações! Tudo poderia ser esclarecido sem nenhum contratempo. Porém, um bando de bajuladores partiu para o jovem, deferindo socos e pontapés, para vingar a honra do referido político.
- Mulher de homem tem que ser respeitada! – Berrou um sujeito da turma, que tinha sido desprezado pela bela irmãzinha a conselho dos impertinentes irmãos. Alimentando uma grande birra pelos rapazes, zombou com despeito:
- Comigo, ele teria apanhado era de correão mesmo!
As opiniões sobre o comportamento do agressor eram as mais variadas, e a calorosa discussão já caminhava um bom pedaço de horas, quando resolveram pedi a opinião do amigo jornalista, que alheio àquela situação, saboreava um uísque, que trazia sempre consigo:
- Então Wilson?... O que você acha de tudo isso?
O jornalista olhou para turma com um ar sério e disse a seguir:
- Concordo com o otário aí... Devia apanhar de correão mesmo!
Todos olharam incrédulos para o jornalista, esperando dele uma resposta favorável ao rapaz. Ele abriu o seu cantil, tomou mais um trago e acrescentou com deboche:
- Beijar uma baleia feia daquelas, merecia coisa pior!  (Publicado no jornal Livre Arbítrio) J. B. Pessoa.

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