segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Sem Ideais nem Grandeza

                               Carlos Éden Meira*
                                                                                        
O que teria levado o escritor e filósofo francês, Albert Camus, a dizer: “A política e os destinos da humanidade são forjados por homens sem ideais nem grandeza. Aqueles que têm grandeza interior não se encaminham para a política”? E o que dizer então, do “analfabeto político” citado pelo poeta e dramaturgo alemão, Bertolt Brecht, ao afirmar: “O pior analfabeto é o analfabeto político”. – “O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política”?
É claro, que uma citação vinda de uma mente brilhante como a de Camus, estaria muitíssimo longe de ser considerada como o pensamento de um “analfabeto político”, como o que foi descrito por Brecht. O que se entende é que as pessoas de bem se decepcionam com a política, ao ver que mesmo os indivíduos bem intencionados acabam traindo seus princípios ideológicos e valores éticos, ao assumir cargos políticos em que os interesses pessoais ou corporativistas da maioria de seus correligionários é que prevalecem, dentro de um sistema corrompido. Não são poucas as pessoas, que passaram grande parte da vida acreditando que na hora de votar, estariam cumprindo o sagrado dever de escolher aqueles que iriam lutar pelos interesses do povo. No entanto, essas pessoas, decepcionadas com essa nossa triste realidade política, perderam as esperanças. O nosso momento político estaria mais para o que disse Camus do que o que disse Brecht? Além disso, infelizmente, num país de leis equivocadas, onde os bandidos engravatados ou mesmo os marginais violentos e cruéis têm mais direitos do que o cidadão de bem, fica cada vez mais difícil qualquer demonstração de sentimento cívico, ou de patriotismo.
Não se pode considerar “analfabeto político” aquele que cumpre seus deveres de cidadão, pai de família, trabalhador que paga todos os impostos, obedece às leis, normas e regras diversas, acreditou em promessas e discursos inflamados em praças públicas, votou durante anos, crendo piamente que estava escolhendo o melhor para representar os anseios de sua comunidade, de seu estado ou de seu país, para depois descobrir horrorizado, que estava na realidade, o tempo todo “arrumando emprego para ladrão”, passando assim, obviamente, a não acreditar mais em política. É evidente que Bertolt Brecht se referia à política de maneira genérica, que engloba toda e qualquer atitude do cidadão para transformar e fazer evoluir o meio em que vive, e não a essa “política” mesquinha e retrógrada, que assola o território nacional.
O que não se pode negar, entretanto, é que quem enriquece com a política, só pode mesmo é gostar dela, porém, quem se sente enganado anos a fio pelos mentirosos candidatos e suas falsas promessas, passa realmente a odiar a política. Cada um à sua maneira, tanto Camus quanto Brecht estavam certos. A política, como disse o dramaturgo alemão, intrinsecamente faz parte da vida do cidadão, quer ele goste ou não de política. Entretanto, as pessoas honestas, conforme afirmou o escritor francês, tendem a se afastar enojadas do meio político, ao se defrontarem com as calhordices e atitudes infames que chegam às raias do absurdo, praticadas por aqueles que deveriam ser exemplos entre os homens públicos. *Carlos Éden Meira – jornalista e cartunista

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