sexta-feira, 4 de maio de 2018

VIZINHOS “BARULHENTOS”

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 Carlos Éden Meira

Tia Vinda, minha tia-avó, era irmã de Tia Ida, as quais moravam numa localidade daqui da região, conhecida como “A Volta”. Pode até parecer piada, mas, não é. Tia Ida e Tia Vinda moravam na “Volta”, e essa coincidência era assunto muito comentado pelos parentes e amigos que se divertiam com o fato.
Pois bem, Tia Vinda deixou a “Volta” e veio morar sozinha em Jequié, numa casa pertinho da nossa. De vez em quando, alguns sobrinhos e sobrinhas passavam algum tempo com ela, mas, boa parte do tempo ela morou sozinha, pois, permaneceu solteira a vida toda. Era pessoa muito amada por todos da família, pela sua personalidade franca, sincera e de caráter forte. Católica praticante, não perdia uma missa e simpatizava com os movimentos progressistas da igreja, apesar de não gostar de certos “modernismos”.
Numa bela manhã de domingo, ela ligou o liquidificador para fazer o seu suco de laranja. Silêncio total! Nada do ruído característico do motor do aparelho em funcionamento. – Sem energia! – Deduziu, ligando o interruptor de luz da cozinha, cuja lâmpada permaneceu apagada, comprovando a falta de eletricidade. Fez o suco num espremedor manual, bebeu e foi descansar.
Era quase meio-dia quando Tia Vinda apareceu lá em casa, visivelmente aborrecida com alguma coisa. Questionada a respeito, passou ela a explicar que iria passar o resto do dia lá em casa, porque já não suportava mais o barulho ensurdecedor de uma furadeira elétrica ou coisa parecida que funcionava ininterruptamente na casa vizinha à sua, a manhã todinha, e, até àquela hora, ainda não tinha parado. Compreendendo seu aborrecimento, dissemos a ela para ficar conosco o tempo que quisesse, até mesmo porque o tal vizinho, talvez não terminasse o ruidoso serviço tão cedo. Que absurdo era aquele? Em pleno domingo, dia de descansar e deixar os outros sossegados, alguém liga um aparelho barulhento daquele, durante uma manhã inteira! Pobre Tia Vinda!
À tardinha, ela resolveu que já era hora de voltar para casa, porque àquela altura, o tal barulho já deveria ter cessado. Ledo engano! O ruído continuava incessante, do mesmo jeito. Já estava decidida a ir à casa do vizinho reclamar daquele incômodo, quando bateram na porta da rua. Era um dos seus sobrinhos que chegara para passar uns dias com ela. Logo ao chegar, o rapaz percebeu o ruído, e perguntou:
* Tia, que barulho danado é esse?
* É o vizinho aí do lado – disse ela – acho que tá furando a parede. Já tô pra endoidar com esse barulho o dia todo sem parar. Acho que vou lá reclamar!
* Peraí, tia – interrompeu o rapaz – esse barulho tá vindo lá da cozinha!
* Ué! Da cozinha? Né não!
- É, tia! Vamos lá ver. – Na cozinha, o pobre coitado do liquidificador agora quente e fumegante, e que Tia Vinda havia ligado de manhã para fazer suco percebendo que não havia energia, ficara ligado. Quando a energia retornou mais tarde, disparou a funcionar por um bom tempo, cumprindo o seu dever de liquidificador. Tia Vinda era também, muito distraída. (Carlos Éden Meira)

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