Oscar Vitorino Moreira Mendes |
Tenho
buscado exercitar-me a cada dia para ser sempre mais tolerante com as coisas,
com os fatos e com as pessoas. Considero o exercício desta busca algo muito
importante, para que eu possa viver feliz e conviver melhor ainda ao lado
daqueles que me cercam em minha trajetória existencial.
Na
verdade, ao buscarmos o significado da palavra tolerância, descobrimos que a
mesma vem do latim - tolerare - que significa: "suportar" ou
"aceitar". Pelo contrário, ser intolerante supõe um comportamento que
traz desconforto para nós e para os que vivem ao nosso redor. Nesse caso, o
intolerante é considerado um sujeito chato, uma pessoa inconveniente, alguém
que incomoda os circunstantes. Assim sendo, tolerar um intolerante não é tarefa
fácil, mas necessária. No Google, encontramos a seguinte definição: Tolerância
é um termo que exprime o ato de agir com condescendência e aceitação perante
algo que não se quer ou que não se pode impedir.
Tolerância
& Intolerância
A
busca frequente de sentido para os termos tolerância e intolerância se dá em
razão do uso constante destas expressões no uso vocabular cotidiano. A filósofa
Ivone Gebara afirma que a palavra tolerância “percorreu uma longa história
marcada por diferentes situações históricas e culturais que foram introduzindo nuances
e conteúdos diferentes ao conteúdo inicial”.
A
priori, a tolerância não é um dom, ou seja, a pessoa não nasce tolerante. A
tolerância é algo que se deve aprender e, o aprendizado passa pelo exercício
exaustivo do autoconhecimento; tolerância e paciência avizinham-se no sentido,
pois estão na base de uma virtude que consiste em manter um controle emocional
equilibrado e isso só é possível quando se conhece os próprios limites.
As
pessoas tolerantes são as que buscam formas e possibilidades para converter os
conflitos pessoais, sociais ou intelectuais em situações confortantes para as
partes envolvidas. Assim, a tolerância é uma ferramenta para as pessoas que
buscam viver de forma mais pacífica consigo mesmas e
com
os outros. A tolerância é uma atitude fundamental para quem vive em sociedade.
Uma pessoa tolerante normalmente aceita opiniões ou comportamentos diferentes
daqueles estabelecidos pelo seu meio social. Esse tipo de tolerância é
denominada "tolerância social".
Devido
a grande importância para a humanidade, a tolerância teve como prêmio, a
criação pela ONU, de o Dia Internacional da Tolerância, comemorado dia 16 de
novembro. Esta é uma das muitas medidas da Organização das Nações Unidas para o
combate à intolerância e da não aceitação da diversidade cultural. Esta data
ainda visa combater a intolerância religiosa, que consiste na falta de
compreensão que algumas pessoas têm sobre o direito de cada indivíduo expressar
a sua crença. Na medicina, por exemplo, o termo "tolerância medicamentosa"
é utilizado para designar a capacidade de um indivíduo para suportar
determinados medicamentos. Já a “tolerância alimentar” é a expressão usada para
se referir a resistência do organismo ao consumo de determinadas substâncias,
como a lactose, por exemplo. A expressão "tolerância zero" é
utilizada para definir o grau de tolerância a uma determinada lei, procedimento
ou regra, de forma a impedir a aceitação de alguma conduta que possa desviar o
que foi previamente estabelecido. Por exemplo, "tolerância zero a motoristas
embriagados".
Por
sua vez, no dicionário Aurélio, encontramos a palavra tolerância, como
qualidade de tolerante. Ato ou efeito de tolerar. Tendência a admitir modos de
pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de determinados
grupos, políticos ou religiosos, que tudo desculpam,que são indulgentes e
benignos, que admitem e respeitam opiniões contrárias às suas; que consentem ou
permitem tacitamente o que deveria ser censurado ou castigado.
Mas
afinal, por que devemos aprender a tolerar?
Aprender
é fácil sempre que há disposição para aprendemos a ler, comer, observar, falar,
escrever, conversar, enfim aprendemos a fazer tudo e de tudo um pouco.
Em
nosso dia a dia, normalmente acontecem fatos inquietantes, a exemplo de quando
vemos alguém na rua e já começamos a rotular: negro ou
branco;
alto ou baixo; gordo ou magro; feio ou bonito; novo ou velho; homem ou mulher.
Seja qual for a situação, só vemos rótulos e mais rótulos... No mais das vezes,
esses rótulos nos ajudam na hora de definirmos os outros, mas, ao mesmo tempo,
nos atrapalham na hora de nos definirmos a nós mesmos.
Reflita-se
por exemplo, a questão da liberdade de expressão, que é o direito de se
manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos. Num artigo da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, está expressa a permissão de se procurar e
transmitir informações sem interferências, e é dito que: “É vedada toda e
qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.” Até aí nós
concordamos, pois a censura impediria a transmissão de informação, e se não
houver liberdade de expressão, está a ser posto em causa o próprio conceito de
democracia, uma forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo e que,
portanto, permite a existência de opiniões distintas.
Aristóteles
acreditava que a liberdade consistia numa harmoniosa integração do indivíduo
numa sociedade. Porém, para haver a integração de indivíduos na sociedade, é
necessário haver comunicação, e para haver comunicação é necessário que haja
liberdade para se externar uma opinião, ou seja, liberdade de expressão.
Contudo, é necessário reforçar a ideia de que a dignidade humana, um dos
direitos fundamentais, deve ser respeitada, e isso inclui respeitar valores
éticos, morais e sociais de cada indivíduo, incluindo mesmo a sua privacidade.
Para tanto, acreditamos que se devam estabelecer alguns limites. Como disse o
filósofo Herbert Spencer, "A liberdade de cada um termina onde começa a
liberdade do outro." Não se pode confundir liberdade de expressão com
banalização, ou com a expressão de ideias não fundamentadas que visam apenas
colocar em risco a dignidade dos outros, com desrespeito pelos outros.
Desrespeitado,
agredido, aviltado, o ser humano é capaz de abandonar a racionalidade e cometer
atos de intolerância, fugindo ao controle do bom senso e ao respeito devido a
uma vida em sociedade. Assim sendo, é sempre bom lembrar o que disse a grande
Helen Keller: "o resultado mais elevado da educação é a tolerância".
Sabe-se
que a educação consiste na permuta de ideias, princípios, normas e valores que
constituem a cultura de uma comunidade. O processo
educativo
não se restringe apenas à escola, enquanto espaço geográfico e local de
transmissão e aquisição de saberes. O processo educativo pode e deve ser vivido
no seio da família, no ambiente de trabalho e noutros espaços da vida pública.
Entretanto, isso também significa que ela poderá ser bem ou mal construída, ou
seja, a partir dessas múltiplas experiências, poder-se-á cultivar tanto a
tolerância como a intolerância.
A
chave para promover a tolerância é educar para a razão. De acordo com Fernando
Savater, a razão não é apenas uma tendência automática, mas um resultado
social. E a educação tem o papel de potencializar a racionalidade através do
uso da linguagem, já que ser racional não é ser apenas bem informado, mas saber
analisar, filtrar e organizar a informação.
Grande
estudioso da Ética e da Importância da Educação, Fernando Savater aponta três
grandes virtudes imprescindíveis para se viver em sociedade: a coragem, a
generosidade e a prudência.
1ª)
coragem para poder viver; 2ª) generosidade para poder conviver, pois a
convivência com outros é sempre uma experiência dolorosa; 3ª) prudência para
sobreviver; porque, evidentemente, a vida está cheia de armadilhas.
É sabido
que a vida moderna é marcada pela intolerância, a qual tem como base o não
suportar, o não sustentar uma situação ou pessoa; é o não exercer a paciência.
Na intolerância o que fica evidente é o ódio, a raiva, e a indiferença. Esses
elementos da intolerância são encontrados nos relacionamentos superficiais e,
no excesso de informações que se recebe ultimamente. Tal fato tem afetado, e
muito, a forma de vida das pessoas: questões fundamentais são tratadas com
superficialidade; é chocante a banalização como é tratada a vida humana; a
busca excessiva para se ter sempre mais ou para ser sempre melhor ou maior que
os outros. Tudo isso e muito mais têm contribuído para o aumento dos elementos
da intolerância, impedindo que sejam cultivados os elementos da tolerância:
amor, paz, paciência, compreensão, perdão, coragem e generosidade, elementos
que promoveriam o crescimento e a maturidade do ser humano e tornariam
possível, saudável e feliz a convivência humana.
Oscar Vitorino Moreira Mendes
Méd. Vet. e Prof.
Aposentado da UESB
Presidente da AMVEJ
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