Charles Meira
Depois de uma conversa com Maíca jogador da ADJ na década de 70, para
solicitar dele um relato da sua carreira na agremiação, fui estimulado pelo meu
amigo a entrevistar “Manequinha”, atleta da época que também forneceria dados importantes
relacionados à história do time do Jequié. Convencido pelos argumentos
apresentados por Maíca, na manhã do dia 29/03 entrevistei “Maneca” no local que
funciona o seu comércio.
Da maneira mais simples possível conversei durante quase quarenta minutos
com “Maneca” no interior do seu comércio e do lado de fora fiquei em pé, encostado
no balcão, próximo de alguns clientes e amigos dele, sentados em volta de duas
mesas existentes. Manoel Reis Barbosa,
mais conhecido por todos como “Maneca ou Manequinha”, nascido em 10/06/1947 na
cidade de Jequié BA, 69 anos de idade bem vividos, iniciou o bate-papo contado
que começou a jogar bola com 13 ou 14 anos nos babas que aconteciam naquela época
no areão do Rio de Contas. Quando completou 15 anos de idade e sobressaindo dos
demais jogadores foi convidado para atuar no time amador do Flamengo de Jequié,
equipe que antigamente tinha as categorias de aspirante e juvenil. De início
jogou no juvenil e em seguida foi para o aspirante, ocasião que a equipe era dirigida
por Ananias, onde jogou durante um longo tempo nos campeonatos realizados nas
areias do Rio de Contas.
Clube Recreativo Jequiezinho - Lando, Valdir, Geir, Carlos, Nei, Pão, Zé Souza e Valdir. Agachados: Jaime, Bomfim, Vando, Papada, Maneca e Pichica. |
Anos depois passou a treinar todos os dias no estádio Aníbal Brito, local
onde o time amador do Jequiezinho realizava também seus treinos, motivo
principal dele mudar naquele momento para essa equipe. No Jequiezinho “Manequinha”
permaneceu até o ano 1967.
Neste mesmo ano foi com Paulinho de Santa Inês, um dos melhores pontas de
Jequié fazer teste no Fluminense de Feira, ocasião que a agremiação tinha
jogadores como: Onça, João Daniel e Renato Setenta. Foi no juvenil do
Fluminense de Feira que conheceu e fez amizade com Maíca. Paulinho voltou, pois
o Fluminense não pagava. “Maneca” ficou e chegou a jogar na Seleção de Feira de
Santana. Neste período retornou para passear em Jequié e pegar o restante das
suas coisas e depois assinar contrato com o Fluminense de Feira, entretanto aqui
chegando recebeu e aceitou uma proposta de Abreu para jogar no time amador do
Vasco da Gama de Jequié, equipe presidida por Moisés Amaral e Deusdete Amaral,
onde jogou até assinar contrato com a ADJ.
Vasco da Gama Esporte Clube - João Potó, Mauro, Tó, Catingueiro e Mané Barrão. Agachados: Bilu, Lourão, Venão, Maneca e Pedro Macambira. |
Jogando nos times amadores do Jequiezinho e do Vasco da Gama de Jequié, “Maneca”
foi convocado para a Seleção de Jequié. Contou que jogou todos os jogos contra
a Seleção de Cachoeira. O Jogo que ele tem mais recordação foi aquele na cidade
de Cachoeira, onde a torcida de Jequié tomou muita pancada. Na Graça em Salvador o campo estava cheio e naquele
tempo falado mesmo era Cachoeira, tinha um timão, mas fomos também com moral,
não sei o que houve, jogamos mal, o time deles era bom, demos chance eles
fizeram 2 x 0. Hoje ele não sabe falar o porquê de não atuarem bem no primeiro
tempo. “Maneca” e Marcos eram titulares da seleção, porém na hora do jogo estavam
fora do time, do banco e foram liberados para ficarem na arquibancada com a
torcida do Jequié. No intervalo do Jogo vieram chamá-los. Marcos disse que não
iria, “Maneca” deu a mesma resposta. Depois de eles negarem várias vezes,
concordaram e foram, porém Marcos falou que somente entraria quando faltassem
uns 15 minutos para terminar a partida. “Manequinha” iniciou o jogo no segundo
tempo no lugar de Maíca e depois Marcos entrou no de Valmir e pediu para quando
“Maneca” pegasse a bola jogasse no vazio. Com duas bolas que Marcos pegou e jogou
para traz, Dilermando chegou e bateu, foi dois golaços.
Seleção de Jequié 0x0 Itapetinga - 14- 12- 1969 - Caculé, Dilermando, Tufu, Dete Leão, Maneca, Zé Augusto, João Potó, Edmilson, Carlinhos, Maíca e Eduardo Corró. |
Marcos e Maneca na Seleção de Jequié. |
Maneca com a faixa de campeão do Campeonato Intermunicipal de Futebol da Bahia em 1969. |
Chegando aqui em Jequié foi uma festança. Waldomiro Borges fez uma recepção
no Itagibá Hotel e deu um bicho para o time. O capitão Zé Augusto dividiu o
premio de 50 mil ou mais para cada atleta, na época muito dinheiro. Na ocasião,
o prefeito pediu que o prêmio fosse dividido para os jogadores titulares, reservas
e o massagista.
Durante a campanha da Seleção de Jequié aconteceram muitos fatos
interessantes na concentração nos momentos de descontração dos jogadores e
“Maneca” contou inicialmente que na época quando estavam concentrados na
Fazenda Provisão jogando dominó com Roque Bicudo e Dete Leão, local que tinha
muitas mangas e eles pegavam as mangas, enchia sacos e mais sacos, enquanto ele
jogava carteado e observava. Disfarçadamente “Manequinha” falava para os
colegas que ia ao sanitário, aproveitava e pulava a janela existente, pegava as
mangas dos colegas, escondia e voltava. Quando os donos iam pegar as mangas, nada
de mangas, ficavam zangados e procurando quem foi o ladrão. Roque logo falava: ““Manequinha”
é quem gosta de fazer estas coisas, porém daqui ele não saiu”. No dia seguinte,
“Maneca” aproveitou o carro que levava os jogadores para o estádio Aníbal Brito
e deixava as mangas na sua casa. Confirmando o que diz o ditado popular, “mentira
tem pernas curtas”, um dia a casa caiu. Passados alguns dias, “Maneca” entregou
novamente as mangas na sua casa, porém distraído não viu Dete Leão e Roque
Bicudo que discordaram da atitude dele e imediatamente começaram a gritar: “encontramos
o ladrão, foi você o ladrão, foi você o ladrão”. Muita gozação e muita gargalhada
dos jogadores que estava no carro. Em seguida contou outro fato que aconteceu no
bairro do Curral Novo na casa do senhor Moisés, pai de Cabeça, onde a seleção concentrava
durante toda a semana. Neste dia os jogadores tinham comido demais, entretanto
Roque Bicudo que gostava de aprontar, acordou “Maneca” e disse: “vamos à
cozinha comer um bolo que “Bajara” trouxe”. Passaram na sala, onde dormiam no momento
um bocado de homens e quando chegaram à cozinha Izidório estava perto dormindo,
porém ele tinha um olho de vidro, então Roque gritou: “para, ele está na
treita”, Roque pensou que ele estava acordado e com o grito dele Izidório
acordou assustado e nós corremos, voltamos para a cama e o dirigente desconfiado
que os jogadores estavam roubando merenda durante o período da noite gritou: “quem
foi, quem foi” e todos acordaram, mas o ladrão de merenda não foi encontrado.
No quarto disfarçadamente os procurados Roque Bicudo e “Manequinha” estavam
deitados, com os olhos fechados e roncando.
Associação Desportiva Jequié - Esquerdinha, Maíca, Tufu, Zé Augusto, Edmilson, Carlinhos e Foca. Agachados: Betinho, Chinezinho, Tanajura, Maneca e Marcos. |
Após relatar estes dois fatos engraçados “Manequinha” começou a falar da
formação do futebol profissional em Jequié. Contou que naquela época tinha aqui
Hugo Vitamina, um excelente zagueiro que não jogou na ADJ por motivo de
contusão, Roque Bicudo, outro bom zagueiro que preferiu continuar como
funcionário dos Correios e Eduardo Corró, que optou prosseguir estudando Medicina.
“Maneca” disse que escolheu a
profissionalização porque gostava de jogar bola e no ano de 1970 assinou
contrato com a Associação Desportiva Jequié. Que na formação da equipe alguns jogadores
ficaram disputando o Intermunicipal como: Edmilson, Dilermando, Caculé e a
maior parte Jogando na ADJ. Que o primeiro técnico do Jequié foi Maneca
Mesquista, depois veio Geraldo Pereira. Que Jogou desde o primeiro jogo que foi
Jequié 0 X 0 São Cristovão no estádio Waldomiro Borges. Que depois ganharam
todos os jogos, inclusive o Bahia por 2 X 1. Que nesse jogo não atuou, pois
havia chegado Edmar que jogava no Vasco da Gama do Rio de Janeiro e Maíca foi o
escolhido para continuar jogando, ficou no banco, porém era a primeira opção do
meio de campo no momento de uma substituição. Que nesta época chegou também
Pedro Pradera, Edson Porto e Gilson Porto. Que a ADJ concentrava na Rua Mota
Coelho, perto onde hoje é a LEBRUT e no quarto ficava Maneca, Dilermando e
Tanajura. Que enquanto jogavam baralho e dominó, pois não tinha televisão,
Internet, Dilermando estudava para formar em medicina.
“Maneca” contou também a história
do jogo Bahia 6 X 1 Jequié em Salvador. Falou que chegaram a Salvador anoitecendo.
No dia seguinte foram treinar no campo da Graça, pois a Fonte Nova não foi
liberada. Quando chegaram ao local não tinha espaço para estacionar, o ônibus ficou
um pouco distante. Largaram o carro aberto e o material de treino foi roubado,
inclusive depois correu um boato que o Bahia havia roubado, não acredito. Tiveram
que mandar comprar em Jequié, Salvador, tomou emprestado também de um time de
Salvador. Foi terrível, pois todos estavam acostumados com material e tiveram
que usar outro totalmente desconhecido. Não esperavam perder de 6 x 1, saíram
daqui invicto, ganhamos todos os jogos em Jequié. Jogamos aberto, fomos para cima
do Bahia, de igual, o estádio da Fonte Nova cheio, foi suicídio. “Maneca” disse que atuou o jogo todo e o
goleiro foi Edmilson. Que o time do Jequié Jogou com: Edmilson, Tufu, Zé
Augusto, Carlinhos e Paiva. Maica, Maneca e Chinezinho. Jorge Lima, Tanajura,
Dilermando e Marcos. Sorrindo disse que marcou o gol de honra e contou como
aconteceu: “parou a bola no meio de campo, bola que veio de um rebote da zaga,
não tinha ninguém para passar o jeito foi tirar a bola do meu pé, gol aberto,
de longe, estava no bico da grande área, fora da grande área, chutou e ela
pegou bem, mas antes de chegar ao gol ela picou na marca do pênalti, tomou
velocidade e enganou o goleiro Renato Setenta. Nem vibrou 6 X 0, vibrar como,
deixaram para outra.
Associação Desportiva Jequié - Foca, Zé Augusto, Edmilson, Carlinhos, Paiva, Maíca e Caculé - Agachados : Jorge Lima, Dilermando, Maneca, Prêto e Paim. |
Igualmente como na seleção, “Maneca” contou um fato engraçado que aconteceu
na concentração da ADJ. Contou que durante o tempo passado no Jequié, não ligava
para dinheiro, entretanto o pagamento começou a atrasar, queria um vale, não
saía vale para ninguém. A turma teve uma idéia. Maíca, Zé Augusto, Marcos e
Arnor conversaram com foca e com sua permissão Dilermendo e Tanajura bolaram uma
carta que continha um pedido da esposa de Foca dizendo que seus filhos estavam passando
fome na cidade de Santa Luz e o dinheiro que Foca ganhava gastava todo com
bebida. Foca pegou esta carta, tirou uma onda de doido, doido de mentira e
começou a fazer bagunça zoada na concentração na Mota Coelho que chamou a
atenção dentro da sede, gritando que queria morrer. Logo avisaram a diretoria
que chegou imediatamente. Perguntaram: “o que está acontecendo?”, ”o que ele
tem?”, os jogadores faziam que seguravam Foca e diziam que Foca era muito forte.
Foca chorando tirou a carta do bolso e disse: “olha aqui, leiam aqui”, quando
leram à carta a diretoria logo arrumou o dinheiro, apareceu o dinheiro. Foca pegou
o cheque e quando foi saindo de fininho, dando uma queda de asa, mas foi seguro
pelos jogadores exigiram de Foca o comprimento do trato. O dinheiro foi dividido
para os seis como foi anteriormente acertado. Quando tempos depois “Maneca”
contou para sua esposa, seu filho Fernando e relembra o fato para Foca eles dão
muita risada.
No término desta descontraída entrevista “Maneca” falou que o time da ADJ
jogava bem demais, em 1970 ganhamos cinco partidas no primeiro turno, bastava
um empate para tornamos campeões, porém perdemos para o Vitória da Conquista o
pior time do campeonato de 1 x 0 no Waldomiro Borges.
“Maneca
ou Manequinha” Jogou 04 anos no Jequié e parou de jogar futebol com 23 ou 24
anos de idade na ADJ e não jogou mais futebol. Nesta época, ainda bateu bola quando
fundou “O Baba dos Barrigudos”, onde jogava com Bandeja, China, Toe Guelê e ou
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