J. B. Pessoa
Capítulo - 64 do livro " Guris e Gibis".
Após o
almoço em família daquele especial domingo, Johnny foi se reunir com sua turma
embaixo da mangueira, onde era o ponto de encontro de todos eles. Ficou
surpreso ao ver o lugar vazio, sem as vozerias da garotada, sempre mangando
deles mesmos. Achando estranho aquele desaparecimento, foi procurar um por um
em suas casas. Os pais de cada um não souberam informar com precisão, o
paradeiro de seus filhos. A maioria achava que os garotos tinham ido para as
matinês. Johnny ficou intrigado com aquele comportamento, pois seus amigos
sempre o convidavam para qualquer ocorrência, principalmente às matinês de
domingo. Passavam apenas alguns minutos do meio dia, cedo demais para a
meninada seguir para os cinemas da cidade. Naquele momento o sol brilhava com
mais intensidade e fazia um pouco de calor, obrigando Johnny a procurar
refúgio, sentado sob a sombra da frondosa árvore, na tentativa de desvendar
aquele mistério. De repente apareceu Mamãe eu Quero, assoviando displicentemente
uma canção e saudou o amigo com alegria. Johnny respondeu alegremente ao
cumprimento e, fingindo pouco caso, perguntou ao menino:
- Você
viu a turma por aí?
-
Ué!... Você não está sabendo?
-
Sabendo do que, rapaz?
A
turma foi caçar nas margens do Rio da Suíça, com o pessoal do Bariri. Vão
voltar daqui a pouco, pois eles não querem perder o seriado de Tom Mix! -
Respondeu o garoto. Johnny, decepcionado com a turma, comentou:
- Puxa
a vida! Eles não me convidaram!
Mamãe
eu Quero explicou para o garoto:
- Eles
saíram de madrugada, antes do sol nascer. Tõe Porcino quis lhe acordar, mas Pé
de Pata disse que você gosta de dormir até tarde aos domingos!
- Ah,
isso é verdade! Deve ser por isso mesmo! – Disse Johnny, satisfeito com a
explicação do menino. Afinal seus amigos já tinham comentado sobre essas
caçadas aos domingos. Como tinha que acordar muito cedo, a empreitada não
seduzia o garoto. Mamãe eu Quero virou para Johnny e disse a seguir:
- Eu
vim aqui encontrar com você, para trazer um recado de Tia Zulmira!
- Um
recado da sua tia?!...
- Não!
Da Tia Zulmira, dona daquela venda no “Beco do Erva Doce”, onde vende tantos
bolos gostosos!
Ah
sim!... Tia Zulmira?!... O que será que ela quer comigo? – Perguntou Johnny,
admirado com a notícia.
O
pequeno gibi deu de ombros e fingindo surpresa, disse a seguir:
- Eu
não sei! Ela me disse que o assunto é do seu interesse e que era para eu ir
junto! Ela me disse também que era para você chegar antes das treze horas!
Johnny
ficou curioso com aquele convite. Depois do seu rompimento com Berenice, ele
nunca mais apareceu naquela modesta confeitaria. Agora, que sua namorada havia
partido de Jequié, ele cogitou uma visita àquela simpática senhora, para matar
a saudade de dias felizes. Como já estava vestido com seus trajes domingueiros,
despediu-se de seus pais, seguindo para o centro da cidade na companhia de
Mamãe eu Quero.
O
relógio da Matriz soava as doze badaladas graves e três agudas, anunciando às
doze horas e quarenta e cinco minutos, quando os garotos passaram pela porta
dos cinemas, onde a meninada começava a chegar, negociando as suas revistas.
Eles entraram na Rua Barbosa de Souza e depois seguiram pela íngreme rua, a
qual terminava na entrada do “Beco do Erva Doce”. Quando chegou a aquele
estabelecimento, encontrou sua proprietária, toda sorridente, que o recebeu com
um afetuoso abraço. Tia Zulmira disse, para o garoto com certa mágoa:
- Eu
precisei lhe convocar, para você vir nos visitar!
- Nos
últimos meses eu me dediquei aos estudos, pois vou fazer admissão neste ano! –
Disse Johnny, se desculpando, diante da amabilidade recebida.
- Está
perdoado! - Disse a solteirona, fechando as portas do seu estabelecimento.
Nesse momento todos os seus amigos apareceram, repentinamente, como se fosse
num passo de mágica. Todos estavam alegres e sorridentes, batendo palmas,
cantarolando a famosa cantiga:
Parabéns
pra você,
Nesta
data querida!
Muitas
felicidades,
Muitos
anos de vida!
Johnny
ficou feliz com aquele acontecimento. A sua timidez não atrapalhou a sua
conduta naquele momento e ele recebeu aquela comemoração com muita alegria. A
sua família já tinha comemorado o seu aniversário com um delicioso almoço.
Agora estavam ali, todos os seus amigos do Joaquim Romão, seus colegas do
Castro Alves e alguns amigos do centro da cidade, congratulando os seus treze
anos de idade. A turma estava sendo liderada por Eva Marli, que abraçou o
garoto, dizendo:
- Eu
tenho um motivo especial para lhe pedir desculpas pelo meu comportamento!
Afinal, se Berenice agiu com rigor em relação a você, foi por influência minha,
pois acreditei nas mentiras de Orlando. Espero que você me perdoe por tudo isso
e que continuemos amigos!
Johnny
retribuiu ao afeto da menina, dizendo:
-
Seremos sempre amigos! Eu já sabia de tudo! Deixei as águas rolarem, porque sei
que “a mentira tem pernas curtas”! Mas cedo ou tarde, a verdade sempre aparece.
Norma,
que ouvia atenta a reflexão de Johnny e como tinha sofrido muita difamação à
sua pessoa, disse revoltada:
- Só
que às vezes, ela aparece tarde demais e o estrago já foi feito!
Neide
e Eva Marli concordaram com a garota. Elas também já foram vítimas de intrigas
das chamadas “comadres de plantão” e do bando de pulhas cognominados de
“Piolhos do Tênis”. Bill Elliott, que odiava as chamadas fofocas, comenta para
os amigos.
- Todo
mundo está sujeito a intrigas! Agora vamos esquecer isso e pedir para Johnny
cortar o bolo de aniversário!
Nesse
momento aparece Tia Zulmira com um majestoso bolo com treze velinhas acesas e
coloca na mesa. Depois de cantarem novamente a velha musiquinha, Johnny soprou
as velas e, num pequeno discurso, agradeceu a todos pela gentileza recebida.
Luís Augusto também disse algumas palavras, congratulando o primo,
principalmente por ele ter conseguido se graduar no curso primário, tirando o
primeiro lugar nas provas finais. Em seguida Eva Marli entregou a Johnny um
pacote, como presente de aniversário. O garoto se apressou em abrir e descobriu
emocionado, um retrato de Berenice em molduras douradas, com uma dedicatória ao
lado direito da foto, que dizia:
“Ao
meu adorado João Evangelista Bruni Pereira, o querido e sempre amado Johnny the
Kid. Da sua sempre namorada, Berenice Muniz Spencer.”
O
garoto ao receber o presente, não conteve a sua emoção e deixou as lágrimas,
rolarem em suas faces, sem o menor pejo. Johnny foi animado pelas meninas,
dizendo que Berenice não ficaria muito tempo longe dele. O garoto ficou
preocupado com o primo. Enquanto a garotada se fartava com os quitutes da Tia
Zulmira, chamou Luís Augusto e lhe disse em particular:
- E você,
meu primo! O que acha de tudo isso?
- Eu
fiquei sabendo por Norma, que Berenice gostava de você! Eva Marli negava,
porque acreditou nas mentiras de Orlando. Afinal as vitimas dessa tramoia toda,
foi você e Berenice! Você foi sempre correto comigo, a ponto de se sacrificar!
Isso quem me disse foi a própria Eva Marli, depois de conhecer as artimanhas de
Neuza e Orlando. Primo, isso eu nunca vou esquecer! Pode contar comigo para
qualquer coisa!
Johnny
abraçou Luís Augusto com emoção! Luís aproveitou o momento para descontrair
aquele sentimento, perguntando para o primo, de maneira marota:
-
Johnny, você se lembra da frase que eu disse, quando nos reencontramos na missa
dominical e ficamos sabendo que Berenice tinha muitos admiradores?
- Não!
No momento não estou recordando de nada! – Respondeu o garoto, intrigado com a
pergunta.
Luís
sorriu e repetiu o provérbio popular:
-“O
que é do homem, o bicho não come!” – E depois acrescentou rindo com otimismo:
- Só
que o homem é você, meu camarada!
Johnny
sorriu bastante diante da esportividade do primo. Aquela mocidade alegre ficou
por algum tempo falando sobre esportes, cinemas e das festas populares, que
viriam junto às férias. Alguns iriam viajar, outros permaneceriam na cidade,
aproveitando as festividades que ela poderia oferecer. Johnny estava feliz em
saber que Luís Augusto não o queria mal, e exultante com a comemoração feita
para ele, custeada pelo próprio primo e pelo amigo Bill Elliott. Nesse momento
Pé de Pata alertou a meninada presente:
-
Turma! Falta apenas quinze minutos para começarem as matinês!
Os garotos não queriam perder um filme de Tarzan, com o ator Lex Barker e, muito menos o seriado com Tom Mix. Johnny se despediu dos amigos, agradecendo-os pela maravilhosa festa e seguiu com a turma do Joaquim Romão para a matinê, prometendo encontrar com Luís, Bill, Eduardo e as meninas, nas tertúlias da casa paroquial.
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