sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

A Despedida de Luís Augusto.

                                             J. B. Pessoa


Capítulo - 65 do livro " Guris e Gibis".

Johnny e seus amigos estavam contentes naquele maravilhoso domingo. Conforme foi prometido aos garotos, a vizinhança unida, com ajuda financeira do vereador eleito, entregou naquele dia uma sede novinha em folha, do clube que fora destruído pelo velho Manequito.

A exultação era geral. Durante aquela semana, a nova sede foi erguida com muita alegria, usando tijolos de argila e telhas novas. Só tinha um cômodo, que era maior do que o primeiro; contando com uma porta e três janelas. A novidade era um modesto sanitário, com um pequeno tanque, o qual recebia água, enchido aos baldes pelos meninos. Ficava na área do quintal da casa de Pé de Pata, motivo pelo qual seu pai empregou uma boa soma de dinheiro, em sua edificação. O Seu José Nascimento, pai de Géo, foi o pedreiro responsável pela construção, o qual contou com a ajuda dos meninos e dos moradores adjacentes àquele círculo.

Naquele domingo, o último do mês de novembro, Luís aproveitou o momento daquela inauguração, dando uma festa de despedida de sua partida para outra cidade. Convidou todos os garotos daquela periferia e ofereceu uma saborosa feijoada, cozida por Dona Nonnita, acompanhada por um tonel com gelo picado, cheio de refrigerantes, deixando a meninada, mais contente ainda, com aquele acontecimento.

Depois da graduação de Luís Augusto no curso primário, seu pai viajou com o garoto, para conhecer a cidade de Juiz de Fora e enviar seus documentos escolares para um excelente colégio particular daquela cidade, na intenção de matriculá-lo no exame de admissão, daquele ano. A promoção do Senhor Gustavo já era uma realidade e ele teria que assumir seu novo cargo, antes do Natal. Aproveitando uma das suas idas àquela cidade, levou o filho para conhecê-la, o qual se encantou com ela. Quando voltou a Jequié, Luís Augusto não falava em outra coisa. Era a cidade mais linda que ele tinha conhecido e, além disso, ficava perto da capital federal e de várias outras famosas cidades da região serrana do Estado do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.

Durante a inauguração do clube e despedida de Luís, compareceram ao evento Bill Elliott e Eduardo, acompanhados de suas namoradas Eva Marli e Luísa, os quais foram recepcionados por Edgar e Neide, com a ajuda de Norma, Gina, e algumas garotas da Rua Siqueira Campos. Embora fosse maior do que a primeira, a pequena sede não cabia o número de garotos que compareceram à feijoada. As meninas preferiram ficar sentadas na companhia dos meninos, nas pedras embaixo da grande mangueira, lembrando-se dos cozidos, que faziam em seus quintais, aos quais só compareciam as moças e garotos menores de dez anos. Bill Elliott,

aproveitando o ensejo da conversa, começou a pilheriar com as garotas, dizendo:

- Vocês estão vendo como elas são turma? Fazem os seus cozinhados e não convidam a gente!

Norma, que era uma garota moderna e estava informada das articulações feministas do pós-guerra, responde pelas meninas:

- O negócio é o machismo de vocês! Os pais não gostam de deixar suas filhas solteiras na companhia de rapazes, com medo de vê-las difamadas. Por isso é que toda moça, que preza a sua independência, sai de sua cidade natal e vai viver nos grandes centros!

Não desconhecendo o assunto e tendo uma opinião pessoal, Eva Marli completa:

- O pior é que as mulheres cedem às exigências dos homens e acabam se tornando fantoches deles. Algumas delas revoltadas, e sem terem consciência de suas estupidezes, acabam frustradas, transformando-se em “comadres de plantão”!

- Vendo dessa perspectiva, sou obrigado a concordar com vocês! – Disse Bill, querendo mudar de assunto, pois sabia que tinha uma namorada, que detestava o mandonismo masculino. Por sua vez Neide, que também era uma garota que primava pelos direitos femininos, advertiu:

- Tudo é uma questão de opinião. Um bom casamento com a pessoa certa é o ideal para qualquer mulher! Entretanto, acredito que algumas mulheres não nasceram para uma vida conjugal, de maneira convencional. É o que dizem as especialistas no assunto!

Johnny ficou observando o comportamento de sua turma, em relação ao conceito das meninas e verificou que eles não estavam entendendo nada do assunto. Principalmente Mipai, Nêgo e Géo, que viam no sexo oposto, apenas um destino natural, designado pelo divino, que era um casamento, o qual a mulher devia fidelidade e obediência ao marido. Ficaram calados e não opinaram em um assunto, tão distante de suas realidades. Edgar era órfão de pai e sua mãe dizia que ele tinha sido um bom marido. Deu a sua opinião, dizendo uma frase, conhecida por todos:

-“Casamento é uma questão de sorte”!

Eduardo afagou as mãos de Luísa e disse afetuosamente:

- Espero que a sorte me favoreça!

A garota beijou o seu rosto e sussurrou ao seu ouvido:

- Eu também, meu amor!

Ouvindo às opiniões dos amigos, Luís Augusto, disse com convicção:

- Eu tenho lido alguns artigos que falam em igualdades entre os sexos. Porém a opinião dos meus pais são que deve haver direitos iguais e deveres diferentes. Norma virou para Johnny, que era uma pessoa romântica e perguntou:

- E você Johnny! O que acha de tudo Isso?

- Acho que somos jovens demais para nos preocuparmos com essas coisas. Cada pessoa tem o seu ponto de vista. Para mim o essencial é o amor. Havendo amor, haverá felicidade. Entretanto para haver amor e felicidade, as responsabilidades devem vir juntas!

Concordo com Luís e Johnny! – Disse Eva Marli.

- Eu também! – Afiançou Norma, para depois complementar:

- Mas acho primordial uma mulher inteligente viver numa cidade civilizada!

- Por falar em cidade civilizada, o que você achou de Juiz de Fora, Luís? – Perguntou Gina, com uma ponta de inveja no olhar.

- Uma verdadeira cidade maravilhosa e bastante populosa. Com muitas áreas de lazer e vários cinemas. Um deles, o Cine Teatro Central, que é muito luxuoso, tem mil e oitocentos e oitenta poltronas!

- Puxa a vida!... Bem maior do que o Cine Teatro Jequié! – Comentou Pé de Pata, que tinha orgulho de sua cidade ter um grande cinema.

Por falar em cinemas, já são duas horas da tarde! E o papai aqui está indo para a matinê - disse Nêgo, enfadado com a conversa das meninas.

- É verdade! Ficamos nessa animada prosa, que esquecemos as horas – Disse Norma, alegremente:

- Fiquei de chegar à minha casa antes das duas horas! – Disse Gina, observando seu relógio de pulso.

-Eu também! - disse Neide para Edgar

Géo virou-se para Mipai e disse preocupado:

- Puxa a vida! – Ainda tenho que vender as minhas revistas, para assistir o filme e não perder o seriado com Tom Mix.

- Ainda dá tempo, pois o filme só começa às duas e meia! – Assegurou Mamãe eu Quero, pois estava gostando daquela comilança de graça.

Adorando aquele festejo, Pé de Pata não se incomodava com as horas. Estava feliz demais, por estar na companhia de Gina e pela alegria de ver o clube inaugurado. Tõe Porcino estava um pouco entristecido, pois sabia que ia perder um amigo querido. Prezava muito a amizade de Luís Augusto, desde o dia que o conheceu na barraca de Orlando. Naquele momento, quando Luís Augusto se despedia de todos, Porcino perguntou:

- Quando você vai embora, meu amigo?-

- Amanhã eu parto de férias com meus pais para Salvador e de lá iremos para Juiz de Fora!

Porcino abraçou o amigo, se despedindo dele. Mipai, Géo e Mamãe eu Quero fizeram o mesmo e partiram para suas casas. Em seguida foi à vez de Edgar e Neide, a qual estava preocupada com o avanço das horas. Depois de se despedir de Luís com um forte abraço, Eduardo seguiu para sua casa, na companhia de Luísa, Eva Marli e Bill Elliott, o qual levou Gina consigo. Seu Gustavo, que estava na casa do primo Miguel, levou os garotos em seu automóvel. Luís Augusto demorou, ainda, algum tempo na casa dos primos, pois Maria de Fátima se recusava a deixar o querido primo ir embora. Depois de

ele prometer visitar a todos no próximo São João, a menina se conformou. A seguir foi a vez dos tios Miguel e Nonnita, os quais deram bons conselhos ao garoto. Após as despedidas, Luís seguiu com Johnny para a matinê. Nêgo, na qualidade de presidente do clube, foi o último a sair fechando a sua porta se despedindo do resto da meninada da rua. Logo depois partiu feliz e para a matinê do Cine Bonfim.

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