segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

UMA COMBINAÇÃO DESASTROSA: AS CHUVAS DE VERÃO E O LIXO URBANO ACUMULADO

Oscar Vitorino Moreira Mendes
Resultado de imagem para Oscar Vitorino Moreira Mendes Méd. Vet. e Prof. Aposentado da UESB

Com a chegada do verão e o aumento das chuvas, o escoamento da água nas ruas se torna um problema, principalmente com as bocas de lobo entupidas, e o descarte irregular de lixo. Infelizmente, todo ano é a mesma coisa: entre os meses de dezembro e fevereiro, os noticiários são tomados por problemas relacionados com a elevação dos cursos d´água e a inundação de casas e ruas, desencadeando uma série de tragédias. Infelizmente, isso ocorre anualmente.



Um elemento importante para que isso aconteça, é o acúmulo de lixo nas diversas ruas da cidade, principalmente quando permanece por algum tempo em determinado local do solo, e começa a ser decomposto por bactérias anaeróbicas (organismos que não precisam de oxigênio e luz para sobreviver), resultando na produção de chorume (líquido poluente, de cor escura e o odor desagradável), muito encontrado em lixões e aterros sanitários, e que é muito mais poluente que o esgoto. Esses processos, somados com a ação da água das chuvas, tão frequentes neste período do ano, se encarregam de lixiviar (lavagem da camada superficial do solo) compostos orgânicos presentes nos lixões para o meio ambiente, podendo servir de abrigo e alimento para animais e insetos que são vetores de doenças, como a leptospirose, peste bubônica, a febre tifóide e cólera, malária, febre amarela, dengue, dentre outras. Entre os animais que podem se proliferar no lixo, os que mais causam problemas à saúde das pessoas são os ratos, baratas e mosquitos. Sobre os ratos, o risco é a transmissão da leptospirose. Por se tratar de uma zoonose, a doença pode atingir o animal e também o homem. O que é?
A Leptospirose é uma doença infecciosa aguda causada por uma bactéria chamada Leptospira, presente na urina de muitos animais. O rato é o principal transmissor, mas
atuam também como reservatórios da doença outros animais, por exemplo: bovinos, ovinos e caprinos, equinos e animais silvestres, que também podem contrair a doença e transmiti-la.
Como se adquire? A Leptospirose é transmitida durante as enchentes/inundações, através da urina dos ratos infectados, presente nos esgotos e bueiros, misturando-se à enxurrada e à lama. Qualquer pessoa que tiver contato com a água ou lama pode infectar-se. As leptospiras penetram no corpo pela pele, principalmente por arranhões ou ferimentos, e também pela pele íntegra, imersa por longos períodos na água ou lama contaminada. O contato com esgotos, lagoas, rios e terrenos baldios também pode propiciar a infecção.
Como se apresenta? A maior parte dos casos, as pessoas contaminadas apresentam dor de cabeça, febre e dores no corpo. Porém, em alguns casos, estes sintomas podem piorar, afetando o fígado, os rins, etc. Aparecem então icterícia (pele e olhos amarelos), insuficiência renal, hemorragias que podem levar a óbito quando não é feito o tratamento médico.
Como se trata? Todo paciente suspeito de ter leptospirose deve ser atendido por médico, o qual solicitará os exames de laboratório e instituirá o tratamento adequado.
Como se previne?
· As ações de saneamento básico (água tratada, coleta e destino adequado de lixo e esgotos) são prioritárias na prevenção da leptospirose e outras doenças de transmissão hídrica.
· Colocação do lixo em sacos plásticos e recipientes tampados
· O combate aos ratos urbanos (ratazanas, ratos de telhado e camundongos) é a principal ação de prevenção em nível de domicílio, evitando o acesso de roedores a alimentos e ao lixo.
· Rigorosa lavagem dos alimentos, especialmente frutas e verduras que serão consumidas.
· É também importante não facilitar a existência de abrigos (terrenos baldios, entulhos, etc) para esses animais.
· Existem vacinas de uso veterinário que protegem os cães e animais de criação, mas ainda não existe uma vacina para uso humano no Brasil.
· Alguns profissionais podem ter maior risco de contato com as leptospiras, como trabalhadores de esgotos, de coleta de lixo, de limpeza de córregos, bombeiros, agricultores de áreas alagadas, etc.
· Por isso deve-se evitar o contato prolongado com estas águas e utilizar proteção adequada como luvas e botas de borracha.

Oscar Vitorino Moreira Mendes
Méd. Vet e Prof. Aposentado da UESB
<oscarvitorino @yahoo.com.br>

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