quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O Brasil e o Prêmio Nobel.

                              J. B. Pessoa

Em um país, onde a maioria das pessoas não lê jornais e desconhece a real situação política em que vive o seu povo, é natural que muitos ignoram as premiações internacionais aos notáveis do mundo inteiro, que têm dado suas contribuições para o bem da humanidade.
Vivendo na mais completa alienação política e cultural, alguns dos quais ostentando graduações universitárias, muitos cidadãos brasileiros dão mais valor aos mil gols de Pelé e as vitórias da seleção brasileira na capa do mundo, do que um prêmio famoso auferido a um dos seus compatriotas, que tiveram destaque nas artes, ciências ou literatura.
Raciocinando na linha desse pensamento, apesar das notícias em destaque na mídia brasileira, poucas foram pessoas que tiveram conhecimento da premiação conferida ao pesquisador brasileiro Artur Ávila, hoje com 40 anos, laureado em 2014 com o Prêmio Medalha Fields, acompanhado de quinze mil dólares canadense, sendo o primeiro ganhador da America Latina. Visto por muitos, como a maior honraria que um matemático possa receber, a Medalha Fields distingue-se por ser entregue apenas de quatro em quatro anos, para matemáticos de até quarenta anos. Pela sua importância, juntamente com o Prêmio Abel, a premiação tem sido descrita como o “Prêmio Nobel dos matemáticos”.
Tanto a Medalha Fields como o Prêmio Abel, são prêmios matemáticos. O primeiro é o preferido dos americanos e o segundo dos europeus, que no ano de 2014 premiaram o matemático russo Yakov Sinai, hoje com 83 anos, respeitado cientista da Universidade de Princeton.
Outro brasileiro que foi agraciado com um premio importante foi Fernando Henrique Cardoso, que recebeu em 2012, o Prêmio John W. Kluge, conferido pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, embolsando junto ao prêmio, a quantia de um milhão de dólares. Apesar de não ter também frequência anual, o Prêmio Kluge é como um Prêmio Nobel, na área de ciências humana e sociais, categorias não contempladas com o Nobel.
Considerado como um grande estadista da atualidade, Fernando Henrique Cardoso, após deixar a presidência do Brasil, tornou-se professor na Brown University. Em 2008, a revista britânica Prospect o incluiu na lista dos 100 maiores intelectuais do mundo, e em 2009 a revista Foreign Policy o colocou em décimo primeiro lugar, na lista dos 100 maiores pensadores globais. “Em termos puramente intelectuais e acadêmicos, ele deve ser considerado, o cientista político mais extraordinário do final do século XX, na América Latina” É o que afirma James H. Billington, bibliotecário do Congresso Americano, que o comparou a Thomas Jefferson no papel fundamental na construção da democracia, apoiada em base parlamentar.
Vários brasileiros foram merecedores de prêmios internacionais e muitos sequer foram mencionados. Esqueçamos as injustiças históricas e nos concentramos no famoso Prêmio Nobel. Existente desde 1901, idealizado pelo inventor da dinamite Alfred Nobel, para laurear os destaques nas ciências, literatura e paz, esse famoso prêmio tem sido negado a brasileiros ilustres, os quais, sem a menor dúvida, têm contribuído para a evolução humana do planeta.
Cerca de 70 países já ganharam o famoso prêmio. Os Estados Unidos vem sendo o maior contemplador com a bagatela, nada menos, de 355 premiações. Os demais países são: O Reino Unido (120), Alemanha (105), França (67), Suécia (31), Rússia (27), Suíça (26), Japão (25), Canadá (23), Áustria (22) e Itália (20). Despeitos à parte, sabemos que os citados países são a nata da civilização do planeta. Entretanto, sabemos também, que o lobby desses países, influi bastante na escolha da premiação e a Academia acaba cedendo a pressões políticas e diplomáticas das nações do primeiro mundo. Bob Dylan, apesar de não ser escritor, e sim músico, ganhou o Nobel de literatura em 2016; fato que causou surpresa e estranheza em muitos eruditos no mundo inteiro. São 17 prêmios para a America Latina, sendo a maioria de Paz e Literatura. Desses, cinco foram para a Argentina.
O Brasil é uma das maiores nações do mundo, com um povo heterogêneo, descendentes de várias etnias. Sendo a quinta população do planeta, com uma economia que não para de crescer, apesar da atual crise, nem por isso foi, até agora, agraciado com um Prêmio Nobel. Em 1960, o brasileiro Peter Brian Medawar, nascido em Petrópolis, filho de mãe inglesa e pai libanês, ganhou o prêmio. Porém aos 14 anos foi morar na Inglaterra, adquirindo a cidadania inglesa. Recusando-se a prestar o serviço militar do seu País, acabou perdendo a cidadania brasileira e o prêmio foi de “mão beijada” para a Inglaterra. Carlos Drummond de Andrade foi procurado pela Academia, para traduzir algumas de suas obras para a instituição. Tendo o seu nome fortemente atrelado ao prêmio, ignorou completamente a situação, alegando que seu amigo Jorge Amado, merecia muito mais do que ele. Outro brasileiro, Jorge Lima, que tinha sido designado para ganhar o de Literatura em 1958, morreu em 1953, perdendo o Brasil esse prêmio, pois a Academia só premia os vivos. O campeão brasileiro em indicações é Carlos Chagas, que foi indicado quatro vezes, sem ser agraciado. Contudo, para muitos brasileiros e alguns estrangeiros, a injustiça maior ficou com Vital Brasil, que nem sequer foi indicado. O médico brasileiro foi o criador do soro antiofídico, livrando da morte certa, a população de diversos países, no mundo inteiro, vitima das picaduras de animais peçonhentos, como cobras, aranhas e escorpiões.
Sem contar com as muitas personalidades que mereciam o prêmio, figuras notáveis conhecidas em todo o mundo, houve, ao todo, 12 brasileiros indicados ao prêmio da Academia Real das Ciências da Suécia. Dois Prêmios em Física, dois em Química, um em Economia, três em Literatura, dois em Medicina e dois Prêmio Nobel da Paz.
Quando será que o Brasil terá o seu tão esperado reconhecimento? Vamos esperar prá ver. A nós brasileiros, resta-nos o consolo da nossa pátria-mãe, o pequeno Portugal ter quatro. Um de Medicina, um de Literatura e dois da Paz. (Publicado pelo Site londrino ArtsFacts)

Nenhum comentário:

Postar um comentário