sábado, 24 de agosto de 2019

Movidos pela Arte

                               Isabella Félix

Somos feitos de arte. Movido pelo artista que se esconde na beleza do dia, no calor do desejo, no sonho imperfeito. É só fechar os olhos e sentir o momento te envolver, te contagiar. É só dar atenção ao que te cerca e te completa. Há um exagero de formas, cores, gostos, cheiros pelo mundo. E tudo vibra pulsátil, fremindo. O dia é a mistura de tintas, é a pintura feita numa tela. Às vezes desenhamos figuras maravilhosas, às vezes tudo não passa de um borrão horrendo! O encanto da rotina se perde a cada manhã. Tudo vira mecânico, sem brilho. Mas mesmo assim a arte se faz presente, ela não tira férias, ela continua viva!
A arte de escrever, de desabafar, através das palavras atravessadas na garganta! A arte do silêncio, de permitir o pensamento descrever as emoções! A arte estampada no sorriso verdadeiro e incontrolável, no sorriso bobo e envergonhado, no sorriso triste e emocionado! A arte da simplicidade, da espontaneidade! A arte de se doar! A arte da fé, do acreditar, do confiar! A arte do impossível! A arte do semblante refletido no espelho! A arte da lágrima derramada, meio displicente, por quem sabiamente não sabe controlar os sentimentos! A arte viva no intocável, no sublime! A arte de mudar, de renovar, de reciclar, de ser uma "metamorfose ambulante"! A arte de respirar música, de sentir ela te desconectar! A arte do extremo! A arte de fabricar sonhos, de acreditar neles! A arte de ignorar o tempo, de fazê-lo congelar! A arte de viajar, de inventar, de criar o instante! A arte do desconhecido, do mistério! A arte da ansiedade, de desejar desesperadamente a chegada! A arte das diferenças, de reconhecer o mundo como um mosaico cultural! A arte dos sinais: do sentir, do tocar, do olhar! A arte do cheiro que permanece, que te faz lembrar, que te traz uma falta infinita! A arte de seguir, mesmo que seja difícil remar contra a maré! A arte da leveza, de flutuar, de dispensar a lei da gravidade! A arte de observar! A arte de entender que o plano de fundo pode fazer a diferença! A arte da saudade, de sentir a dor da distância! A arte de se apaixonar, de sentir o coração disparar, de não saber o que falar, de não ter o controle de si mesma! A arte implícita, abstrata!
Com o pincel na mão temos a oportunidade de fazer acontecer, de permitir e de negar a paisagem. A criatividade está ao nosso favor. Temos a responsabilidade de traçar a nossa própria história. As figuras, o colorido, a maneira de manusear a tela é particular. Entre riscos e rabiscos, linhas fortes ou fracas, imagens vivas ou embaçadas, a escolha é peculiar e característica de cada um de nós.
Somos uma tela pintada, exposta ao tempo, a manchas e a olhares críticos. Somos a arte moldurada numa parede branca, esperando ser leiloada! (Texto editado na Revista Cotoxó)

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