Isabella Félix
Somos feitos de
arte. Movido pelo artista que se esconde na beleza do dia, no calor do desejo,
no sonho imperfeito. É só fechar os olhos e sentir o momento te envolver, te
contagiar. É só dar atenção ao que te cerca e te completa. Há um exagero de
formas, cores, gostos, cheiros pelo mundo. E tudo vibra pulsátil, fremindo. O
dia é a mistura de tintas, é a pintura feita numa tela. Às vezes desenhamos
figuras maravilhosas, às vezes tudo não passa de um borrão horrendo! O encanto da
rotina se perde a cada manhã. Tudo vira mecânico, sem brilho. Mas mesmo assim a
arte se faz presente, ela não tira férias, ela continua viva!
A arte de escrever, de desabafar, através das
palavras atravessadas na garganta! A arte do silêncio, de permitir o pensamento
descrever as emoções! A arte estampada no sorriso verdadeiro e incontrolável,
no sorriso bobo e envergonhado, no sorriso triste e emocionado! A arte da
simplicidade, da espontaneidade! A arte de se doar! A arte da fé, do acreditar,
do confiar! A arte do impossível! A arte do semblante refletido no espelho! A
arte da lágrima derramada, meio displicente, por quem sabiamente não sabe
controlar os sentimentos! A arte viva no intocável, no sublime! A arte de
mudar, de renovar, de reciclar, de ser uma "metamorfose ambulante"! A
arte de respirar música, de sentir ela te desconectar! A arte do extremo! A
arte de fabricar sonhos, de acreditar neles! A arte de ignorar o tempo, de
fazê-lo congelar! A arte de viajar, de inventar, de criar o instante! A arte do
desconhecido, do mistério! A arte da ansiedade, de desejar desesperadamente a
chegada! A arte das diferenças, de reconhecer o mundo como um mosaico cultural!
A arte dos sinais: do sentir, do tocar, do olhar! A arte do cheiro que
permanece, que te faz lembrar, que te traz uma falta infinita! A arte de
seguir, mesmo que seja difícil remar contra a maré! A arte da leveza, de
flutuar, de dispensar a lei da gravidade! A arte de observar! A arte de
entender que o plano de fundo pode fazer a diferença! A arte da saudade, de
sentir a dor da distância! A arte de se apaixonar, de sentir o coração
disparar, de não saber o que falar, de não ter o controle de si mesma! A arte
implícita, abstrata!
Com o pincel na
mão temos a oportunidade de fazer acontecer, de permitir e de negar a paisagem.
A criatividade está ao nosso favor. Temos a responsabilidade de traçar a nossa
própria história. As figuras, o colorido, a maneira de manusear a tela é
particular. Entre riscos e rabiscos, linhas fortes ou fracas, imagens vivas ou
embaçadas, a escolha é peculiar e característica de cada um de nós.
Somos uma tela
pintada, exposta ao tempo, a manchas e a olhares críticos. Somos a arte
moldurada numa parede branca, esperando ser leiloada! (Texto editado na Revista Cotoxó)
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