quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Joilma Santana, filha de Walter Santana (Foca), faz doação ao Museu Histórico de Jequié.


Hoje (21/08/2019), Joilma de Jesus Santana filha de Walter Gomes Santana (Foca), massagista da Associação Desportiva Jequié na década de 70, esteve no Museu Histórico de Jequié com o museólogo Antônio Varjão e fez a doação de cinco quadros e vinte fotografias que pertenceram ao seu pai. Joilma disse para Varjão, que estava doando o material para manter viva a memoria do nosso querido "Foca".












"Foca" O Massagista.

                                                                                       Charles Meira
           
Valter Gomes de Santana (Foca)
Durante o tempo que tenho dedicado nos últimos meses fazendo entrevista com presidentes, diretores, técnico e jogadores que fizeram a história do futebol amador e profissional de Jequié, tentei por várias vezes e não consegui fazer uma entrevista com “Foca”, massagista do time amador do Flamengo de Jequié, da Seleção de Jequié na década de 60 e da Associação Desportiva Jequié na década de 70. Por saber da importância de “Foca” para a história do nosso futebol, solicitei de pessoas daquela época que ainda hoje fazem parte do seu dia-a-dia, convencê-lo a dar a entrevista para fazer essa matéria. Neste mês de março, estive novamente na Rua 2 de julho no centro de Jequié procurando por “Foca” e no ateliê do Alfaiate e desportista Bria, fotografando algumas matérias e fotos do time amador do Estudante de Jequié, ocasião quando ele foi o seu presidente. No momento que conversava com Bria, para minha alegria e satisfação, repentinamente “Foca” ali chegou. Depois de explicá-lo o verdadeiro motivo da procura, aceitou conceder a entrevista.
Valter Gomes de Santana é mais conhecido como “Foca”, apelido dado por um Oficial no ano de 1964, época que serviu o Exército Brasileiro no Forte do Barbalho em Salvador. Valter era gordinho e quando estava nadando na piscina, um dos Oficiais falou: “aquele Policial parece uma foca”. A partir daquele dia, o Policial Valter passou ser conhecido como “Foca”.
O massagista “Foca” chegou a Jequié no ano de 1968, vindo de Santa Luz – BA com o conterrâneo Tufu para jogar no time amador do Flamengo de Jequié. Mesmo estando com um contrato quase certo com o Fluminense de Feira, prevaleceu o incentivo de Tufu, dizendo: “vamos “Foca”, você dará bem em Jequié”, apoio e decisão que realmente deu certo.
Time amador do Flamengo de Jequié - Carlinho, Edmilson, Tufú, Maíca, Zé Augusto, Pascoal, Foca e Maneca Mesquita.
 Agachados: Bara, Tanajura, Dete Leão, Bajara, Marcos e Heráclito.

          No Flamengo “Foca” não teve dificuldades e logo fez muitos amigos. Trabalhava muito, porém ganhava bastante dinheiro, o time era igual a uma equipe profissional. Os jogadores de outras localidades tinham salário, que era pago pelo presidente Maneca Sampaio, proprietário da Loja do Sul. Tinha também o dirigente seu Carlos Lopes, irmão de Evandro Lopes, pessoa muito boa comigo. Os jogadores do Flamengo não davam trabalho a “Foca”. O único irresponsável era Maneca, Manequinha, muito relaxado comigo. Parou de falar e deu muita risada. Prosseguiu, mas o resto era muito legal.
Mais risadas e Bria que estava do lado concertando uma calça e ouvindo, pediu para “Foca” falar do jogo que aconteceu na cidade de Cachoeira. Contou que neste dia tomou umas bordoadas, que os torcedores pegaram um sapo com a boca cozida e meteram na cara dele. Que depois do jogo foi atirado no rio que passava próximo do estádio e foi salvo de barco pelos moradores da cidade vizinha de São Félix, rivais de Cachoeira e estavam no campo torcendo para Jequié. Que também jogaram Dr. Ewerton Almeida no rio deram umas cacetadas nele e devido à gravidade do quadro foi internado no hospital da cidade. A polícia e até o exercito ficou contra os torcedores de Jequié. Quando “Foca” tentava levantar para atender um jogador da seleção caído em campo, era impedido pelos soldados, colocando os cassetetes na sua frente, ameaçando de dar nele uma cacetada. Encerrou este fato contando que o estádio estava superlotado, a seleção deles era boa e estava por cima.

Seleção de Jequié - Tufu, Maíca, Jurandir, Edmilson, Zé Augusto e Raimundão.
Agachados: Foca, Mauro, Dete Leão, Dilermando, Maneca e Hije.
Aproveitou o embalo e relatou também que em outra ocasião na cidade de Itapetinga, torcedores da seleção local não deixaram os jogadores do time de Jequié dormir na noite que antecedeu o jogo, fizeram muita zoada, balançando um bocado de chocalho, próximo ao hotel que a seleção estava hospedada.
Em seguida voltou a falar da Seleção de Cachoeira, desta vez de acontecimentos ocorridos antes, durante e depois do terceiro jogo com a Seleção de Jequié que aconteceu no campo da Graça em Salvador. Ainda em Jequié, Marquinhos brigou com o técnico Maneca Mesquita, discussão besta por causa de uma festa que aconteceu no JTC, ocasião que o jogador amanheceu o dia, bebendo e dançando na companhia do seu amigo Bria. Devido este desentendimento a equipe viajou para Salvador sem o jogador. No dia seguinte, Bria conversou e convenceu Marquinhos a viajarem para Salvador, convicto de que o treinador perdoaria o atleta para participar do jogo. A delegação do Jequié ficou hospedada no Hotel São Bento. Ainda de ressaca chegaram cedinho no dia seguinte no hotel e depois de Marcos tomar uma glicose a dupla foi dormir.  Quando a delegação estava no vestiário do campo da Graça vestindo o uniforme do jogo, Marquinhos chegou e “Foca” aplicou outra glicose nele. No final da partida, quando a Seleção de Jequié perdia de 2 X 0, Marcos entrou e resolveu o jogo, ganhamos de 3 X 2. Depois foi só alegria. E quase 48 anos depois de ocorrido este fato, “Foca” deu outra boa risada.

Time da Associação Desportiva Jequié - Zé Augusto, Edmilson, Carlinhos, Tufu, Maíca e Esquerdinha.
Agachados: Flori, Dilermando, Tanajura, Chinezinho, Marcos e Foca.

          Mantendo o clima de alegria prevalecido durante toda a entrevista, “Foca” falou também do tempo da Associação Desportiva Jequié.  Inicialmente citou os presidentes Dr. Nelson Morais, Marialvo Meira, Dr. Gerson Pelegrini, Jonas Almeida, os Médicos Gilson, Gileno Fonseca, Roberto Brito, pessoas que eram muito boas para o Jequié, os jogadores Maíca, Tufu, Zé Augusto, Carlinhos, Dilermando, Tanajura, Paiva, Edmilson um relaxado que gozava com a cara de todos, mas era uma pessoa muita atenciosa. Segundo “Foca”, no momento da massagem o mais descarado era “Maneca”. Risadas. Que era sem vergonha, queria tomar massagem totalmente nu, moleque o rapaz. Gargalhadas. Gostava de fazer resenha, um vagabundo. Gargalhadas. Quando “Foca” precisava de alguma coisa os jogadores estavam presentes, todos o respeitavam e gostavam dele. Na sede na Mota Coelho os jogadores do Jequié na época formavam uma família, comandada pelo primeiro técnico do Jequié Maneca Mesquita que também morava no local.
Falou também que na época da Associação Desportiva Jequié também fatos engraçados aconteceram. Contou que um deles aconteceu quando chegou “comendo água” de madrugada, momento de folga do time, vindo de um casamento do finado Tó que morava na Lomanto Junior, onde tomou muita cerveja, chegou na sede lavado. Dilermando que nesta época estava fazendo  curso de medicina trouxe um bocado de caveiras, pendurou todas dentro de um deposito muito grande que tinha no local. Quando “Foca” entrou na sede e viu aquelas caveiras penduradas e balançando, cheias de velas tomou um grande susto e falou que um dia os jogadores ainda iriam matá-lo do coração. 
Contou também que em outra ocasião quando chegou à sede “cheio de mel” os jogadores o amarraram. No outro dia quando acordou estava também todo pintado de tinta vermelha, apavorado gritou: “ai, ai meu Deus, seu Maneca me acode aqui, eu morri”. Risadas.

Edmilson, Tanajura e Dilermando.

         Dilermando, jogador e grande amigo de “Foca” que participou destes fatos ocorridos na concentração da ADJ na década de 70, contou a sua vesão através de e-mail:
““ Foca” foi colocar um linimento no tornozelo e foi para a rua, logo depois chegou correndo e gritando que estava queimando. Entrou debaixo do chuveiro e não queria mais sair”.
“Levei uma caveira para estudar, aproveitei e preparamos uma surpresa para ele. Dormíamos na garagem e ele saiu, tomou uma cachaça e quando chegou colocamos uma vela dentro da caveira e apagamos as luzes. Quando “Foca” entrou e viu a caveira tomou um susto e ficou louco com medo”.
“Certa ocasião nós amarramos os pés de “Foca” em uma árvore. Zé Augusto e Manequinha ajoelharam defronte dele cobertos com lençóis. “Foca” estava dormindo no chão cheio de cana. Os meninos chegaram perto dele e falaram: “você morreu hoje”. “Foca” deu um pulo, quis correr caiu, soltou das amarras, pegou um pau e tentou agredir os meninos. Foi duro contê-lo”.
Relacionado aos fatos ocorridos na sede com os jogadores, “Foca” disse que foi tudo legal. Os jogadores eram todos gentes finas.
Depois falou da ADJ no campo. Disse que dentro das quatro linhas era tudo sério, o time jogava. Quando o jogador do time caía “Foca” dava o seu piquezinho e a torcida gritava, levantava, levantava para “Foca”.

Associação Desportiva Jequié - Maíca, Jairo, ---. Nilson, Mauro, ---. Edmilson, Nelson, Mario, Foca. Agachados: Nico, Junior, Garrincha, Clovis, Adenilton, Paiva, Jorge Lima e Paim.

            Em seguida fez um relato da partida que Garrincha jogou na equipe do Jequié. Contou que Bria chegou com Garrinha no vestiário do estádio Waldomiro Borges e disse para o melhor ponteiro da Seleção Brasileira que a ADJ tinha um bom massagista. Quando garrincha viu “Foca” falou: “esse cara eu conheço do Rio de Janeiro”. “Foca” contou que conheceu Garrincha na Gávea, levado por um empresário.
Da equipe da ADJ que vai disputar a Segunda Divisão neste ano, “Foca” falou que vai ao campo. Disse que vai receber uma homenagem da equipe e tem que comparecer.
Terminou a entrevista dizendo que hoje vive aqui numa boa, graças a Deus estou em Jequié com minha família. Bebi da água do Rio de Contas e não saí mais.

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