quinta-feira, 25 de julho de 2019

VIVER, CONVIVER OU SOBREVIVER?

  Oscar Vitorino Moreira Mendes
Resultado de imagem para Oscar Vitorino Moreira Mendes Méd. Vet. e Prof. Aposentado da UESB

Tenho buscado exercitar-me a cada dia para ser sempre mais tolerante com as coisas, com os fatos e com as pessoas. Considero o exercício desta busca algo muito importante, para que eu possa viver feliz e conviver melhor ainda ao lado daqueles que me cercam em minha trajetória existencial.

Na verdade, ao buscarmos o significado da palavra tolerância, descobrimos que a mesma vem do latim - tolerare - que significa: "suportar" ou "aceitar". Pelo contrário, ser intolerante supõe um comportamento que traz desconforto para nós e para os que vivem ao nosso redor. Nesse caso, o intolerante é considerado um sujeito chato, uma pessoa inconveniente, alguém que incomoda os circunstantes. Assim sendo, tolerar um intolerante não é tarefa fácil, mas necessária. No Google, encontramos a seguinte definição: Tolerância é um termo que exprime o ato de agir com condescendência e aceitação perante algo que não se quer ou que não se pode impedir.

Tolerância & Intolerância

A procura frequente de sentido para os termos tolerância e intolerância se dá em razão do uso constante destas expressões no uso vocabular cotidiano. A filósofa Ivone Gebara afirma que a palavra tolerância “percorreu uma longa história marcada por diferentes situações históricas e culturais que foram introduzindo nuances e conteúdos diferentes ao conteúdo inicial”.

A priori, a tolerância não é um dom, ou seja, a pessoa não nasce tolerante. A tolerância é algo que se deve aprender e, o aprendizado passa pelo exercício exaustivo do autoconhecimento; tolerância e paciência avizinham-se no sentido,
pois estão na base de uma virtude que consiste em manter um controle emocional equilibrado e isso só é possível quando se conhece os próprios limites.
As pessoas tolerantes são as que buscam formas e possibilidades para converter os conflitos pessoais, sociais ou intelectuais em situações confortantes para as partes envolvidas. Assim, a tolerância é uma ferramenta para as pessoas que buscam viver de forma mais pacífica consigo mesmas e com os outros. A tolerância é uma atitude fundamental para quem vive em sociedade. Uma pessoa tolerante normalmente aceita opiniões ou comportamentos diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio social. Esse tipo de tolerância é denominada "tolerância social".

Devido a grande importância para a humanidade, a tolerância teve como prêmio, a criação pela ONU, de o Dia Internacional da Tolerância, comemorado dia 16 de novembro. Esta é uma das muitas medidas da Organização das Nações Unidas para o combate à intolerância e da não aceitação da diversidade cultural. Esta data ainda visa combater a intolerância religiosa, que consiste na falta de compreensão que algumas pessoas têm sobre o direito de cada indivíduo expressar a sua crença. Na medicina, por exemplo, o termo "tolerância medicamentosa" é utilizado para designar a capacidade de um indivíduo para suportar determinados medicamentos. Já a “tolerância alimentar” é a expressão usada para se referir a resistência do organismo ao consumo de determinadas substâncias, como a lactose, por exemplo. A expressão "tolerância zero" é utilizada para definir o grau de tolerância a uma determinada lei, procedimento ou regra, de forma a impedir a aceitação de alguma conduta que possa desviar o que foi previamente estabelecido. Por exemplo, "tolerância zero a motoristas embriagados".

Por sua vez, no dicionário Aurélio, encontramos a palavra tolerância, como qualidade de tolerante. Ato ou efeito de tolerar. Tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de determinados grupos, políticos ou religiosos, que tudo desculpam, que são indulgentes e benignos, que admitem e respeitam opiniões contrárias às suas; que consentem ou permitem tacitamente o que deveria ser censurado ou castigado.

Mas afinal, por que devemos aprender a tolerar?

Aprender é fácil sempre que há disposição para aprendemos a ler, comer, observar, falar, escrever, conversar, enfim aprendemos a fazer tudo e de tudo um pouco. Em nosso dia a dia, normalmente acontecem fatos inquietantes, a exemplo de quando vemos alguém na rua e já começamos a rotular: negro ou branco; alto ou baixo; gordo ou magro; feio ou bonito; novo ou velho; homem ou mulher. Seja qual for a situação, só vemos rótulos e mais rótulos... No mais das vezes, esses rótulos nos ajudam na hora de definirmos os outros, mas, ao mesmo tempo, nos atrapalham na hora de nos definirmos a nós mesmos.
Reflita-se, por exemplo, a questão da liberdade de expressão, que é o direito de se manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos. Num artigo da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, está expressa a permissão de se procurar e transmitir informações sem interferências, e é dito que: “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.” Até aí nós concordamos, pois a censura impediria a transmissão de informação, e se não houver liberdade de expressão, está a ser posto em causa o próprio conceito de democracia, uma forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo e que, portanto, permite a existência de opiniões distintas.

Aristóteles acreditava que a liberdade consistia numa harmoniosa integração do indivíduo numa sociedade. Porém, para haver a integração de indivíduos na sociedade, é necessário haver comunicação, e para haver comunicação é necessário que haja liberdade para se externar uma opinião, ou seja, liberdade de expressão. Contudo, é necessário reforçar a ideia de que a dignidade humana, um dos direitos fundamentais, deve ser respeitada, e isso inclui respeitar valores éticos, morais e sociais de cada indivíduo, incluindo mesmo a sua privacidade. Para tanto, acreditamos que se devam estabelecer alguns limites. Como disse o filósofo Herbert Spencer, "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro." Não se pode confundir liberdade de expressão com banalização, ou com a expressão de ideias não fundamentadas que visam apenas colocar em risco a dignidade dos outros, com desrespeito pelos outros.

Desrespeitado, agredido, aviltado, o ser humano é capaz de abandonar a racionalidade e cometer atos de intolerância, fugindo ao controle do bom senso e ao respeito devido a uma vida em sociedade. Assim sendo, é sempre bom lembrar o que disse a grande Helen Keller: "o resultado mais elevado da educação é a tolerância".

Sabe-se que a educação consiste na permuta de ideias, princípios, normas e valores que constituem a cultura de uma comunidade. O processo educativo não se restringe apenas à escola, enquanto espaço geográfico e local de transmissão e aquisição de saberes. O processo educativo pode e deve ser vivido no seio da família, no ambiente de trabalho e noutros espaços da vida pública. Entretanto, isso também significa que ela poderá ser bem ou mal construída, ou seja, a partir dessas múltiplas experiências, poder-se-á cultivar tanto a tolerância como a intolerância.

A chave para promover a tolerância é educar para a razão. De acordo com Fernando Savater, a razão não é apenas uma tendência automática, mas um resultado social. E a educação tem o papel de potencializar a racionalidade através do uso da linguagem, já que ser racional não é ser apenas bem informado, mas saber analisar, filtrar e organizar a informação.
Grande estudioso da Ética e da Importância da Educação, Fernando Savater aponta três grandes virtudes imprescindíveis para se viver em sociedade: a coragem, a generosidade e a prudência.

1ª) coragem para poder viver; 2ª) generosidade para poder conviver, pois a convivência com outros é sempre uma experiência dolorosa; 3ª) prudência para sobreviver; porque, evidentemente, a vida está cheia de armadilhas.

É sabido que a vida moderna é marcada pela intolerância, a qual tem como base o não suportar, o não sustentar uma situação ou pessoa; é o não exercer a paciência. Na intolerância o que fica evidente é o ódio, a raiva, e a indiferença. Esses elementos da intolerância são encontrados nos relacionamentos superficiais e, no excesso de informações que se recebe ultimamente. Tal fato tem afetado, e muito, a forma de vida das pessoas: questões fundamentais são tratadas com superficialidade; é chocante a banalização como é tratada a vida humana; a busca excessiva para se ter sempre mais ou para ser sempre melhor ou maior que os outros. Tudo isso e muito mais têm contribuído para o aumento dos elementos da intolerância, impedindo que sejam cultivados os elementos da tolerância: amor, paz, paciência, compreensão, perdão, coragem e generosidade, elementos que promoveriam o crescimento e a maturidade do ser humano e tornariam possível, saudável e feliz a convivência humana.

Oscar Vitorino Moreira Mendes
Méd. Vet. e Prof. Aposentado da UESB
<oscarvitorino@yahoo.com.br>

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