segunda-feira, 15 de julho de 2019

Jura “boca nua”

                        Carlos Eden Meira
Magrinho, sempre sorridente, pernas finas e compridas, pele escura, queixo proeminente num rosto comprido cuja boca, apesar da prótese dentária que usava, mostrava sinais de que por muito tempo ficara sem dentes, o que lhe valeu o apelido de “boca nua”, Jurandir Alves Souza era sempre visto prestando serviços diversos, a troco de algum dinheirinho ou pequenos presentes. Gostava de dar respostas engraçadas nas entrevistas aos repórteres seus conhecidos, que o abordavam nos programas de rádio apresentados em transmissões externas das ruas do centro, e exultava quando citavam o dia do seu aniversário, principalmente quando alguém em sua homenagem, dedicava “Jura”, samba de Noel Rosa e Sinhô, na versão cantada pelo Zeca Pagodinho.
Foi nosso colega na CDL, onde o pessoal curtia com seu jeito “sui generis” de falar, que era interessante. Aos sábados pela manhã, não hesitava em buscar uma feijoada e as cervejinhas, coisas que não dispensava nem a pau, pois, comer e beber eram mesmo com ele. A turma fazia uma “vaquinha” para a feijoada e as cervejas, que Jurandir ia buscar todo contente. Quando alguém por brincadeira, dizia que “não ia mais rolar a tal feijoada”, mudava de expressão e resmungava o tempo todo. Ali no “Calçadão da Sete de Setembro”, Jura era conhecido de todos. Dos lojistas aos funcionários das lojas. Aliás, creio que em Jequié, pouca gente não conhecia Jurandir.
Não tenho certeza de nada, quanto ao que nos acontece quando deixamos este mundo. Apesar de não ser ateu nem materialista, creio que Céu e Inferno são conceitos que representam e refletem nossa própria condição humana em relação ao nosso modo de ser, agir e conviver com nossos semelhantes. Não me considero capaz de definir os valores que determinam a felicidade ou a infelicidade de alguém, pois, conheço pessoas que se alegram com o mínimo, enquanto outras buscam desesperadamente encontrar a felicidade na fama, no luxo e na riqueza, e acabam perdidos nos vícios e excessos que a fortuna lhes proporciona, tornando-os infelizes. É claro, no entanto, que pobreza não traz felicidade a ninguém, e se o simples fato de ser rico trouxesse a infelicidade, ninguém iria querer ganhar o prêmio máximo da loteria.
Entretanto, estes não são fatores imprescindíveis para determinar o que leva uma pessoa a se considerar feliz ou infeliz. Jura “boca nua” era um cidadão pobre, mas, não me parecia uma pessoa infeliz. Pelo contrário, estava sempre alegre, gostava de cantar enquanto trabalhava. Só ficava visivelmente aborrecido, quando alguém atrasava o pagamento por um serviço prestado. Na sua existência simples e humilde, viveu do seu jeito, a vida que o destino lhe reservou. E se houver num outro “plano astral”, um mundo melhor do que este em que vivemos, Jurandir com certeza está por lá.

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