segunda-feira, 3 de junho de 2019

O Rio

 Carlos Eden Meira

Em um programa de televisão vi uma reportagem sobre Itacaré. Ali, o repórter além de mostrar a beleza da cidade, seus lugares pitorescos e suas lindas praias, navegou pelo Rio das Contas que despeja suas águas no oceano, justamente ali em Itacaré. Como não conheço o local, fiquei impressionado em ver a beleza do rio naquele trecho, largo, caudaloso, onde pescadores capturavam grandes peixes.
Não pude deixar de me lembrar do Rio das Contas da minha infância, com suas claras areias em suas margens, onde os meninos ou mesmo os adultos jogavam futebol, e as lavadeiras estendiam suas roupas lavadas para secar. Em épocas de cheias, o rio tornava-se bastante volumoso, canoeiros navegavam em suas canoas abarrotadas de melancias e umbus que vendiam, ou levavam pessoas que queriam atravessar de uma margem à outra. Lavadeiras, pescadores e canoeiros sustentavam suas famílias dos serviços que o rio lhes proporcionava.
E o Rio das Contas era bonito e limpo. Da nossa casa, víamos o rio em toda sua exuberância, “um lençol de prata”, como dizia o poeta e jornalista Wilson Novais. Ao pôr do sol, suas águas refletiam toda a beleza crepuscular que se formava no céu, como num quadro bem executado. Durante anos, ecologistas alertavam para o risco da destruição das matas ciliares, da retirada desastrada de areia, do despejo descontrolado de esgotos sem o devido tratamento, além de dejetos químicos de indústrias que resultaram na intensa poluição do rio.
Hoje, o trecho que atravessa Jequié, assemelha-se a um imenso esgoto a céu aberto, sujo, malcheiroso, cheio de mato, e suas areias nas margens, praticamente sumiram. A previsão dos ecologistas estava correta, mas, houve quem dissesse que nada disso aconteceria. Isto, obviamente, não é uma calamidade que vem ocorrendo apenas aqui. Rios e florestas em diversas partes do Brasil e do mundo vêm sofrendo ação irresponsável do capitalismo cruel que desmata, que polui o ar, os rios, o lençol freático, em nome do que acreditam ser o avanço do “progresso”. Hoje, a ciência já assinala com novas formas de produzir e construir sem agredir o meio ambiente, de maneira equilibrada. Mas, é preciso uma reforma política que acabe com os privilégios dos obtusos imediatistas que se acham “donos do mundo”, e que pelo mero interesse de lucrar e engordar suas já gordas contas bancárias, pouco se importam com a degradação do meio ambiente

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