quinta-feira, 27 de junho de 2019

Ideologias que subvertem a História.

                 J. B. Pessoa.

A verdade existe independentemente da ignorância humana. Cientes dessa afirmação, muitos estudiosos de História estão revendo posições, delineadas por articuladores políticos e religiosos, praticados após a Segunda Grande Guerra. Além da incipiência dos idealistas, constituídos por indivíduos portadores de escolaridade rudimentar, a verdade é ainda subvertida por agentes capitalísticos, portadores de interesses escusos, os quais ditam as regras do comportamento sociopolítico e econômico.
Nas últimas décadas tem aparecido na sociedade brasileira, indivíduos de ambos os sexos, os quais motivados pelo lucro pessoal têm subvertido valores dantes enraizados na memória nacional. Contudo, a reavaliação da história oficial e fatos contestados pela coerência, tornam-se necessários, para se ter uma historiografia condigna com a realidade. Entretanto, tal reavaliação deve ser feita por grupos de pesquisadores qualificados, totalmente isentos de ideologias, que usam métodos científicos; e não por jornalistas e cineastas sensacionalistas, que proliferam nas redes sociais.
As incoerências são muitas. Tomamos por exemplo um trabalho interessante, intitulado “A Guerra do Paraguai – A Nossa Grande Guerra” que qualquer pessoa pode acessar na internet, através do You Tube, com um simples celular. É uma produção audiovisual, histórico-jornalístico, com depoimento de acadêmicos, alguns dos quais, famosos na internet. Nela as mais diversas tendências são mostradas de acordo com a convicção de cada um. Cabe ao internauta contestar ou não, se dispuser de informações necessárias, para separar o joio do trigo. É um trabalho muito bem produzido, em que os pareceres são ditos por historiadores, jornalistas, escritores, professores e diplomatas, pertencentes aos países que se envolveram na, também conhecida, como Guerra da Tríplice Aliança.
De uma maneira geral, podemos verificar que, a maioria dos expoentes considera o Brasil como o grande culpado do maior conflito armado da America do Sul. Há depoimentos que são verdadeiros absurdos, como o da escritora e historiadora brasileira Mary Del Priore, a qual, sem o menor pejo, afirma: “ Dom Pedro II era um homem muito despreparado, um homem que falta polimento, que falta todas normas da civilidade; é um caipirão brasileiro”. Já Leandro Karnal, professor de História da Universidade de Campinas, afirma que o imperador brasileiro tinha algumas ideias, mas não tinha vocação para governar e que, o Brasil era um país pobre, escravocrata, selvagem, analfabeto e de hábitos toscos. O professor não levou em consideração o tempo e o espaço. Estamos nos referindo ao ano de 1864, no qual os Estados Unidos finalizava uma guerra fratricida, que acabou com a escravidão em seu território. Devemos sinalizar que toda a America era selvagem e constituída por analfabetos de hábitos rudes. Na aristocrática Europa havia problemas semelhantes e, em alguns países, prevalecia à servidão. Quanto à pobreza, isto era uma coisa
relativa. Antes da guerra, a economia ia bem com suas exportações de algodão, açúcar, tabaco, cacau; já sendo o Brasil o maior produtor de café do mundo. O País inaugurou sua primeira linha férrea em 1854, e começava a sua industrialização com vigor, possuindo o Império Brasileiro a segunda maior marinha do mundo.
Outro expoente com afirmações negativas é o filosofo Mário Sérgio Cortella. Segundo o conceituado cidadão, o Brasil era um país dependente, de extrema pobreza, sem escolas e saúde pública. Realmente, o Brasil era dependente do capital estrangeiro, assim como outras nações da America Latina. Como ainda imperava a escravidão, os homens livres viviam como agregados dos grandes latifúndios. A classe média era pequena e a educação era rudimentar. Quanto à saúde pública, ela era precária como em todos os países da América.
Em relação ao momento histórico, no lado hispânico a coisa é bem diferente. Há um consenso geral, no qual Solano López foi um grande herói de sua pátria. Miguel Solano López, bisneto do ditador paraguaio, afirma, com orgulho, que Francisco Solano López era um grande estadista, um homem culto e muito bem instruído; que era um comandante talentoso e grande líder dos paraguaios, o qual lutou para que seu povo se livrasse do “apetite”, que os inimigos tinham da riqueza paraguaia. Esse depoimento é corroborado por Leon Pomer, historiador argentino, que defende uma ideia, muito divulgada pela esquerda brasileira na época da ditadura, na qual, o Paraguai era uma nação rica, sem analfabetos, com uma indústria desenvolvida, independente do capital inglês. Por isso a Inglaterra financiou a guerra, porque o Paraguai desenvolveu uma autonomia, que o grande Império Britânico não podia aceitar.
As afirmações de Miguel Solano López e Leon Pomer são contestadas pelo historiador inglês Peter Lambert, o qual afirma que o Solano López tinha certo conhecimento do seu país, mas que era uma visão distorcida da realidade. Lambert afirma que o Paraguai não se fechou à Inglaterra, pois era um país pobre, sem indústrias e não era um mercado importador nem consumidor. O Paraguai era totalmente dependente da tecnologia e dinheiro britânico; suas únicas exportações eram madeira e chá mate. O brasileiro Leandro Narloch, autor do livro “Guia do Politicamente Incorreto”, afirma que Solano López era um grande louco, com ideias megalomaníacas, e sonhava em ser o Napoleão da America. Já os historiadores paraguaios Quido Alcalá e Herib Caballero desmentem essa versão, dizendo que Solano López era um líder inteligente, com um considerável talento literário e estava convencido de que tinha um destino importante e era uma pessoa preparada para um cargo difícil.
O bisneto do ditador, Miguel Solano Lopez e o paraguaio Jorge Rubiani, cronista de História, acusam o Brasil de ter bloqueado a saída paraguaia para o mar, deixando o país sem chance de comercializar com o mundo exterior, coisa que estrangularia as suas exportações. O fato referente ao bloqueio só aconteceu depois que a Tríplice Aliança estava em guerra contra o Paraguai. Antes disso, a
navegação era livre pela Bacia do Rio Prata, tanto que e o Brasil navegava livremente pelo Rio Paraguai, para atingir o sul da província do Mato Grosso.
O maior causador dessa polemica foi o jornalista autodidata Júlio José Chiavenato, que no final dos anos 70 lançou o livro “Genocídio Americano”, questionando a historia oficial do conflito. Era a época em que os militares lutavam para extinguir do território brasileiro, os diversos movimentos revolucionários comunistas e Chiavenato vendeu a ideia para todos, de que o Paraguai era uma grande potência econômica e industrial e que o Brasil e a Argentina, a serviço dos britânicos, destruíram essa grande nação, causando um grande genocídio. Durante muito tempo Chiavenato foi prestigiado pelos intelectuais simpatizantes com a ideologia marxista e sua tese foi bem recebida no meio universitário. Porém, na década de 90, sua fama começou a decair, quando o historiador Francisco Doratioto lançou o livro “Maldita Guerra”, dando uma versão diferente do grande conflito. A partir daí Chiavenato de contestador virou contestado.
Em um país democrático, o pensamento é livre e todos têm o direito de publicar seus pareceres da forma como entendem. Entretanto, os livros didáticos devem ser analisados por professores competentes, livres do câncer ideológico que rói a erudição de um país. A sociedade deve estar sempre em alerta, para evitar que a juventude venha sucumbir diante de valores escusos

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