segunda-feira, 6 de maio de 2019

CAMPO DE AVIAÇÃO

                           Carlos Eden Meira

Até os anos 50 e começo dos 60, os pequenos aeroportos de cidades do interior eram chamados de “campos de aviação”. Era uma época, em que os aviões comerciais de grande porte, ainda funcionavam com hélices impulsionadas por motores. Havia os pequenos aviões de uma hélice (teco-teco,) os bimotores de duas hélices e os quadrimotores, obviamente de quatro hélices. Em nosso “campo de aviação Vicente Grillo”, não havia pista de pouso asfaltada, o ponto de apoio para embarque e desembarque de passageiros era uma velha casa de “adobão”, no entanto, faziam escala ali, aeronaves de grandes empresas aéreas do Brasil na época: a “Real” e a “Nacional Aerovias”. Nesse período, Jequié era um município de muito maior importância no Estado, sendo muito prestigiado pelos figurões da política estadual ou mesmo federal. Lembro-me de ter visto juntamente com meu pai, os desembarques de três históricos presidenciáveis de partidos e ideologias diferentes, saindo de seus aviões, ali naquele “campo de aviação”. O primeiro que vimos foi o candidato integralista, Plínio Salgado. Em outra oportunidade, assistimos à chegada do candidato General Juarez Távora, que participou da “Coluna Prestes”, e foi um dos líderes históricos da revolução de 30, conhecido como “O Leão do Norte”. De sua comitiva fazia parte outro personagem histórico, alagoano, famoso na política carioca, que inspirou o filme “O Homem da Capa Preta”, interpretado por José Wilker. Tratava-se do deputado Tenório Cavalcanti.
No comício realizado no “Colarinho de SabacK” às 10 horas da manhã, fiquei impressionado com a característica imagem do deputado Tenório, de cavanhaque grisalho, óculos de aros grossos, usando sua famosa capa preta. Quando discursava, com sua voz rouca, abria os braços mostrando o forro vermelho da capa. Do meio daquele amontoado de pessoas que assistiam ao comício, ouviu-se uma voz que gritava: - Deputado, cadê a “Lurdinha”? – Algumas pessoas riam, outras fechavam a cara, indignadas. Fiquei sem entender do que se tratava, pois, tinha apenas sete anos de idade. Alguém então, explicou que a tal “Lurdinha” era uma metralhadora “Thompson” que conforme diziam, o deputado levava sempre por baixo da capa preta, mas ali, ninguém viu a “Lurdinha”. Não me sai também da memória, a grande aeronave azul voando ao longo do Rio de Contas, em direção à pista de pouso do “campo de aviação”, trazendo o candidato a presidente, Juscelino Kubitscheck, que seria vitorioso. Mais tarde, da sacada da “Rádio Bahiana de Jequié”, JK acenou para a multidão que se aglomerava na Praça Ruy Barbosa e na Rua Dois de Julho, e fez um discurso saudando o povo de Jequié. Hoje, vejo a importância histórica de ter visto em carne e osso, aqui em nossa cidade, esses famosos vultos da História nacional.
Pois bem, o “campo de aviação” virou “terminal aeroviário”. Pelo bonito nome, parece até coisa de filme de ficção científica. No entanto, a beleza fica só no nome, pois, a importância e a situação física do “terminal” não são compatíveis com o que possa ser chamado de AEROPORTO. A pista hoje é asfaltada, mas o local necessita de mais estrutura e equipamentos modernos para funcionar. Ali, já não pousam aviões comerciais de grande porte, pois, sua pista e instalações não estão adequadas para receber grandes aeronaves. Em épocas de campanha política, de quatro em quatro anos (como sempre), alguns pequenos aviões ou helicópteros pousam ali, trazendo um ou outro candidato a cargos estaduais, demonstrando assim, que Jequié já não tem mais aquela representatividade no interesse do Estado e do País, como tinha nos tempos do velho “campo de aviação”.

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