sábado, 19 de janeiro de 2019

Fedor de Zezinho

                                           Charles Meira
Zezinho dos Laços e sua esposa Francisca Augusta.
No início do mês de agosto do ano de 1944, no arraial de Porto Alegre, na época município de Boa Nova, o dia amanheceu com o tempo muito bom. Poucos estabelecimentos comerciais existentes no local ficavam no centro do povoado. A venda do Sr. Randulfo (apelidado de Duca) era uma delas. O empregado era seu filho Osmar, um jovem de dezenove anos, mas com habilidade, responsabilidade e experiência suficientes para ajudar o seu pai.
Pouco antes das 10h, chegaram três pessoas montadas em belas mulas. Um senhor que aparentava ter seus 50 anos, uma mulher sua esposa e outro homem mais jovem. Estavam trajados com roupas de romeiros, com destino à festa de Bom Jesus da Lapa, que acontece todo ano naquela data.
O senhor de 50 anos cumprimentou Osmar com um bom-dia bastante alegre. Chamou-o de menino e perguntou se no estabelecimento tinha carne de sol e se era boa. A resposta foi afirmativa, contudo estava um pouco ressecada. De onde estava montado, o homem pediu para o jovem trazer a carne para vê-la. Osmar sugeriu que ele descesse da mula e viesse olhar a carne no balcão da venda. O viajante desculpou-se dizendo que não poderia descer porque a mula era brava. Mostrando o morão que ficava em frente à venda, Osmar afirmou ser aquele o local correto para amarrar o animal citado. Mostrando-se nada satisfeito com a resposta dada pelo empregado, o senhor desceu da mula e jogou a rédea por cima da crina do animal.
O romeiro entrou no estabelecimento, verificou a carne, constatou que estava realmente seca, entretanto mandou pesar 2kg e comprou alguns outros alimentos como também tomou uma pinga. Como ficou um troco, ele perguntou a Osmar se sabia pesar o troco em açúcar. O empregado respondeu positivamente e falou: “Cego não bota venda”.
Depois de fazer as compras, o senhor saiu da venda, olhou para o céu e perguntou para Osmar: “Aqui é Porto Alegre?” “Sim, respondeu o Jovem.” O homem continuou perguntando: “Aqui já mataram muita gente?” Osmar disse que era verdade, porém não tinha acontecido no seu tempo, mas a prova estava nas marcas de balas nas portas da venda. Depois de verificar a veracidade do que tinha dito Osmar, o romeiro perguntou novamente: “Aqui ainda existe algum fedor de Zezinho dos Laços?” Depois de ouvir a pergunta do senhor, Osmar saltou o balcão da venda e aproximando-se do homem respondeu afirmativamente e disse que era neto de Zezinho dos Laços. O romeiro ficou todo sem jeito e falou várias vezes: “Muito meu amigo, muito meu amigo, muito meu amigo.” Osmar respondeu ao homem que não acreditava ser ele amigo do seu avo, pois tinha sido muito grosseiro na maneira de se expressar.
O senhor repetiu muito meu amigo outras vezes e depois voltou a perguntar: “De quem você é filho?” Osmar respondeu que era filho de Duca. O homem voltou a pronunciar “muito meu amigo, lembranças para seu Duca,” e rapidamente sem muita conversa montou na mula e saiu do local seguido pelos outros dois viajantes.
          No outro dia, o pai de Osmar chegou de viagem do serviço que fazia de retirada de minério na região das Pombas, que ficava do outro lado do rio de Contas. Osmar contou para seu Duca o ocorrido o que deixou o velho muito revoltado. A pedido da família ele não concretizou o seu intento que era o de perseguir os romeiros.                       

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