domingo, 13 de janeiro de 2019

Bom Baiano

                                                                                  Charles Meira

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 Ás 19h, o Jeep que Osmar e seu motorista viajavam quebrou uma das transmissões, próximo de Eunápolis, cidade da região sul da Bahia, local onde visitaria clientes da empresa de tecidos que representava. Devido o avançado horário e a dificuldade de deslocamento até o município vizinho, tiveram que procurar por perto um local para dormir e no dia seguinte providenciaria o conserto do carro. Depois de saírem da estrada principal e andarem um pouco, avistaram uma claridade, que ao aproximarem, certificaram ser a única casa existente no local. Um senhor de aproximadamente sessenta anos de idade, estava sentado num banco na frente do casebre e dentro sua esposa, demonstrando ser um pouco mais nova. Depois de cumprimentar o casal e saber que ele era baiano e sua esposa mineira, Osmar contou o que havia ocorrido e pediu para eles dormida e comida.  O homem concordou em dar o apoio solicitado, pedindo somente o entendimento deles para a falta de conforto e de alimento na dispensa da sua casa.   Um sorriso largo demonstrou o contentamento parcial de Osmar, pois além da dormida queria também comida para saciar sua fome. Por causa da insistência de Osmar, o senhor mandou a sua nega matar uma galinha e os dois ficaram sentados na cozinha conversando, próximo do fogão a lenha, bebendo uma cachaça feita de vários sabores, especialidade do hospedeiro, aguardado a janta ficar pronta.
O bate-papo foi interrompido, no momento que chegou um homem, vindo de dentro do mato, aparentando ter mais de cinqüenta anos de idade. O desconhecido carregava uma espingarda na mão, na cintura um revolver, um facão, dizendo ser um comprador de madeira e pedindo também dormida e comida.  O dono da casa disse que a morada era pequena, entretanto daria para todos dormirem e de acordo avaliação de Osmar a comida também daria para saciar a fome deles. Enquanto conversavam, a nega serviu a galinha e seu esposo mais uma dose da cachaça. Após o jantar, a conversa continuou no terreiro, local iluminado por uma linda lua cheia. O desconhecido, a última pessoa a chegar ao local, começou a conversa, queixando do seu cansaço e das dificuldades de trabalho encontradas no sul da Bahia. Falou que tudo na Bahia dava errado e estava se sentindo arrependido e culpado de ter vindo para aquela localidade. Em seguida, com ironia passou também a falar mal dos baianos, repetindo várias vezes que na Bahia ninguém prestava. Osmar, um baiano de Porto Alegre distrito de Maracás, se sentiu ofendido e perguntou de que estado o homem estava vindo. Respondeu que procedia de Sergipe. Osmar não aceitou a desmoralização feita aos nossos habitantes, citando o recente exemplo recebido do dono da casa e sugeriu que o homem fosse comprar madeira no seu estado. O Sergipano quis consertar o seu erro, entretanto o hospedeiro concordou com as palavras verdadeiras do seu conterrâneo. A conversa terminou com a afirmação de Osmar, que depois do ocorrido, não confiava no desconhecido e da mineira avisando que as camas estavam arrumadas.
O motorista ficou na sala e no quarto com um fifó numa mesa no meio das camas, Osmar e o comprador de madeira. Quando o baiano do distrito de Porto Alegre apagou o fifó, um pedido do dono da casa, Osmar deitou com a cabeça para o lado onde estavam os pés do homem, colocou o seu revolver em baixo do travesseiro e durante a noite toda, o que um fazia o outro repetia. Ás 5h, o desconhecido levantou, pegou os seus pertences, mandou lembrança para o baiano e foi embora, seguido por Osmar até a porta. No mesmo dia, o motorista foi na cidade vizinha e trouxe um profissional para concertar o Jeep.  Depois de pagar a janta ao conterrâneo, Osmar foi para Eunápolis visitar os clientes da empresa que representava. No retorno, passou na casa do baiano, agradeceu novamente os seus préstimos e recebeu dele um pedido para comprar uma sanfona de oito baixos em Feira de Santana, um sonho ansiado há muito tempo. Em outra ocasião, Osmar presenteou o amigo com o instrumento musical solicitado e sempre que viajava para aquela região, parava para visitá-lo.

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