segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A IMPRENSA DE OUTROS TEMPOS

                                    Carlos Eden Meira
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O ano de 1957 foi para mim, o ano em que pela primeira vez, comecei a me interessar pelo jornalismo. Foi na época em que se realizava em Jequié o II Congresso de Imprensa do Interior, importante evento que movimentou o meio jornalístico local e regional. A Associação Jequieense de Imprensa funcionava numa sala da residência da família Sodré, na Avenida Rio Branco, onde é hoje o edifício Mansão Avenida. Meu pai, Henrique Meira Magalhães era um dos fundadores da entidade, e fazia questão de me levar com ele para conhecer a sede da AJI, e visitar as redações dos jornais. Aos nove anos de idade, para mim, aquelas já antigas impressoras eram coisas novas. Ali eram impressos os jornais que meu pai levava semanalmente para casa.
Circulavam na cidade, naquele ano, vários jornais locais, sendo uns quatro mais importantes. Não citarei nomes para não correr o risco de esquecer alguns. Jequié sempre foi uma cidade bem servida de jornais e revistas, mesmo em épocas anteriores à qual me refiro, conforme já foi citado em artigos e livros por nossos antigos jornalistas e pelos historiadores. Minha participação na imprensa começou no início dos anos setenta, desenhando charges e fazendo tímidos textos para jornais estudantis mimeografados, já que estávamos vivendo uma época de repressão e censura à imprensa.
Naqueles velhos tempos da máquina de escrever e da tipografia, publicar matérias em jornais e revistas dependia de recursos gráficos pouco práticos, com antiquados métodos usados para a composição do texto datilografado, que era copiado pelo funcionário da gráfica através da manipulação de tipos móveis, cujas letras invertidas eram colocadas uma a uma, no equipamento de impressão. Dessa maneira, eram comuns os erros ortográficos ou mesmo gramaticais, e assim, o autor do artigo, muitas vezes tinha de ir à gráfica onde a matéria seria impressa, ficar de olho na “prova” do texto antes da publicação, e fazer uma revisão. Quem assim não fizesse, estava ferrado.
Quando o jornal, revista ou qualquer outro órgão responsável pela publicação, dispunha de um bom revisor, isto não era necessário. O autor podia dormir tranqüilo que o seu texto estava salvo. Naquela época, se não houvesse uma boa revisão, o cidadão tentava elogiar um amigo através de um artigo de jornal e acabava xingando. Comentava-se, por exemplo, que num texto onde o autor dizia de um amigo: - “Fulano, na sua maneira sutil de viver...” – o jornal publicou: - “Fulano, na sua maneira fútil de viver...”
Os dois amigos quase saíram na porrada, por causa desse infeliz erro de imprensa. Um velho jornalista de Jequié querendo homenagear um colega de jornal escreveu: - “Fulano, naquela franqueza que lhe é peculiar...” – foi publicado assim: - “Fulano, naquela fraqueza que lhe é peculiar...” Não brigaram porque sendo os dois velhos jornalistas e amigos, compreendiam tais falhas, mas, para a maioria das pessoas, o erro foi do autor e pronto! Hoje, com a informática, ainda que também se cometam erros, é bem mais fácil redigir e revisar textos, é claro. Tendo colaborado com artigos, cartuns e charges em quase todos os jornais e revistas, além de alguns blogs de Jequié, fico feliz em ter dado minha parcela de contribuição à imprensa, obviamente dentro das minhas limitações.

Este texto foi publicado na “Cotoxó”, em homenagem à revista quando a mesma completava cinco anos, atuando no meio cultural e jornalístico de nossa cidade.

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