Ipiaú - Na luta pela preservação do
Rio das Contas destaca-se o cidadão Valmir Roque dos Santos, popularmente
conhecido pelo apelido de Luquinha. Ele reside na Vila de Japomerim, município
de Itagibá, tem 58 anos, 30 dos quais defendendo o manancial, buscando minimizar
a sujeira que outros homens provocam com a inconsciência de atos resultante de
uma civilização mal educada. Negro, alto, troncudo e musculoso, movendo-se
rapidamente pelo rio, enquanto retira o lixo ali acumulado, colocando a própria
vida em risco, defendendo os peixes e outros animais, nadando, mergulhando em
poços profundos, Luquinha tem algo da mítica figura do Caboclo d'água. Na
região de Ipiaú ele é o guardião do rio. Vem dando continuidade ao trabalho
iniciado pelo Grupo Papamel e bons exemplos a outras entidades e voluntários.
Fundou o grupo “Defensores do Rio” que há varias décadas promove
mutirões de limpeza nas imediações do areão do Arara e tem militantes com
apelidos exóticos: Zé Galinha, Do Jegue, Patchoca, Dió, Zé da Onça e Nen. João
Kleber e Andreia também fazem parte da turma voluntariosa. Atualmente, Luquinha
reforça o Movimento SOS Rio das Contas que reúne entidades ambientalistas de
todo o vale, desde a nascente em Piatã, na Chapada Diamantina, até a foz em
Itacaré, no litoral sul, Costa do Cacau. Também participa das reuniões do
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Contas.
Ao longo dos seus 30 anos de militância ecológica já retirou centenas de
toneladas de lixo das margens e leito do rio. Garrafas pets, pneus, vasos
sanitários, carcaças de geladeiras e televisores, inúmeros resíduos maléficos
ao meio ambiente. Luquinha que tanto luta pela sobrevivência do rio, sobrevive
com ínfimos recursos (talvez um salário mínimo, ou pouco mais) que obtém como
encarregado da medição do nível da água, fazendo leitura diária da máxima
e mínima, assim como do índice pluviométrico. Prestou serviços para a CHESF,
por um longo tempo, e agora exerce a mesma função trabalhando para a empresa
terceirizada CPRN. Já viu o rio bem seco, com 0,87 cm de profundidade, e muito
cheio, transbordando, com mais de oito metros acima do seu nível normal. Viu
espécies nativas da ictiofauna desaparecerem e espécies exóticas povoarem as
águas. Sabe da resistência de algumas e da multiplicação de outras.
Presenciou a chegada das garças, o crescimento do número de capivaras,
lontras, jacarés, tartarugas e sucuiúbas. Se alegra com a permanência das
saracuras, lavandeiras, viuvinha, martins pescador e outros pássaros nativos.
Diz que tem muitos répteis e animais peçonhentos nas margens e ilhas.
Assegura que nesse tempo de convivência com a água nunca sofreu acidente grave
e muito menos contraiu doenças, inclusive a terrível esquistossomose. Seu
amor pelo rio garante esse livramento.
Valmir Roque dos Santos, nascido na região da Nova Alegria, zona rural
de Itagibá, filho do pescador Agenor José dos Santos e da lavadeira Aurelina
Roque dos Santos “Fá”, é patrimônio vivo do Vale do Rio das Contas, com forte
possibilidade de torna-se lendário. Cada ação que promove é uma nova alegria
para bacia hidrográfica. Sua luta estende-se pelos afluentes, nascentes e
demais mananciais. Prestando relevantes serviços à humanidade, em especial aos
ribeirinhos da região, será sempre lembrado como Luquinha, o Caboclo d'água,
Guardião do Rio das Contas. (GIRO/José Américo Castro)
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