segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Luquinha: o caboclo d´água, guardião do Rio das Contas


 

Ipiaú - Na luta pela preservação do Rio das Contas destaca-se o cidadão Valmir Roque dos Santos, popularmente conhecido pelo apelido de Luquinha. Ele reside na Vila de Japomerim, município de Itagibá, tem 58 anos, 30 dos quais defendendo o manancial, buscando minimizar a sujeira que outros homens provocam com a inconsciência de atos resultante de uma civilização mal educada. Negro, alto, troncudo e musculoso, movendo-se rapidamente pelo rio, enquanto retira o lixo ali acumulado, colocando a própria vida em risco, defendendo os peixes e outros animais, nadando, mergulhando em poços profundos, Luquinha tem algo da mítica figura do Caboclo d'água. Na região de Ipiaú ele é o guardião do rio. Vem dando continuidade ao trabalho iniciado pelo Grupo Papamel e bons exemplos a outras entidades e voluntários. 
Fundou o grupo “Defensores do Rio” que há varias décadas promove mutirões de limpeza nas imediações do areão do Arara e tem militantes com apelidos exóticos: Zé Galinha, Do Jegue, Patchoca, Dió, Zé da Onça e Nen. João Kleber e Andreia também fazem parte da turma voluntariosa. Atualmente, Luquinha reforça o Movimento SOS Rio das Contas que reúne entidades ambientalistas de todo o vale, desde a nascente em Piatã, na Chapada Diamantina, até a foz em Itacaré, no litoral sul, Costa do Cacau. Também participa das reuniões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Contas.


Ao longo dos seus 30 anos de militância ecológica já retirou centenas de toneladas de lixo das margens e leito do rio. Garrafas pets, pneus, vasos sanitários, carcaças de geladeiras e televisores, inúmeros resíduos maléficos ao meio ambiente. Luquinha que tanto luta pela sobrevivência do rio, sobrevive com ínfimos recursos (talvez um salário mínimo, ou pouco mais) que obtém como encarregado da medição do nível da água, fazendo leitura  diária da máxima e mínima, assim como do índice pluviométrico. Prestou serviços para a CHESF, por um longo tempo, e agora exerce a mesma função trabalhando para a empresa terceirizada CPRN. Já viu o rio bem seco, com 0,87 cm de profundidade, e muito cheio, transbordando, com mais de oito metros acima do seu nível normal. Viu espécies nativas da ictiofauna desaparecerem e espécies exóticas povoarem as águas. Sabe da resistência de algumas e da multiplicação de outras. 
Presenciou a chegada das garças, o crescimento do número de capivaras, lontras, jacarés, tartarugas e sucuiúbas. Se alegra com a permanência das saracuras, lavandeiras, viuvinha, martins pescador e outros pássaros nativos. Diz que tem muitos répteis e  animais peçonhentos nas margens e ilhas. Assegura que nesse tempo de convivência com a água nunca sofreu acidente grave e muito menos contraiu doenças, inclusive a  terrível esquistossomose. Seu amor pelo rio garante esse livramento.


Valmir Roque dos Santos, nascido na região da Nova Alegria, zona rural de Itagibá, filho do pescador Agenor José dos Santos e da lavadeira Aurelina Roque dos Santos “Fá”, é patrimônio vivo do Vale do Rio das Contas, com forte possibilidade de torna-se lendário. Cada ação que promove é uma nova alegria para bacia hidrográfica. Sua luta estende-se pelos afluentes, nascentes e demais mananciais. Prestando relevantes serviços à humanidade, em especial aos ribeirinhos da região, será  sempre lembrado como Luquinha, o Caboclo d'água, Guardião do Rio das Contas. (GIRO/José Américo Castro)

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