Carlos Eden Meira
Antes
e depois da sessão, havia uma verdadeira “bolsa de valores” de gibis,
(histórias em quadrinhos - HQ) nas portas dos cinemas, onde a garotada vendia e
trocava revistinhas de HQ, as quais nas décadas de 50 e 60 eram como se fossem
um tipo de “cinema portátil”, pois, muitas delas reproduziam os filmes da
época, estampando em suas capas e páginas, desenhos ou fotos dos ídolos da
galera. A televisão ainda não havia chegado por aqui, então o gibi é que era o
nosso “cinema em casa”, e, não era nada fácil adquiri-lo, pois, nem sempre
tínhamos dinheiro disponível para comprar, além de haver uma severa vigilância
de pais e professores, que consideravam os gibis uma espécie de “má companhia”,
para os meninos, motivada por uma campanha desencadeada nos EUA nos anos 50,
pelo livro “A Sedução dos Inocentes”, do alemão Fredric Wertham, traduzido no
Brasil pelo jornalista Carlos Lacerda, na revista “Seleções”.
Gibis
de cowboys e super-heróis eram sempre os mais valorizados, devido
principalmente aos seriados cinematográficos, cujos heróis eram os mesmos dos
gibis. Os seriados eram produções em preto e branco, dos anos 30 ou 40,
divididos em episódios que eram exibidos após o principal filme, das matinês de
domingo. Para a maioria da turminha, pouco importava qual filme estivesse
passando na matinê, desde que o seriado fosse um daqueles, com seus heróis
preferidos. Se o filme fosse do mesmo nível, aí o cinema se tornava pequeno
para comportar a multidão de garotos a assoviar e gritar durante toda a sessão.
Muitos conseguiam seus ingressos, vendendo gibis na porta do cinema.
Numa
época em que não havia TV, DVD, videogames ou internet, a emoção de uma sessão
de cinema era simplesmente mágica. Ao apagar das luzes, surgiam na tela as
imagens de ídolos dos quais, só se conheciam as vozes no rádio, ou as fotos em
jornais e revistas. Era emocionante ouvir e ver nas chamadas “chanchadas da
Atlântida”, os cantores e cantoras da Música Popular Brasileira, ali na tela
cantando os sucessos da época, inclusive as marchinhas de carnaval mais tocadas
no momento. Ou os musicais norte-americanos, onde se viam as grandes orquestras
de jazz e seus vocalistas famosos, muitos dos quais eram também atores e
atrizes importantes. Havia ainda a magia dos desenhos animados coloridos, que
impressionaram gerações de cartunistas, o realismo do cinema francês e italiano
que influenciaram cineastas e intelectuais brasileiros, surgindo daí o “Cinema
Novo”.
Hoje
em dia, a mídia televisiva nos bombardeia diariamente com imagens diversas,
tirando assim todo o glamour que a imagem cinematográfica nos proporcionava nos
áureos tempos da sétima arte. Tenta-se hoje, em salas de exibição nos shopping
centers, recuperar o velho prestígio do cinema, através de superproduções
recheadas de efeitos especiais, porém, apesar de algumas produções dignas de
nota, a magia do cinema nunca mais será a mesma. Os bons gibis praticamente
desapareceram das bancas de revista. São hoje publicados em formato de livro ou
álbuns caros, ocupando um novo espaço em livrarias. Tornaram-se publicações
sofisticadas, com trabalhos gráficos de alto nível como as chamadas “graphic
novels”, produzidas por grandes nomes das histórias em quadrinhos nacionais e
internacionais, publicando inclusive, clássicos da literatura.
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