segunda-feira, 15 de outubro de 2018

A ANTIGA MAGIA DO CINEMA E DA “HQ”


                                                      Carlos Eden Meira
Antes e depois da sessão, havia uma verdadeira “bolsa de valores” de gibis, (histórias em quadrinhos - HQ) nas portas dos cinemas, onde a garotada vendia e trocava revistinhas de HQ, as quais nas décadas de 50 e 60 eram como se fossem um tipo de “cinema portátil”, pois, muitas delas reproduziam os filmes da época, estampando em suas capas e páginas, desenhos ou fotos dos ídolos da galera. A televisão ainda não havia chegado por aqui, então o gibi é que era o nosso “cinema em casa”, e, não era nada fácil adquiri-lo, pois, nem sempre tínhamos dinheiro disponível para comprar, além de haver uma severa vigilância de pais e professores, que consideravam os gibis uma espécie de “má companhia”, para os meninos, motivada por uma campanha desencadeada nos EUA nos anos 50, pelo livro “A Sedução dos Inocentes”, do alemão Fredric Wertham, traduzido no Brasil pelo jornalista Carlos Lacerda, na revista “Seleções”.
Gibis de cowboys e super-heróis eram sempre os mais valorizados, devido principalmente aos seriados cinematográficos, cujos heróis eram os mesmos dos gibis. Os seriados eram produções em preto e branco, dos anos 30 ou 40, divididos em episódios que eram exibidos após o principal filme, das matinês de domingo. Para a maioria da turminha, pouco importava qual filme estivesse passando na matinê, desde que o seriado fosse um daqueles, com seus heróis preferidos. Se o filme fosse do mesmo nível, aí o cinema se tornava pequeno para comportar a multidão de garotos a assoviar e gritar durante toda a sessão. Muitos conseguiam seus ingressos, vendendo gibis na porta do cinema.
Numa época em que não havia TV, DVD, videogames ou internet, a emoção de uma sessão de cinema era simplesmente mágica. Ao apagar das luzes, surgiam na tela as imagens de ídolos dos quais, só se conheciam as vozes no rádio, ou as fotos em jornais e revistas. Era emocionante ouvir e ver nas chamadas “chanchadas da Atlântida”, os cantores e cantoras da Música Popular Brasileira, ali na tela cantando os sucessos da época, inclusive as marchinhas de carnaval mais tocadas no momento. Ou os musicais norte-americanos, onde se viam as grandes orquestras de jazz e seus vocalistas famosos, muitos dos quais eram também atores e atrizes importantes. Havia ainda a magia dos desenhos animados coloridos, que impressionaram gerações de cartunistas, o realismo do cinema francês e italiano que influenciaram cineastas e intelectuais brasileiros, surgindo daí o “Cinema Novo”.
Hoje em dia, a mídia televisiva nos bombardeia diariamente com imagens diversas, tirando assim todo o glamour que a imagem cinematográfica nos proporcionava nos áureos tempos da sétima arte. Tenta-se hoje, em salas de exibição nos shopping centers, recuperar o velho prestígio do cinema, através de superproduções recheadas de efeitos especiais, porém, apesar de algumas produções dignas de nota, a magia do cinema nunca mais será a mesma. Os bons gibis praticamente desapareceram das bancas de revista. São hoje publicados em formato de livro ou álbuns caros, ocupando um novo espaço em livrarias. Tornaram-se publicações sofisticadas, com trabalhos gráficos de alto nível como as chamadas “graphic novels”, produzidas por grandes nomes das histórias em quadrinhos nacionais e internacionais, publicando inclusive, clássicos da literatura.


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