Carlos Éden Meira
Pantaleão
Pereira Peixoto, o personagem mentiroso que era interpretado na TV por Chico
Anysio, creio que tenha sido inspirado por outro personagem mentiroso, criado
por Graciliano Ramos no seu livro “Alexandre e Outros Heróis”, o qual como
Pantaleão era também caolho. Tivemos o nosso Alexandre ou Pantaleão, que sempre
povoava as conversas de contadores de “causos”, nas reuniões da nossa turma,
nas chamadas horas de “jogar conversa fora”. Só que este personagem era real,
morava em nossa rua e era conhecido como Dag.
Felizmente
não era caolho, senão ia ser coincidência demais. Era caçador de fim de semana,
e dessas caçadas é que saiam as incríveis histórias que diziam terem sido
contadas pelo Dag. Uma das melhores é a história da onça pintada, que andava
metendo medo aos caçadores de certa localidade rural da zona da mata, tida na
época como rica em animais prediletos dos caçadores: perdizes, codornas,
cotias, pacas, tatus, etc. Dag teria então, posto em prática uma estratégia
para dar cabo da tal pintada que, segundo contam, seria o seguinte: estando a
onça descansando de barriga cheia, após haver almoçado algum animal das
redondezas, Dag se aproximou da bichana silenciosamente, pé ante pé, portando
um grande prego desses usados pelos carpinteiros para pregar “ripões”, um
martelo, um chicote e um facão.
Com o
martelo, Dag fixou rapidamente no chão o rabo do felino, usando o tal prego. A
onça despertando surpreendida tentou saltar, mas, o rabo estava pregado e Dag
pulou na frente do animal, fazendo com o facão, um talho em cruz na testa do
bicho. A onça desesperada e enraivecida tentava alcançar Dag que dando a volta,
sacou o chicote e aplicou uma terrível surra na pintada, que em desespero total
tentando escapar, fugiu espetacularmente pelo talho aberto na testa, deixando o
couro inteirinho pregado no chão.
Dag
tranqüilamente retirou o prego, apanhou o couro da pintada e levou como troféu
para casa. Pensam que a história acaba assim? Enganam-se! Na primeira noite de
inverno daquele ano, estando Dag confortavelmente arranchado na casa de um
sítio, nas imediações do local onde havia surrado a tal pintada, ouviu um ruído
na porta da rua como se alguém arranhasse a madeira com as unhas.
Assustado,
Dag aproximou-se da porta e perguntou:
- Quem
está ai?
-
S-Sou e-eu seu Dag! – respondeu a onça esfolada – Me dá meu couro, seu Dag, que
eu tô morrendo de f-frio!
E tem
também, a do relógio. Numa de suas caçadas, Dag resolveu tomar um banho de
riacho para se refrescar do calor, tendo o cuidado de tirar o relógio de pulso
e pendurá-lo no galho de um pequeno arbusto, ali pela margem do riacho. Depois
do banho, Dag se vestiu, apanhou seus apetrechos de caçador e foi para casa.
Ao
chegar, notou que havia esquecido o relógio pendurado no arbusto lá no mato,
mas, como não era uma coisa de grande valor, deixou pra lá. Muitos anos depois,
tendo voltado ao mesmo local, Dag lembrou-se do relógio, e, dirigiu-se ao lugar
onde deveria estar o arbusto, que havia agora se transformado numa grande
árvore de onde vinha um ruído familiar. Olhando para cima, Dag viu pendurado
num dos galhos mais altos da árvore, o seu velho relógio, fazendo o que deve
fazer todo bom relógio que se preza: trabalhando. Tic, tac, tic, tac... (Carlos Éden Meira)
Maravilhoso o texto de Carlos Eden!
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