segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Velhos Tempos

                         J. B. Pessoa

Se eu pudesse viajar pelo tempo, por uma daquelas maquinas que a fértil imaginação dos escritores criou, certamente eu iria visitar a década de cinqüenta e suavizar a doce saudade que me persegue dos famosos anos dourados. Pausaria na minha bela Cidade Sol e iria deliciar-me com o dia de domingo daquela época maravilhosa. Porém, eu queria chegar como uma criança. Uma que não queria crescer e ser igualzinho ao Peter Pan, tendo também a minha fadinha Sininho e, se possível, uma bela Wendy, que a minha imaginação platônica cristalizou em uma saudosa menina, hoje uma singela avó. Iria encontrar com as crianças de outrora, saudosos amigos, que o tempo e o destino encarregaram de separar dos nossos convívios e, juntos, na nossa condição infantil, fazer traquinagens, assaltar pomares alheios, pirraçar doidos, brincar de caubói, jogar bola e tomar banho nas cristalinas águas do Rio das Contas.
Despertaria pela manhã, bem cedinho, e iria à missa das sete, rezada pelo saudoso Padre Climério. Logo após, encontraria com a meninada nas escadarias do Grupo Escolar Castro Alves, com o dilema de sempre: O que fazer naquela manhã com tantas opções de lazer?!... Ir à matinal do Cine Bonfim, “O Pequeno Cinema dos Grandes Filmes” e assistir ao festival de desenhos animados, acompanhados das comédias do cinema mudo? Ir ao Teatro da Casa Paroquial, hoje destruído, e ver uma peça infantil, interpretada pelos jovens atores da cidade, ou assistir ao programa de auditório “O Tabuleiro da Baiana”, realizado no Cine Teatro Jequié e transmitido aos lares jequieenses pela saudosa Rádio Baiana de Jequié? Ah, sim: Tinha também os famosos piqueniques na Fazenda Provisão, com sua piscina de águas naturais e transparentes e as famosas peladas no areão do rio.
Bons tempos!... E a tarde?!... Depois de um delicioso almoço domingueiro, eu iria a uma daquelas matinês, que os dois cinemas apresentavam todas as semanas, com filmes de faroestes, acompanhados dos famosos seriados, com sua “volta na próxima”. Negociaria minhas revistas em quadrinhos com a garotada da época nas portas dos cinemas, depois de ter assistido a um filme de Durango Kid ou um de Tim Holt, acompanhado de um seriado, tipo “O Látego Negro” ou “A Mulher Tigre”. Depois, no cair da tarde, iria a Praça Ruy Barbosa e brincaria no parque infantil ou na pista de patins, junto ao “Colarinho Saback”, próximo ao belo jardim, de estilo clássico; patrimônios jequieenses, que o equívoco dos modernosos destruiu. Mais tarde iria tomar um sorvete na Confeitaria Cristal, vendo a molecada fazer estripulias, abusando o vigia do parque com seu macaco de estimação. Depois cansado das brincadeiras, eu iria para o meu lar e abraçaria meus pais e, depois de uma soberba ceia, dormiria sonhando com o porvir. Ah!... Como não existe uma maquina do tempo e o que se foi não voltará!... Jamais! Passo o dia de domingo num boteco qualquer, enchendo a cara de uísque, sonhando com os velhos e bons tempos. (J. B. Pessoa) (Texto publicado na revista “O Trabróide”) 

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