“Laura!
O que é da rosa dos teus cabelos? Laura! O que é do sorriso teu?” Assim dizia
uma canção de outrora e assim revejo aquela linda garota, de dezoito anos,
alta, de pernas roliças, busto generoso e porte perfeito. Era a moça mais
bonita da cidade e, disso, todos concordavam. Não usava maquiagem, pois não
necessitava desses subterfúgios. Sua pele era de uma alvura rosada, que
combinava com seus cabelos louros e olhos azuis! O nariz era regular e bem
desenhado! E a sua boca?! Ah! A sua boca! Os lábios, naturalmente rubros,
pareciam convidar-me para um delicioso beijo! “Oh! Diga-me, diga-me! Quando dos
teus lábios poderei sugar o mel dos céus?!” Diz um belo poema e assim dizia meu
coração, naquela juventude ávida de amor. “O tempo que passou, não conseguiu
apagar um grande amor, que insisto em recordar”, outra canção antiga, que
penetra em meus ouvidos, trazendo de volta a sua imagem, transportando-me aos
velhos dias!... Dias maravilhosos!... Dias de antigamente.
Laura
era uma jovem recatada. Tinha a vaidade natural das moças casadoiras de sua
época. Era alegre e delicada. Costurava seus próprios vestidos, o que lhe dava
uma elegância discreta. Para desgosto de seus admiradores, nunca quis
participar de nenhum concurso de beleza e só conseguiam vê-la em trajes
menores, quando fazia educação física em seu colégio. A roupa mais ousada que
ela usou foi a farda da escola normal, que consistia em um terno azul, de saia
justa, que realçava, generosamente, suas curvas prodigiosas! “Minha linda
normalista, meu coração palpita, estou perdido de amor”, dizia um sucesso da
época e eu, em minha imaginação juvenil, enlevava-me em solitários devaneios!
Laura
ia sempre aos domingos à missa vespertina na igreja matriz e, ao cair da tarde,
quando ela passeava pelo jardim da praça era um verdadeiro júbilo para os
presentes. Sua altivez e deslumbramento chamavam a atenção das pessoas, sendo
admirada e cortejada pelos rapazes da época. Os pedidos de namoro foram muitos
e nenhum deles conseguiu a graça de tê-la como namorada. Ela afirmava aos
pretendentes, que só ia pensar em romance, quando fosse diplomada em medicina.
Quanto
a mim, eu a amava com uma suave paixão! Era minha protetora, a minha melhor
amiga. Ela nutria uma afeição toda especial por mim! Dizia que eu era o seu
namorado e, acariciando o meu rosto, entoava uma sugestiva canção: “Baby
Face!... Este rostinho lindo, Baby Face!... Parece ingênuo, mas não é isso
não!... Baby Face!... Que eu encontrei sorrindo e me deixou sonhando, Baby
Face! E esse modo de olhar assim pra mim! Faz-me acreditar que você sabe
amar!... Mentindo, Baby Face!”
Eu só
tinha treze anos!
Que
pena!
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