segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Laura

                                                                 J. B. Pessoa

“Laura! O que é da rosa dos teus cabelos? Laura! O que é do sorriso teu?” Assim dizia uma canção de outrora e assim revejo aquela linda garota, de dezoito anos, alta, de pernas roliças, busto generoso e porte perfeito. Era a moça mais bonita da cidade e, disso, todos concordavam. Não usava maquiagem, pois não necessitava desses subterfúgios. Sua pele era de uma alvura rosada, que combinava com seus cabelos louros e olhos azuis! O nariz era regular e bem desenhado! E a sua boca?! Ah! A sua boca! Os lábios, naturalmente rubros, pareciam convidar-me para um delicioso beijo! “Oh! Diga-me, diga-me! Quando dos teus lábios poderei sugar o mel dos céus?!” Diz um belo poema e assim dizia meu coração, naquela juventude ávida de amor. “O tempo que passou, não conseguiu apagar um grande amor, que insisto em recordar”, outra canção antiga, que penetra em meus ouvidos, trazendo de volta a sua imagem, transportando-me aos velhos dias!... Dias maravilhosos!... Dias de antigamente.
Laura era uma jovem recatada. Tinha a vaidade natural das moças casadoiras de sua época. Era alegre e delicada. Costurava seus próprios vestidos, o que lhe dava uma elegância discreta. Para desgosto de seus admiradores, nunca quis participar de nenhum concurso de beleza e só conseguiam vê-la em trajes menores, quando fazia educação física em seu colégio. A roupa mais ousada que ela usou foi a farda da escola normal, que consistia em um terno azul, de saia justa, que realçava, generosamente, suas curvas prodigiosas! “Minha linda normalista, meu coração palpita, estou perdido de amor”, dizia um sucesso da época e eu, em minha imaginação juvenil, enlevava-me em solitários devaneios!
Laura ia sempre aos domingos à missa vespertina na igreja matriz e, ao cair da tarde, quando ela passeava pelo jardim da praça era um verdadeiro júbilo para os presentes. Sua altivez e deslumbramento chamavam a atenção das pessoas, sendo admirada e cortejada pelos rapazes da época. Os pedidos de namoro foram muitos e nenhum deles conseguiu a graça de tê-la como namorada. Ela afirmava aos pretendentes, que só ia pensar em romance, quando fosse diplomada em medicina.
Quanto a mim, eu a amava com uma suave paixão! Era minha protetora, a minha melhor amiga. Ela nutria uma afeição toda especial por mim! Dizia que eu era o seu namorado e, acariciando o meu rosto, entoava uma sugestiva canção: “Baby Face!... Este rostinho lindo, Baby Face!... Parece ingênuo, mas não é isso não!... Baby Face!... Que eu encontrei sorrindo e me deixou sonhando, Baby Face! E esse modo de olhar assim pra mim! Faz-me acreditar que você sabe amar!... Mentindo, Baby Face!”
Eu só tinha treze anos!
Que pena!
(publicado no jornal Livre Arbítrio) J. B. Pessoa.

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