quinta-feira, 5 de julho de 2018

UM REMÉDIO BOM PARA O JUIZO


Carlos Eden Meira


A conversa era em cima do viaduto, ali na ponte. Conversavam o meu amigo Quinho e um nosso vizinho Valter Paixão, pessoa de “juízo fraco”, como diziam os mais velhos na época. Tinha mania de grandeza, dizia ser vendedor de gado, dono de todas as casas da rua, cujo “aluguel”, saía cobrando de porta em porta. Eu escutava o divertido diálogo, uma conversa maluca a respeito de remédios diversos, onde rolavam uns tais de “chá de boro” ou “chá de calor de figo” os quais Quinho na maior “seriedade”, receitava a Valter, para moléstias variadas.
No calor do diálogo, Valter citou Vick Vaporub como seu remédio preferido. Valter Paixão foi rapaz nos anos 40, quando os norte-americanos “bombardeavam” o resto do mundo com suas propagandas de produtos diversos através dos meios de comunicação da época, o rádio reinava absoluto, e Valter deve ter sido também, uma vítima dessa “lavagem cerebral” da mídia norte-americana, daquele tempo. Eu só para confundir e entrar no clima do papo, perguntei:
-E Toddy, Valter?
 A resposta veio em forma de uma conversa interessante, que ficou “célebre” no meio da turma do viaduto:
- Olha praí, Joaquim (era como Valter chamava o Quinho, cujo nome é Valdeck) – eu tô falando de Vick Vaporub, “um remédio bom pro juízo”, e lá vem esse cara com Toddy!
Fiquei com a “cara mexendo e o zói rodando”, pois, na tentativa de confundir a conversa só de gozação para ouvir uma das respostas piradas de Valter, acabei ouvindo uma resposta pirada sim, porém, à altura da minha tola interferência. Ainda assim, não dei o braço a torcer e quando o assunto ainda sobre remédios continuou, tornei a interferir:
-E futebol, Valter?
-Futebol? Olha praí, Joaquim! – Disse Valter, indignado. - Esse homem tá com o pensamento “fora do litoral”!  - Depois, dirigindo-se a mim, Valter esbravejou:
-Rapaz, você hoje tá com uma “conversa corna”!
Fiquei ali, com um sorriso amarelo, imaginando o que seria “uma conversa corna”, enquanto Valter resmungava e Quinho caia na gargalhada, curtindo com a minha cara. Daí me ficou uma lição, na qual aprendi que muitas vezes, aqueles a quem julgamos loucos são à sua maneira, originais e interessantes. Podem ser também, mais inteligentes do que pensamos, e, talvez mais equilibrados do que muita gente idiotizada, psicopatas que andam por aí ocupando cargos importantes, quase sempre alcançados por meios duvidosos, se achando geniais, numa insana vaidade, sem um pingo de senso de ridículo.
Um remédio bom pro juízo, vergonha na cara, por exemplo, (é claro que não seria o Vick Vaporub de Valter Paixão), é o que deveria ser receitado também para essas pessoas “desajuizadas”, que teimam em continuar apoiando e elegendo políticos retrógrados, que nada farão para mudar nossa realidade social, e que vêm pra cima da gente todo ano de eleição, com uma “conversa corna”, como diria o saudoso Valter.  Estão todos completamente “fora do litoral”!

2 comentários:

  1. Neste ano de eleições vamos nos situar dentro do"litoral" e evitar eleger os políticos de "conversa corna"! J. B. Pessoa.

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  2. A ideia é essa. Abaixo as "conversas cornas"!

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