quinta-feira, 21 de junho de 2018

O PORRETE ATRÁS DA PORTA

Resultado de imagem para carlos eden
 Carlos Eden Meira

Houve um tempo, em que os estabelecimentos comerciais nas pequenas cidades do interior eram as chamadas vendas, lugares onde era vendido todo tipo de mercadoria. Nas vendas, comprava-se da carne seca salgada, ao querosene usado para abastecer os candeeiros que iluminavam a maioria das casas, já que a luz elétrica fornecida pela prefeitura, gerada por um motor a óleo, era desligada às dez horas da noite. Nas vendas, reuniam-se ao cair da tarde, os trabalhadores que antes de retornarem às suas casas, ali passavam para um bate-papo e tomar um “rabo de galo”, aperitivo composto de uma dose de vermute “ferrado” (misturado) com cachaça. Nos anos 50, ainda não havia por aqui os supermercados, e era nas vendas que a maioria da população comprava grande parte das mercadorias. Alguns desses pequenos pontos comerciais hoje ainda existem, porém, com o nome de mercadinhos ou barzinhos.
Lembro-me de que em quase todas as vendas que conheci, havia um grande pedaço de madeira, um “porrete” guardado atrás da porta, o que certa vez, despertou minha curiosidade, tendo perguntado ao proprietário de uma “vendinha” que havia em frente à casa de minha avó, para que servia aquele pedaço de pau, ali guardado. “Aquilo é madeira de dar em doido”, respondeu ele. Ora, numa época em que nas cidades do interior, ainda não era nem imaginada a existência de albergues, asilos, hospícios ou de quaisquer entidades semelhantes, a permanência de doentes mentais, muitos deles violentos, perambulando pelas ruas, era constante. E era principalmente nas vendas que eles iam pedir pão, farinha ou água.
Os mais calmos, quando não eram atendidos, respondiam com um resmungo qualquer, e saiam. Entretanto, havia os violentos que reagiam furiosamente, quando o sovina dono da venda ou o balconista, não lhes davam o que pediam. Aí, vinha o “tratamento de choque”, efetuado através da tal madeira guardada atrás da porta, que era imediatamente aplicada no “impaciente”, o qual cuidava de cair fora, já que ele podia ser doido, mas, não era besta. Isto era visto com a maior naturalidade por muita gente, naquela época. Hoje em dia, felizmente, foram criadas entidades com a função específica de dar assistência às pessoas com distúrbios mentais, inclusive medicamentos e tratamentos modernos, que deveriam estar disponíveis nos órgãos públicos de saúde. No entanto, com o crescimento cada vez maior de desesperados usuários de drogas pesadas, as pessoas estão agora sendo assaltadas nas portas de suas casas, ou em seus estabelecimentos comerciais. Algumas são até baleadas durante os assaltos. O velho “porrete atrás da porta”, já não serve como instrumento de defesa. Não pode competir com um revólver. (Carlos Eden Meira)


Um comentário: