Carlos Eden Meira |
Houve um tempo, em que os estabelecimentos comerciais nas pequenas cidades do interior eram as chamadas vendas, lugares onde era vendido todo tipo de mercadoria. Nas vendas, comprava-se da carne seca salgada, ao querosene usado para abastecer os candeeiros que iluminavam a maioria das casas, já que a luz elétrica fornecida pela prefeitura, gerada por um motor a óleo, era desligada às dez horas da noite. Nas vendas, reuniam-se ao cair da tarde, os trabalhadores que antes de retornarem às suas casas, ali passavam para um bate-papo e tomar um “rabo de galo”, aperitivo composto de uma dose de vermute “ferrado” (misturado) com cachaça. Nos anos 50, ainda não havia por aqui os supermercados, e era nas vendas que a maioria da população comprava grande parte das mercadorias. Alguns desses pequenos pontos comerciais hoje ainda existem, porém, com o nome de mercadinhos ou barzinhos.
Lembro-me de que em quase todas
as vendas que conheci, havia um grande pedaço de madeira, um “porrete” guardado
atrás da porta, o que certa vez, despertou minha curiosidade, tendo perguntado
ao proprietário de uma “vendinha” que havia em frente à casa de minha avó, para
que servia aquele pedaço de pau, ali guardado. “Aquilo é madeira de dar em
doido”, respondeu ele. Ora, numa época em que nas cidades do interior, ainda
não era nem imaginada a existência de albergues, asilos, hospícios ou de
quaisquer entidades semelhantes, a permanência de doentes mentais, muitos deles
violentos, perambulando pelas ruas, era constante. E era principalmente nas
vendas que eles iam pedir pão, farinha ou água.
Os mais calmos, quando não eram
atendidos, respondiam com um resmungo qualquer, e saiam. Entretanto, havia os
violentos que reagiam furiosamente, quando o sovina dono da venda ou o
balconista, não lhes davam o que pediam. Aí, vinha o “tratamento de choque”,
efetuado através da tal madeira guardada atrás da porta, que era imediatamente
aplicada no “impaciente”, o qual cuidava de cair fora, já que ele podia ser
doido, mas, não era besta. Isto era visto com a maior naturalidade por muita
gente, naquela época. Hoje em dia, felizmente, foram criadas entidades com a
função específica de dar assistência às pessoas com distúrbios mentais,
inclusive medicamentos e tratamentos modernos, que deveriam estar disponíveis nos
órgãos públicos de saúde. No entanto, com o crescimento cada vez maior de
desesperados usuários de drogas pesadas, as pessoas estão agora sendo
assaltadas nas portas de suas casas, ou em seus estabelecimentos comerciais.
Algumas são até baleadas durante os assaltos. O velho “porrete atrás da porta”,
já não serve como instrumento de defesa. Não pode competir com um revólver. ( Carlos Eden Meira)
Adorei o texto de Eden! Parabéns
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