Moisés Elpídio de Almeida Neto (Moga Neto) |
Ela surgiu em minha
vida sem o sentir, aos 3 anos de idade. Apareceu simplesmente sem eu saber quem
era, donde viera – minha babá.
Era negra. Com os olhos
amarronzados e a beleza física não era um dos seus atributos – cabelos cheios
de papelotes, alta magra, falava o suficiente com o pessoal de casa – para mim
era dengo só.
Seu colo magro era o
lugar predileto do meu aconchego, seus bolinhos chamados “suspiros” e banana
doce secada no telhado baixo da cozinha, eram os meus quitutes preferidos. Suas
cantigas lá do sertão acalentavam meus cochilos à tarde. Ensinou-me a ler as
primeiras palavras – A TARDE, jornal ainda existente na Bahia.
Não me lembro de ter me
separado dela em nenhum momento. Quando queriam me bater (eu era muito
traquino) era atrás das suas saias que eu me escondia.
Fumava cachimbo e
mascava fumo de corda, costume da sua terra... Certo dia ela fugiu de casa à
noite, não sei lembrar o motivo, caiu no rio Umburanas e a solidariedade dos
vizinhos a trouxeram de volta. Minha última lembrança daquele ser maravilhoso
(para mim), que tanto queria e a minha tenra idade, não me deixava saber, foi
meu pai (Médico) lhe aplicando uma injeção nas suas coxas magras.
Ela saiu da minha vida
sob o silencio de uma madrugada qualquer. Procurei- a e não a encontrei – se
foi como chegou. Inexplicável para os meus 6 e 7 anos de idade. Hoje, 72 anos
ainda sinto em alguma parte do meu coração, a sua presença quase tangível.
Sinhá Hermínia, que eu
chamava de Mim mim, nunca me apareceu em sonhos – portanto peço que ao menos
uma vez apareça uma noite Mim mim para ouvir a sua voz, sentir seus cafunés,
para matar a minha saudade.
Vem Mim mim, vem...
Moga Neto
28/02/2012.
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