quinta-feira, 11 de maio de 2017

Sinhá Hermínia

                                                                                  Se todas as babás fossem como ela.   

Moisés Elpídio de Almeida Neto (Moga Neto)
                                                 
Ela surgiu em minha vida sem o sentir, aos 3 anos de idade. Apareceu simplesmente sem eu saber quem era, donde viera – minha babá.
Era negra. Com os olhos amarronzados e a beleza física não era um dos seus atributos – cabelos cheios de papelotes, alta magra, falava o suficiente com o pessoal de casa – para mim era dengo só.
Seu colo magro era o lugar predileto do meu aconchego, seus bolinhos chamados “suspiros” e banana doce secada no telhado baixo da cozinha, eram os meus quitutes preferidos. Suas cantigas lá do sertão acalentavam meus cochilos à tarde. Ensinou-me a ler as primeiras palavras – A TARDE, jornal ainda existente na Bahia.
Não me lembro de ter me separado dela em nenhum momento. Quando queriam me bater (eu era muito traquino) era atrás das suas saias que eu me escondia.
Fumava cachimbo e mascava fumo de corda, costume da sua terra... Certo dia ela fugiu de casa à noite, não sei lembrar o motivo, caiu no rio Umburanas e a solidariedade dos vizinhos a trouxeram de volta. Minha última lembrança daquele ser maravilhoso (para mim), que tanto queria e a minha tenra idade, não me deixava saber, foi meu pai (Médico) lhe aplicando uma injeção nas suas coxas magras.
Ela saiu da minha vida sob o silencio de uma madrugada qualquer. Procurei- a e não a encontrei – se foi como chegou. Inexplicável para os meus 6 e 7 anos de idade. Hoje, 72 anos ainda sinto em alguma parte do meu coração, a sua presença quase tangível.
Sinhá Hermínia, que eu chamava de Mim mim, nunca me apareceu em sonhos – portanto peço que ao menos uma vez apareça uma noite Mim mim para ouvir a sua voz, sentir seus cafunés, para matar a minha saudade.

Vem Mim mim, vem...

Moga Neto
28/02/2012.




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